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O que psicólogos mais têm ouvido em consultório durante a pandemia de COVID-19

Publicado 16 Jul 2020 – 03:07 PM EDT | Atualizado 16 Jul 2020 – 03:07 PM EDT
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Durante a quarentena ocasionada pela pandemia de COVID-19, diversas pessoas começaram a se ver cada vez mais aflitas e ansiosas diante das incertezas deste cenário, e elas definitivamente não formam um grupo pequeno. De acordo com psicólogas e levantamentos, queixas relacionadas à saúde mental neste período aumentaram muito – e algumas delas são mais frequentes que outras.

Queixas mais comuns na pandemia

De acordo com as psicólogas Daniela Generoso, Marina Prado Franco e Alessandra Augusto, a impossibilidade de sair de casa, a distância de pessoas queridas, os medos ocasionados pela pandemia, as frustrações por planos desfeitos e a imposição súbita de uma nova rotina foram fatores responsáveis por intensificar ou criar, especialmente, os seguintes problemas:

1. Ansiedade

De longe, a ansiedade – seja o sentimento natural do ser humano ou o distúrbio de ansiedade acompanhado de sintomas físicos e crises frequentes – tem sido uma das queixas mais frequentes por parte das pessoas de forma geral, e tanto levantamentos quanto as especialistas comprovam que isso se intensificou um bocado desde que a COVID-19 tomou e parou o mundo.

Isso porque, segundo Marina, as características do momento atual unem uma série de gatilhos deste sentimento. “Há uma agonia pela questão da incerteza, de não saber quando tudo isso vai passar”, afirma ela, citando também situações como o medo de adoecer, temor pela possibilidade de perder alguém querido, inquietude em relação ao universo do trabalho, sensação de desamparo devido à crise política, entre outros.

As alterações no ritmo da vida, segundo Alessandra, também têm parte nisso. “Quando começamos o isolamento, a quarentena, foi tudo muito novo. A sensação era a de que estávamos em um ritmo muito acelerado e que foi preciso frear, mas a gente tinha muita vontade que desse muito certo. Assim, fomos nos adaptando, e agora temos que retornar às nossas atividades”, diz ela, afirmando que isso gera muita ansiedade.

Segundo Daniela, outro grande gatilho para a ansiedade é o contato ilimitado com notícias – especialmente em um momento em que a maioria delas é ruim. Em meio ao momento atual, é natural que as pessoas queiram se manter informadas para garantir algum controle sobre a situação, mas o excesso de informações negativas na televisão e internet pode gerar o efeito oposto.

Como lidar com a ansiedade?

Quanto a isso, as três psicólogas dão dicas práticas de como contornar minimamente a situação. São elas:

  • Filtrar as notícias e diminuir a exposição a elas, dedicando menos tempo à televisão e saindo de grupos de WhatsApp que passaram a focar apenas no assunto da pandemia;
  • Refletir sobre as questões sobre as quais realmente se tem controle sobre (como sair de casa apenas quando é necessário, praticar as medidas de prevenção indicadas, etc);
  • Internalizar a ideia de que ninguém tem controle algum sobre o futuro – e nunca teve, nem mesmo antes da pandemia;
  • Praticar meditação, exercícios de respiração e relaxamento;
  • Caso haja um distúrbio de ansiedade, expor a situação para o chefe e questioná-lo sobre a possibilidade de seguir fazendo home office, ao menos em dias alternados;
  • Pensar em situações anteriores que geraram preocupação extrema e que, no final, se resolveram;
  • Buscar terapia, mesmo que à distância, para desabafar sobre angústias e receber auxílio especializado.

2. Sensação de inutilidade

Outra queixa comum de acordo com as psicólogas é a de que muita gente está se sentindo “inútil” diante de tantas pessoas usando as redes sociais para expor o quão produtivas se mantiveram mesmo durante a quarentena. Segundo Marina, porém, assim como aconteceu com diversas outras noções, o conceito de produtividade que existia antes da quarentena precisa ser revisto.

“Às vezes, você está com o dia um pouco mais parado do que costumava ser, mas está ajudando vizinhos, cuidando dos filhos... Sem você ali, com quem eles ficariam? Você está sendo extremamente útil, mas de outras formas”, afirma a psicóloga.

Como lidar com o sentimento de inutilidade?

Sendo assim, para controlar esta sensação ruim, a ideia é ressignificar os padrões de produtividade, que já não se resume mais a ter um dia cheio de trabalho e atividades físicas.

Para isso, uma ideia interessante é fazer uma pequena lista de tarefas bem simples para cada dia, marcando tudo o que foi devidamente realizado ao final dele. Além disso, também é importante filtrar o conteúdo das redes sociais, deixando de seguir perfis de pessoas que vivem uma realidade bastante diferente da maioria e podem se dar ao luxo de manter a vida praticamente igual ao que ela era pré-pandemia.

3. Estados depressivos

Outra questão bastante citada pelas especialistas é a depressão; segundo as psicólogas, devido à quarentena e às incertezas criadas pela pandemia, muitas pessoas que já convivem com a doença viram seu estado mental piorar, enquanto pessoas que antes não sofriam deste mal passaram a enfrentar estados depressivos.

“O paciente que já tem um estado depressivo, mas medicado e estável, ficou um pouco mais deprimido. Com os primeiros trinta dias de quarentena, foi ficando aquela rotina, aquela mesmice... Isso cria uma angústia, uma agonia em pensar se não iríamos voltar [ao normal]. E então tivemos as previsões de retorno frustradas”, afirma Alessandra.

Como lidar com estados depressivos?

Sobre isso, as especialistas ressaltam o fato de que a depressão é uma doença e só pode ser corretamente diagnosticada e tratada com acompanhamento profissional (que pode consistir apenas em psicoterapia ou pedir também consultas regulares com um psiquiatra, bem como administração de medicamentos).

Para combater estados depressivos mais leves, porém, Daniela afirma que há algumas alternativas simples. “É importante procurar não ficar sozinho, praticar exercícios físicos, ter uma boa alimentação e bom sono”, afirma a psicóloga. Caso não seja possível ter alguém fisicamente presente, é indicado buscar contato com pessoas queridas por meio da tecnologia.

4. Vícios (alcoolismo, compulsão alimentar, consumismo)

Outra questão intensificada (e até despertada) pela pandemia e a quarentena, segundo as psicólogas, é a dos vícios. Durante este período, uma das queixas mais frequentes durante sessões de terapia é a de problemas relacionados a uso abusivo de álcool, compulsão alimentar e até consumismo – tudo gerado por uma mistura de tendências pré-existentes e uma necessidade de aquietar as angústias.

Como lidar com vícios?

Como cada vício requer um tipo de conduta diferente, o mais indicado é que estas pessoas busquem ajuda profissional (como psicólogos, clínicas de reabilitação ou grupos especificamente voltados para estes problemas) e não tenham medo de falar sobre o que está acontecendo com pessoas próximas, para que haja uma rede de apoio ciente da questão.

5. Brigas familiares

Ainda que as pessoas conheçam os familiares ou amigos com quem moram, a quarentena impôs uma convivência diferente da que ocorria antes – e isso gerou, segundo as especialistas, climas tensos responsáveis por brigas com entes queridos. Isso porque, enquanto antes era possível dividir o tempo que se passava junto de pais, irmãos, esposas, maridos e filhos, isso deixou de ser uma realidade para muitos.

Somados à mudança repentina no dia a dia, o aumento na carga de tarefas domésticas e o estresse gerado pelas incertezas do momento foram responsáveis por desentendimentos, brigas e até fins de relacionamento em meio à quarentena. Segundo Alessandra, muita gente passou a questionar inclusive se realmente conhece aquelas pessoas com quem vivem.

“Começou com euforia, muitos planos para passar o tempo, cozinhar... Depois veio essa rotina, esse costume de estar com os familiares, de não poder ter a vida social”, diz ela, afirmando que isso tende a ficar instável novamente com a flexibilização, já que, após tanto tempo, muita gente se acostumou com a nova rotina, e retomar a forma de viver anterior se tratará de outro choque.

Como lidar com brigas familiares?

Quanto a isso, o mais indicado pelas especialistas é apostar na terapia e no diálogo. “Precisamos entender que tudo vai passar. É preciso comunicar aquilo que está sentindo de forma sadia. Todas as questões se resumem em escolhas diárias por ser feliz, entender quem eu sou e meu papel na sociedade, na família”, esclarece Daniela.

6. Violência doméstica

Desde o início da quarentena, dados sobre um aumento expressivo nos casos de violência doméstica tomaram as notícias e, de acordo com Alessandra, tanto o isolamento social em si quanto possíveis consequências dele (como o abuso de álcool e drogas) pode ter acelerado a transição de relacionamentos aparentemente estáveis para relações extremamente abusivas e então violentas.

Segundo ela, relatos de violência física, psicológica e patrimonial contra mulheres têm sido, infelizmente, comuns nas sessões de terapia.

O que fazer?

As duas coisas mais importantes a se fazer nesse caso são buscar uma rede de apoio e denunciar. Como isso nem sempre é simples, Alessandra indica buscar iniciativas discretas de amparo a mulheres em situação de violência, como ONGs e delegacias virtuais que permitem denúncias sobre isso.

Saúde física e mental

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