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Tem se sentido inútil na quarentena? É provável que você esteja mais produtivo do que muitos

Publicado 29 Jun 2020 – 03:10 PM EDT | Atualizado 29 Jun 2020 – 03:10 PM EDT
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Ao longo dos últimos meses, tem se falado muito sobre produtividade na quarentena e, enquanto muitos estão fazendo o máximo para ocupar o tempo com coisas novas e manter o dia a dia o mais “normal” possível, há quem esteja se sentindo inútil por não estar conseguindo fazer o mesmo. Segundo a psicóloga Marina Prado Franco, porém, não estar conseguindo cumprir as tarefas que normalmente seriam cumpridas ou se ocupando o dia todo não é sinônimo de inutilidade.

Quarentena e a capacidade de produzir

Nas redes sociais, especialmente no Instagram, não é raro ver registros de pessoas malhando, testando receitas, fazendo cursos e iniciando novas empreitadas mesmo durante a quarentena – mas este não é o “novo normal” de todo mundo. Isso porque, simultaneamente, muitos estão bastante desanimados, sem energia para fazer muitas coisas e sem conseguir sequer fazer o que normalmente fariam fora da quarentena.

Isso, segundo Marina, tem uma explicação simples: o momento atual é algo totalmente novo para todo mundo e virou a rotina de todos de cabeça para baixo. Aqui, enquanto algumas pessoas estão apegadas ao “antigo normal”, outras estão frustradas com a grande ruptura causada pela pandemia – e também se comparando às “superprodutivas”.

“Essas pessoas podem estar se encontrando em um período de ruptura. A ideia que elas tinham do mundo, de como ele funcionava e do que elas poderiam esperar para o próximo dia, se desfaz. Por isso, elas podem, sim, estar vivenciando esse luto, não conseguindo ser produtivas neste momento ou agir como costumavam agir”, explica ela, enfatizando que isso pode ser pior para quem costumava “dar conta de tudo”.

“Algumas pessoas vão se sentir até mesmo impotentes, principalmente se tinham uma característica de conseguir resolver seus problemas e ser conselheiras, de estar sempre ajudando os amigos. Se elas se veem em uma situação em que não estão conseguindo manter nem mesmo as atividades que costumavam manter, podem se sentir, sim, impotentes”, afirma a psicóloga.

Dificuldade para produzir não significa inutilidade

Com a queda na capacidade de produzir e a frequente comparação com outras pessoas, muita gente tem se sentido inútil nos tempos de quarentena – e a psicóloga rejeita essa ideia de inutilidade, explicando que as ideias de produtividade precisam ser revistas. Como a realidade já não é mais a mesma, as noções de normalidade atreladas a comportamentos também deve ser, e isso vale para trabalho, interações sociais, etc.

“Pare e se pergunte: ‘O que é ser útil?’ Ou: ‘Será que a minha ideia de ser útil pode ser mantida?’. Não dá para comparar a forma como você vai agir hoje à forma como você agia anteriormente. É o melhor possível dentro do momento. É um novo normal, um novo ‘eu’. Talvez isso precise ser adaptado no novo conceito do que é ser útil”, afirma Marina, ensinando que é preciso ver as coisas de forma mais ampla.

Em outros tempos, um dia marcado por tarefas cumpridas no trabalho, uma hora de exercícios físicos, diversos problemas resolvidos e um momento de lazer com os amigos ou familiares poderia ser considerado produtivo, mas atualmente, época em que não é indicado sequer sair de casa, a produtividade está em outras coisas – que, apesar de aparentemente “menores”, não são menos importantes.

“Mesmo que você não esteja conseguindo trabalhar, se exercitar ou cozinhar, o 'ser útil' pode ser, por exemplo, estar com mais tempo para passar com os filhos, ou ajudando outra pessoa a fazer compras, ou até mesmo um momento em que você vai ficar mais introspectivo, um momento para se entender melhor, se conhecer melhor. Dessa forma, você vai estar sendo útil para você e para os outros”, afirma a especialista.

Nesta época tão difícil, manter-se alimentado, arrumar uma cama, ter uma boa conversa via telefone com um amigo de quem tem saudades, ajudar as crianças com as tarefas escolares online e até tirar um momento da semana para fazer terapia, meditar ou ler algo interessante são exemplos de hábitos produtivos – e Marina indica algo simples para tentar mantê-los.

“Criar uma agenda com tarefas bem básicas e, no fim do dia, dar um ‘check’ em cada uma delas pode dar uma motivação para seguir adiante”, sugere ela, lembrando que, mesmo “ociosos”, momentos de introspecção têm utilidade (principalmente agora) e devem se provar especialmente proveitosos após o fim da pandemia. “Você vai ver que, sim, conseguiu se desenvolver – e existem várias formas de se desenvolver”, conclui.

Saúde mental e física na quarentena

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