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BBB 19 mal começou e já rendeu polêmicas enormes com lições importantíssimas

Publicado 22 Jan 2019 – 10:10 AM EST | Atualizado 22 Jan 2019 – 10:24 AM EST
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Antes mesmo de chegar ao primeiro paredão da 19ª edição, o “ Big Brother Brasil” já mostrou que alguns participantes têm muito a ensinar – enquanto outros têm muito a aprender.

Discutindo assuntos como racismo, abuso e direitos humanos – ou até mesmo protagonizando situações vistas como problemáticas pelo público –, brothers e sisters têm protagonizado polêmicas que repercutiram muito fora da casa e ensinaram lições importantes.

Polêmicas do BBB 19 que ensinaram lições

1. "Racismo reverso" não existe

Durante uma conversa na cozinha da casa, as participantes Rízia e Gabriela estavam relatando atitudes racistas que já tiveram de enfrentar quando Tereza decidiu participar do papo e disse que pessoas brancas de olhos verdes também sofrem preconceito com relação à cor da pele.

Apesar de posteriormente admitir que “racismo” não era o termo correto para as situações às quais ela estava se referindo, a fala de Tereza gerou discussão, já que Isabella (que é branca e loira) persistiu na ideia do “racismo reverso” – algo que, por diversos motivos, não existe.

Para argumentar, Isabella explicou sobre as situações às quais se referia. “Muitas vezes me olham [e dizem] ‘patricinha’, ‘não sabe o que é a vida’, ‘sempre teve tudo’, e não sabem o que se passa”, disse ela. Esse tipo de situação, porém, tem suas raízes no machismo – que faz muitos enxergarem a mulher como incapaz e superficial – e não no racismo.

Para explicar a diferença entre as situações injustas vividas pela loira e situações de racismo, Gabriela deu exemplos práticos que todos deveriam ter em mente antes de relacionar esse preconceito apenas à cor da pele e traços físicos.

“Racismo vem de um sistema de opressão. Para nós, negros, sermos opressores, a gente tinha que estar no poder, e nós não estamos no poder, entendeu?”, disse, ressaltando em qual cenário seria possível falar em racismo contra pessoas brancas. “Vocês teriam que ter 300 anos de escravização de brancos, deveriam ter vindo 'navios negreiros' com brancos”, comentou.

A fala de Gabriela, inclusive, é sustentada pela própria História; conforme explicou a historiadora e antropóloga Lili Schwarcz em um vídeo sobre racismo e “racismo reverso” no canal da influencer Ana Paula Xongani, a ideia de que o negro e diversos outros povos são inferiores tiveram início quando europeus passaram a colonizar o restante do mundo.

“Os brancos produziram as teorias do determinismo racial, que dizem que, entre negros e brancos, existiriam separações essenciais, como de um cavalo para um burro, e que pior do que isso era a mistura que gerava uma degeneração”, explicou ela, e esta é apenas uma das injustiças que simplesmente não fazem parte da História do branco.

Como Isabella pareceu não entender completamente a situação, Rízia também tratou de explicar a diferença entre o que Isabella sofreu e o que ela e Gabriela sofrem com muita frequência. “Isso não é racismo porque você nunca vai ser julgada pela sua cor, você não vai ser seguida no supermercado”, disse a sister.

2. Falar em “cabelo ruim” é problemático

A conversa sobre “racismo reverso”, porém, não foi a única situação que mostrou como o preconceito contra pessoas negras e todas as suas características está enraizado – e, por vezes, passa disfarçado de costume popular. Durante um papo sobre produtos de cabelo, Gabriela e Hana falaram sobe os fios de Elana serem cacheados, e foi então que Paula entrou na conversa com uma fala problemática.

"Eu também tenho cabelo ruim", afirmou Paula quando Gabriela citou os cabelos enrolados de Elana. A isso, a sister respondeu: "Não fala isso. Ruim é o preconceito, o cabelo não". Após a resposta de Gabriela, Paula se defendeu. "É mania né? Não existe... Mas quando tem uma dobrinha assim a gente fala", disse a moça, que, na sequência, recebeu um conselho da sister. "É, mas a gente precisa mudar isso", afirmou.

Mesmo séculos após as teorias que tentavam provar a inferioridade das pessoas negras em relação às brancas serem derrubadas, comentários como os de Paula – que caracterizam traços tipicamente negros como sendo ruim – mostram que, ainda hoje, eles e suas características seguem desvalorizados.

3. Indignação seletiva com o ronco

Viver em confinamento não é fácil, e alguns participantes do BBB 19 já estão encontrando problemas com isso na hora de dormir – algo que levou o brother Rodrigo a enfrentar um constrangimento e tanto envolvendo o barulho que ele involuntariamente faz enquanto dorme.

Entre os participantes que se incomodaram com o ronco dele, Isabella se destacou e chegou a propor uma divisão diferente de quartos para que ficasse longe de Rodrigo. Conforme apontaram outros moradores da casa e internautas que acompanham o programa, porém, há algo de curioso nas reclamações da loira: elas são seletivas.

Isso porque, assim como Rodrigo, Gustavo também ronca, e, mesmo com outros integrantes do reality comentando sobre isso, Isabella não sugeriu qualquer mudança que envolvesse o brother e tratou a questão em tom de brincadeira, “pedindo” que Gustavo não roncasse.

Irritados com a situação após Rodrigo chegar a cochilar na academia, espectadores do programa passaram a especular que o fato de o brother ser negro estimula a indignação seletiva de Isabella – algo que parece ir de acordo com o que pensam outros participantes do BBB.

Discutindo a situação com Hana, Danrley e o próprio Rodrigo, Gabriela – que já discutiu questões relacionadas a racismo com Isabella –, deixou no ar sua opinião sobre o assunto. "Eles não falam [do Gustavo], eles só falam do Rodrigo, e isso ficou na minha cabeça. Por que, sabe?", questionou Hana. "A gente sabe por quê", disse Gabriela, e Hana concordou, ainda indignada.

4. Abuso sexual não é culpa da vítima (e há um motivo pelo qual mulheres não denunciam)

Outro assunto delicado abordado pelos participantes foi abuso sexual, e tanto Isabella quanto Hana tinham histórias para compartilhar sobre esse assunto. Para Hana, tudo aconteceu quando ela tinha 15 anos e havia acabado de transar com um ficante durante uma festa. Quando foi tomar banho, um amigo do rapaz entrou no quarto e a obrigou a fazer coisas que ela não queria com ele.

Com Isabella, a situação de abuso se deu mais cedo, quando ela tinha entre nove e 10 anos. Conforme contou durante um almoço, ela estava observando um homem instalar um móvel novo em seu quarto quando ele subitamente começou a lhe fazer pedidos e sugestões de cunho sexual. Indignada, Isabella disse ter gritado, e o homem reagiu a isso jogando-a na cama e ameaçando-a.

“'Se você gritar eu vou te machucar, e se você falar para alguém, eu vou te machucar e machucar ele também.' E uma criança, eu acreditei, vai machucar minha mãe e minha irmã”, relembrou Isabella, afirmando também que, após o ocorrido, contou tudo à sua irmã e o homem acabou preso.

A fala repercutiu muito fora do programa por ilustrar de forma tão representativa e simples o terror pelo qual passam muitas mulheres vítimas de abuso.

Apesar de muita gente culpar as vítimas pelas violências que sofrem – dizendo que elas mesmas se colocam nas situações –, tanto Hana e Isabella quanto outras milhares de mulheres mostram que esse tipo de discurso nunca é plausível. Quando uma mulher faz sexo com um homem, ela não se torna automaticamente disponível a ele nem a outros que queiram o mesmo (como aconteceu com Hana).

Além disso, também é comum o questionamento a mulheres que não denunciam seus abusadores, algo que a história de Isabella pode facilmente explicar. Além de muitos casos acontecerem durante a infância, fazendo com que a memória da vítima seja questionada, o medo de falar sobre a situação pode ser maior que qualquer coisa – visto que muitas mulheres são ameaçadas e/ou sentem medo de serem desqualificadas.

5. Mulheres não são objetos

Durante a primeira festa do reality, Hana se viu em uma situação bastante comum para mulheres. Enquanto dançava com Tereza, ensinando a sister a rebolar, Hana foi pega de surpresa por Vinicius, que deu um tapa em seu bumbum sem qualquer autorização. Na hora, a sister parou de dançar e o repreendeu. “Não encosta”, exigiu ela, e Vinicius não voltou a fazê-lo (apesar de ter continuado observando a moça dançar).

A situação vivida por ela – assim como as cenas de Gabriela “fugindo” de Vanderson e Isabella se esquivando de uma investida do brother – vem da ideia machista de que a mulher existe para servir o homem mesmo quando está apenas se divertindo com as amigas, e é apenas uma amostra do que muitas cansam de enfrentar não só em festas como na rua.

Assim como essas situações, a resposta de Hana também é frequente entre as mulheres, mas, quando elas não estão em um reality show cheio de câmeras e espectadores como a sister, é comum que a recusa da mulher em aceitar esse tipo de toque indesejado termine em casos de agressão.

6. Brincadeiras, às vezes, não são "só" brincadeiras

A questão do preconceito contido em coisas pequenas, mas que representam algo maior para certos grupos de pessoas, voltou a ser discutida durante um jogo que os participantes do BBB fizeram juntos. Durante a brincadeira, Gustavo comparou índios a animais, e, em meio a expressões sérias de diversos participantes, Vanderson se manifestou e apontou o preconceito na fala do brother.

O que pode parecer uma simples brincadeira para Gustavo e outros participantes, na verdade, demonstra a desvalorização dos índios – que, de forma semelhante aos negros, também eram vistos como inferiores ou menos evoluídos e acabaram sendo colonizados por povos europeus –, já que a comparação feita pelo brother tem uma herança violenta e um preconceito ainda muito presente.

Questionado sobre ter se irritado com algo “pequeno”, Vanderson voltou a explicar que, para os índios, a comparação com um animal remete à violência a que seus antepassados foram submetidos. “Eu tô pensando que aqui, nesse momento, foi falada uma parada que é chata porque os caras já ouviram isso muito, até hoje eles ouvem. É chato, eu penso nisso, na figura deles”, disse.

Polêmicas na televisão

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