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Por que a fala da Tereza no BBB foi TÃO errada e a resposta da Gabriela, perfeita?

Publicado 18 Jan 2019 – 01:38 PM EST | Atualizado 18 Jan 2019 – 01:38 PM EST
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A 19ª edição do “ Big Brother Brasil” (Globo) mal começou, mas já está dando o que falar. Recentemente, enquanto Rízia e Gabriela relatavam situações desagradáveis pelas quais já passaram simplesmente por serem negras, Tereza decidiu opinar, afirmando que pessoas brancas como ela e Isabella também sofriam racismo.

Na conversa, Isabella deu alguns exemplos que são comuns entre pessoas brancas que afirmam sofrer o chamado “ racismo reverso”, e, de maneira muito didática, Gabriela e Rízia explicaram por que certas injustiças sofridas por pessoas brancas jamais podem ser enquadradas como racismo – algo que levou as sisters a serem aplaudidas nas redes sociais.

Polêmica sobre racismo no BBB 19

O papo começou quando Tereza incluiu uma opinião bem polêmica na conversa entre Rízia e Gabriela. "Você não sabe como uma mulher branca de olho claro também passa racismo", disse ela, e, ao ser recebida com indignação, ela se corrigiu, dizendo ter usado o termo errado.

Isabella, no entanto, reafirmou o que Tereza havia dito. "É racismo, não é não?", perguntou a loira. Apesar de ter se corrigido e dito que “racismo” não era a palavra certa, Tereza voltou a afirmar que a cor de sua pele já a fez enfrentar preconceitos. “Eu tô falando porque eu já passei por isso, por ser branca, ter olho claro, algumas situações que eu não queria passar”, explicou a pernambucana.

Isabella chegou a explicar o que queria dizer: "De verdade, sinto muito, porque muitas vezes me olham [e dizem] 'patricinha', 'não sabe o que é a vida', 'sempre teve tudo', e não sabem o que se passa", relatou.

Como Isabella ainda estava com dúvidas sobre o assunto, Gabriela decidiu explicar melhor. “Deixa só eu explicar por que não é racismo. Racismo vem de um sistema de opressão. Para nós, negros, sermos opressores, a gente tinha que estar no poder, e nós não estamos no poder, entendeu?”, disse, e Rízia completou a fala da sister. “Não é a questão do hoje, do agora, desse ano”, afirmou.

Conforme explicou Gabriela, o racismo tem fundamentos históricos. "Para existir o 'racismo inverso', que não existe, vocês teriam que ter 300 anos de escravização de brancos, deveriam ter vindo 'navios negreiros' com brancos, sabe?", explicou ela.

Para explicar melhor, Rízia também disse à Isabella que, apesar de ser uma injustiça a moça ser pré-julgada pela aparência, essas situações não equivalem às que ela e outras pessoas negras enfrentam. “Isso não é racismo porque você nunca vai ser julgada pela sua cor, você não vai ser seguida no supermercado”, disse.

"Racismo reverso": por que isso NÃO existe?

A discussão sobre o chamado "racismo reverso", isto é, um preconceito de raça supostamente sofrido por pessoas brancas, não é nova e muitos militantes e intelectuais do movimento negro já explicaram por que ele não existe e nunca existiu.

Ainda assim, muita gente confunde ofensas e injustiças individuais com o preconceito estrutural que a população negra sofre coletivamente, algo que Isabella fez durante a discussão. Apesar de as situações descritas por ela serem realmente um pré-julgamento, elas se enquadram na questão do machismo (que, até hoje, faz mulheres serem vistas como inferiores), enquanto o racismo tem outras raízes.

É justamente isso que explica a historiadora e antropóloga Lili Schwarcz, que, convidada para um papo sobre racismo e "racismo reverso" no canal da influenciadora Ana Paula Xongani – cujo foco é justamente discutir sua vivência como mulher negra –, mostrou com dados que o racismo não se resume a ofensas no dia a dia como muita gente imagina.

Segundo ela, a ideia da superioridade branca começou a surgir no século 16 quando a população europeia passou a dividir o mundo em colônias.

“O suposto era que os povos que estavam sendo dominados eram inferiores”, explicou, enfatizando que, em meados do século 19, começaram a surgir estudos que buscavam provar essa superioridade.

“Os brancos produziram as teorias do determinismo racial, que dizem que, entre negros e brancos, existiriam separações essenciais, como de um cavalo para um burro, e que pior do que isso era a mistura que gerava uma degeneração”, explicou ela.

A historiadora citou ainda que o branco muitas vezes não “se percebe” como privilegiado porque praticamente tudo no mundo é visto sob o olhar de povos brancos.

“História universal é a História a partir dos gregos, que exclui, por exemplo, a História africana. Nós falamos de pinturas universais, são pinturas italianas ou francesas, e que contam uma determinada História”, disse, relembrando que até a famosa rainha egípcia Cleópatra é pintada e retratada como branca quando, dada a região onde nasceu, não poderia ter essa aparência.

Exemplos práticos também foram a forma usada pela youtuber Nátaly Neri – que, assim como Ana Paula, usa seu espaço de influencer para discutir o tema – para explicar a questão.

“Uma pessoa branca já deixou de concorrer a uma vaga de emprego porque era branca? Uma pessoa branca já foi parada pela polícia porque ela era branca?”, questionou ela em um vídeo no canal da também youtuber Louie.

Outro fator que torna impossível estabelecer uma relação de igualdade entre situações como as relatadas por Isabella e o racismo é o fato de que esse preconceito leva pessoas negras a realmente serem desvalorizadas e morrerem diariamente – algo que Lili explicou com dados concretos, como a de que, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a população negra ainda é a que mais morre no Brasil.

"Eu acho que nós estamos recriando o racismo no nosso cotidiano de uma forma absolutamente perversa. A gente pode encontrar discriminação nas taxas de nascimento e de mortalidade, nós temos discriminação na saúde, no recorte de gênero, no lazer, e nós estamos basicamente assistindo da arquibancada o assassinato de uma geração de rapazes negros das periferias do Brasil inteiro", disse.

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