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"Pensei: essa doença de novo? E então agradeci a Deus": o que 2 cânceres a ensinaram

Publicado 28 Out 2021 – 03:24 PM EDT | Atualizado 28 Out 2021 – 03:24 PM EDT
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Enquanto realizava um autoexame preventivo contra o câncer de mama, Priscila Cardim, na época com 18 anos, se assustou ao notar um caroço na mama esquerda. Ao buscar atendimento médico, ela foi então submetida a uma biópsia e, conforme o resultado acusou um tumor benigno, ela foi orientada a monitorar o nódulo a cada seis meses.

Tranquila com a notícia, a fisioterapeuta não imaginava que, dali a alguns anos, descobriria ter sido tranquilizada por um falso-negativo para câncer de mama.

Este, porém, foi apenas o primeiro dos muitos baques e obstáculos que ela viria a enfrentar em nome de sua saúde. Hoje, após dois cânceres e com apenas 35 anos de idade, Priscila fala sobre a vida com toda a sabedoria acumulada ao longo destas batalhas e prova: mesmo nos cenários mais sombrios, a cura pode acontecer.

Câncer de mama aos 23 anos

"Mistura de injustiça e medo"

Em uma biópsia, parte no nódulo é retirada com uma agulha para ser analisada, mas, em casos como o de Priscila, a precisão do diagnóstico depende de qual foi o setor escolhido.

“Durante quase cinco anos, o nódulo continuou igual, porém em 2013 ele dobrou de tamanho. Foi então que a médica pediu mais uma biópsia – que também acusou um tumor benigno. Mesmo assim, decidimos tirá-lo. Fui para a cirurgia supertranquila, apesar de ser minha primeira da vida. Depois da análise do material, foi verificado que um pedacinho do nódulo era maligno”, conta.

Assustada pelo diagnóstico de câncer após duas biópsias apontarem um nódulo benigno, a então estudante de fisioterapia sofreu ainda mais um baque: como já havia se passado muito tempo desde o surgimento do tumor, o estágio do câncer de Priscila era bastante avançado.

“Assim que a médica falou que era um tumor maligno e que eu teria de fazer mastectomia, quimioterapia, radioterapia e um tratamento hormonal, perdi o chão. Foi uma mistura de injustiça por me achar muito jovem e medo por não saber como seria essa fase, se eu conseguiria sobreviver. Saí do consultório arrasada”, diz.

"No dia seguinte, estava pronta para a batalha"

Assim como muitos pacientes de câncer, ela conta que viu, por um momento, o diagnóstico como uma sentença assustadora. “Meu câncer estava em um estágio bem avançado, não é fácil. Como uma mulher jovem, naturalmente tive medo das mudanças que aconteceriam no meu corpo e das mudanças psicológicas que isso poderia acarretar. Além, claro, do medo de morrer e deixar de realizar todos os meus sonhos”, compartilha ela, que, de início, se permitiu sentir toda a dor causada pelo diagnóstico – mas logo decidiu tentar ao máximo agir de outra forma.

“Chorei tudo o que tinha para chorar naquela noite e, no dia seguinte, estava pronta para a batalha que tinha de enfrentar. Respirei fundo e fui à luta por mim e por todos que estão ao meu lado”, afirma, explicando que a segunda de muitas cirurgias que teria de realizar devido à doença aconteceu dez dias após o diagnóstico e foi bastante agressiva. Na ocasião, além da retirada total da mama esquerda, ela também fez uma adenomastectomia (retirada do tecido do seio, mantendo a pele e a aréola) preventiva do lado direito por ter outros nódulos semelhantes ao tumor ali.

Logo depois, Priscila passou pela reconstrução mamária, mas os obstáculos ainda não haviam terminado: pouco após receber alta, ela teve de voltar à mesa de cirurgia devido a uma complicação. “Eu tive uma rejeição às próteses usadas. Tive então de voltar ao hospital para fazer uma nova cirurgia para retirar as próteses, além de ficar internada por mais quinze dias tomando antibióticos”, afirma ela, que, na sequência, passou por seis sessões de quimioterapia do tipo vermelha (a mais forte) e sofreu os muitos efeitos colaterais agressivos ligados a ela.

quote:Fui à luta por mim e por todos que estão ao meu lado

Oito cirurgias desde a descoberta do nódulo

Além do medo pelo diagnóstico grave e da aflição por não saber o que o futuro lhe guardava após tanta dificuldade, Priscila lidou também com as questões psicológicas relacionadas à autoestima durante o tratamento. Devido à pressa na realização do tratamento, a reconstrução mamária de Priscila após a rejeição às próteses teve de esperar. Junto disso, por conta da quimioterapia, ela perdeu os cabelos pelos quais era tão apaixonada – e, até hoje, ela tem a lembrança vívida do momento em que os fios começaram a cair.

“Uns quinze dias após a primeira sessão de quimioterapia, eu estava deitada na cama, passei as mãos nos cabelos e uma mecha gigantesca ficou nos meus dedos. Na mesma hora, decidi que iria raspar a cabeça – não queria ver meus cabelos caindo aos poucos. No dia seguinte, estava careca. Foi uma das piores fases. Estava sem as mamas e sem meu cabelão, que era bem comprido antes de tudo isso. Parece besteira porque cresce depois, mas ficar sem cabelo, pelos, cílios e sobrancelhas não é fácil”, explica a fisioterapeuta.

Fim da quimio em momento simbólico

A quimioterapia, no entanto, terminou em um momento bem simbólico e ela teve muito o que comemorar. “Minha última sessão de quimioterapia aconteceu um dia antes da minha festa de formatura da graduação, e é claro que eu não poderia não ir. Fui e aproveitei demais! Além de estar celebrando o fato de me tornar uma fisioterapeuta, estava comemorando o fim de uma fase com muitos enjoos, dores de estômago, fraqueza muscular e cansaço”, lembra, ressaltando que os tratamentos não pararam por aí.

Durante pouco mais de um ano e meio, a fisioterapeuta fez radioterapia – quando teve uma leve brecha dos efeitos colaterais – e, em seguida, por uma terapia hormonal sofrida. “Eu ia ao hospital a cada 28 dias para tomar uma injeção na barriga. Neste período, entrei – aos 24 anos – em uma ‘menopausa forçada’, com os calorões e todos os outros sintomas”, diz, afirmando também que aproveitou o momento para recuperar as mamas. “Na mesma época, fiz a recolocação da prótese e a reconstrução do mamilo. No total, foram oito cirurgias desde a descoberta do nódulo”, afirma.

Onze anos depois: um novo câncer (e muitas lições)

Com o surpreendente sucesso do tratamento, Priscila se recuperou bem e pôde retomar a rotina. Nos onze anos que sucederam o momento traumático, ela se desenvolveu profissionalmente, construiu sua família e passou a enxergar a vida de outra forma – algo que a ajudou muito quando, em 2021, descobriu outro câncer.

Monitorando nódulos na tireoide, glândula localizada no pescoço, ela soube que teria de retirar o órgão e, recentemente, passou por mais esta cirurgia.

Apesar da apreensão inevitável, porém, Priscila não viu o segundo diagnóstico da mesma forma que o primeiro. Mais confiante e ciente de que mesmo casos graves como o que a acometeu têm boas chances de cura, ela está enfrentando mais este obstáculo com muito mais tranquilidade, e narra de forma inspiradora tudo o que pensou e sentiu diante deste novo câncer.

“Pensei: ‘Não acredito, essa doença de novo? Por quê?’. Mas, alguns minutos depois, agradeci a Deus por ter muito mais sabedoria para passar novamente por isso e por agora ser um tipo de câncer bem menos agressivo. Fácil não foi, mas agora eu já sei de onde tirar forças: de Deus, da minha família e dos meus amigos. Sem dúvidas, todos foram essenciais. Sempre que estava triste ou cansada, via o quanto as pessoas que estavam ao meu lado sofriam e faziam o máximo possível para eu ficar bem, então minhas forças aumentavam e eu me animava por elas. Não queria vê-las sofrendo”, diz.

quote:Minhas cicatrizes me lembram todos os dias como é bom viver

Dona de uma paciência impressionante e muito amor pela profissão pela qual lutou para ter mesmo durante um tratamento tão complicado, ela hoje está prestes a realizar uma iodoterapia para se livrar do segundo câncer – e, com tanta experiência, tem muito a compartilhar com pessoas que, como ela, vivenciaram a doença. Além de aconselhar que quem está nesta situação tente ao máximo manter a rotina, ela traz também uma mensagem de força e autoestima:

“Vale muito a pena lutar. Todos aqueles clichês são clichês porque são verdade! A gente só sabe o quão forte é quando precisa lutar e cada segundo importa. Depois que tudo passar, você terá novos valores e será muito mais forte. Não tenha – jamais – vergonha das suas cicatrizes e da sua história. Eu não seria quem sou hoje se não tivesse passado por isso e minhas cicatrizes me lembram todos os dias como é bom viver. Se amem e não permitam que o diagnóstico seja maior que sua vontade de viver”, afirma.

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