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Ela perdeu o pavor do câncer após ter vida transformada com tratamento: "Pode dar certo"

Publicado 22 Out 2021 – 04:51 PM EDT | Atualizado 22 Out 2021 – 04:51 PM EDT
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Em 2016, Ariana Prado se viu prestes a embarcar em uma jornada que ninguém deseja trilhar. Em pleno Outubro Rosa, ela recebeu a notícia de que teria de tratar um câncer de mama – e, apesar do baque causado pelo diagnóstico de um tumor maligno no seio aos 31 anos, ela redescobriu a vida, mostrando não apenas que é possível enfrentar a doença, mas que os obstáculos deste caminho podem ser transformados de forma linda.

Em outubro de 2016, enquanto realizava exames – por acaso – na ala oncológica de um laboratório, Ariana Prado viu as campanhas relacionadas ao Outubro Rosa e se imaginou como uma paciente de câncer de mama. Dias após o devaneio, porém, ela recebeu a notícia de que aquilo era realidade e, apesar do impacto que uma notícia como esta causa em qualquer pessoa, Ariana fez uma série de descobertas valiosas – como uma nova perspectiva de vida e o fato de que tratar a doença é possível.

Caroço no seio levou à descoberta

Conforme conta Ariana, o nódulo foi descoberto por acaso. Como tinha 31 anos e nenhum caso de câncer de mama em parentes próximas, ela ainda não tinha a indicação de fazer exames de referência para a doença anualmente e, tocando a própria mama, ela mesma sentiu algo estranho. Apesar do costume de deixar os exames ginecológicos para a última hora, ela decidiu então ir ao primeiro de muitos médicos que visitaria durante os próximos seis meses e foi, a princípio, tranquilizada.

“A médica falou: ‘Não parece ser nada grave. Se você quiser investigar, pode investigar. Se não, pode ficar tranquila’. Ela falou que poderia ser um nódulo de gordura, enfim, disse que a gente podia aguardar e monitorar”, relata. Insistentemente, ela voltou a buscar atendimento para avaliar o caroço dois meses depois, chegando a conclusões diferentes. “Marquei outra mastologista, ela viu e falou: ‘Tem alguma coisa estranha aqui, não é normal crescer do jeito que cresceu no tempo que cresceu’”, conta.

"Não é uma notícia que se espera aos 31 anos"

Na sequência, ela fez uma nova investigação – e, ainda que não tivesse o hábito de abrir resultados antes da consulta médica, não teve escolha senão saber do diagnóstico assim que ele saiu. “O rapaz imprimiu o exame e colocou no balcão. O envelope era muito transparente e, na hora, li ‘carcinoma’. Fiquei muito nervosa, meu namorado estava me esperando, falei: ‘É câncer’. Ele falou: ‘Está louca?’. Realmente: não é uma notícia que a gente espera receber nunca – com 31 anos, então, menos ainda”, afirma Ariana.

Cheia de planos empolgantes para a própria vida, ela então enfrentou algo bastante comum: a ideia de que a palavra “carcinoma” poderia ser o fim de todos eles. “Na hora que recebi essa notícia, achei, sim, que pudesse morrer. Achei que poderia ser o fim. Um dia, tomando banho já com o diagnóstico, pensei: ‘Meu Deus, será que tenho um ano? Seis meses?’. Foi difícil dar a notícia para os meus pais”, desabafa, lembrando que se viu também forçada a tomar decisões importantíssimas em um prazo bem curto.

“O médico falou: ‘Se você quiser, pode congelar óvulos, porque a quimioterapia pode comprometer os seus’. Eu tinha quinze dias para resolver. Falei: ‘Cara, eu quero viver. Se eu vou ter filho ou não, depois eu vejo!’. Você acaba sendo a prioridade, mas, mais para frente, a vida te cobra”, relata ela, que, passado o choque, se deparou com uma realidade surpreendente: apesar do medo e da fraqueza causados pelo tratamento, Ariana teve uma jornada que fugiu do “script” geralmente ligado ao enfrentamento de um câncer.

"É isso que vai me fazer ficar boa? Então vou fazer"

Conforme conta, a análise de seu tumor o classificou como Luminal B – e, segundo informações do Grupo Oncoclínicas, este câncer é menos comum e tende a ter um prognóstico menos animador que o do subtipo Luminal A. Ainda assim, sempre muito amparada pelos médicos, familiares e amigos, ela ganhou confiança e andou na contramão durante todo o processo, recebendo notícias boas desde o início dele.

“Mesmo tendo demorado um tempo, para o tipo de nódulo que eu tive, o diagnóstico foi precoce. Fiz os exames e o médico verificou que a gente teria de fazer uma quadrantectomia – ou seja, não precisaria tirar toda a mama e faria a simetria das mamas na mesma cirurgia. Muita mulher também faz esvaziamento axilar por invasão de células cancerígenas nos linfonodos, mas eu não precisei. Vários fatores contribuíram”, lista ela, animada ao se lembrar do quanto cuidou de si.

Na etapa inicial do tratamento, Ariana teve efeitos colaterais comuns, mas, mesmo debilitada, buscou se atentar à saúde. “Fazia ‘chup chup’ de melancia com limão – vi que era bom para quem faz quimioterapia. Ia na feira, então comia muito bem. Me forçava a comer. Lembro que uma vez tive sensibilidade à luz, fiquei dentro de um quarto escuro, enjoada e falei: ‘Mãe, bate o que você tiver aí, faz um purê e nem que eu demore quatro horas, vou comer’. Eu ia comendo uma colher a cada vinte minutos para não enjoar, mas comi tudo. Fiz o possível. Pensava: ‘É isso que vai me fazer ficar boa? Então vou fazer!’”, relata.

"Vi que podia aproveitar cada minuto e conheci meus amigos de verdade"

Mesmo com muitas restrições pelo tratamento com quimioterapia e radioterapia, Ariana conta que encontrou novas formas de se divertir, descobrindo que, apesar dos efeitos colaterais, havia muitas formas de aproveitar cada minuto da vida. “Eu não podia ir em lugar fechado, à praia, fazer uma série de coisas que eu gostava, mas busquei alternativas com meus amigos”, diz ela, que, por estar sem trabalhar, tirou do papel os planos de fazer um brechó entre amigas e teve apoio até de quem não precisaria se envolver.

quote:O médico me falou uma coisa que foi determinante ‘Respeite a doença, mas não tenha medo dela. Faça a sua parte'

“Não era por dinheiro, era para fazer acontecer. Até me emociono hoje porque vi que meus amigos são meus amigos de verdade. Era sábado, domingo, fim de semana deles, em que eles podiam estar fazendo uma série de coisas, mas estavam ali comigo em um projeto que era meu, para distrair minha cabeça, para eu ficar bem”, afirma Ariana, que seguiu indo a bares (trocando a cerveja por água) e procurou manter o papo normal com os amigos. “A gente não conversava sobre doença, conversávamos sobre as coisas de sempre. A gente passeava e eu ocupava a cabeça. O tratamento passou e eu quase não vi”, conta.

"Vamos trabalhar?"

Após tantas experiências e muita perseverança, ela teve alta da primeira etapa contra o câncer em julho de 2017 – e, nesta nova fase, Ariana se viu em uma vida totalmente transformada por tudo o que aconteceu. Logo, ela foi tomada pelo medo de não conseguir trabalhar novamente em sua área de atuação, Relações Públicas, e pela aflição de não saber o que podia ou não fazer, mas não demorou para que as surpresas positivas voltassem a surgir.

“Achei que as empresas não fossem me contratar por ter esse histórico, mas logo depois meu ex-chefe me ligou e falou: ‘Escuta, seu tratamento acabou... Vamos trabalhar?’”, afirma. Apesar de ter voltado a exercer a mesma função em que atuava antes do câncer, ela conta ainda que sua nova forma de enxergar a vida a levou a caminhos inéditos e empolgantes. “Dali para frente, só aconteceu coisa boa. Eu arrumei um trabalho muito bom, vim morar em uma cidade nova, terminei com meu namorado, só transformação”, conta.

Tratamento preventivo: "Não tenho mais pavor"

Neste momento, outro aspecto que poderia ser um obstáculo virou um renascimento: após a quimioterapia e a radioterapia, Ariana passará os próximos seis anos tomando um remédio antes de se ver finalmente livre do câncer, mas isso, para ela, não é uma aflição constante. Monitorada semestralmente para checar o reaparecimento da doença, ela se viu motivada a viver o presente como nunca, fazendo a inquietação se transformar em uma espécie de segurança.

“É uma coisa que acompanha a gente, um momento de estresse. Você faz os exames e, se está bem, vida que segue – por mais seis meses. Dali a seis meses, tem outro. Por mais que seja difícil, como eu faço esse monitoramento, é muito mais fácil identificar, tratar precocemente. Apesar de eu não querer passar por isso de novo, não tenho mais tanto pavor que aconteça”, conta.

Quatro anos após ver o diagnóstico de câncer como uma sentença, ela tem, hoje, muitas lições para compartilhar graças à jornada turbulenta e surpreendente. “Tenham fé que pode dar certo. Viva o dia que você está vivendo e faça tudo o que você tem vontade de fazer. Faça uma lista e tente ao máximo antecipar sonhos que quer realizar! Faça o que quiser fazer, viva a vida do jeito que quer viver. O que você está postergando?”, questiona.

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