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Por que não tratar todo paciente de COVID-19 com cloroquina? Há explicação

Publicado 9 Abr 2020 – 03:57 PM EDT | Atualizado 9 Abr 2020 – 03:57 PM EDT
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Apontada por alguns estudos como promissora contra COVID-19, a hidroxicloroquina tem dividido opiniões no mundo todo, e muito tem se falado sobre usá-la de forma ampla em pacientes da doença ou até preventivamente. O motivo pelo qual isso não é feito, porém, é simples, e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o explicou recentemente em uma coletiva de imprensa.

Hidroxicloroquina: uso amplo ainda não é indicado

Na última quarta-feira (8), em mais uma coletiva de imprensa, Mandetta voltou a abordar o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina, remédios utilizados no tratamento de malária, lúpus e doenças reumáticas que têm sido testados, a princípio, em casos graves de COVID-19 e pacientes selecionados para uma amostragem.

Na fala, o ministro comentou que tem sido questionado sobre a cloroquina não estar sendo usada de forma ampla em pacientes do novo coronavírus ou até como forma de prevenção ao vírus, e a explicação engloba fatores simples. Em primeiro lugar, a infecção pelo SARS-CoV-2 é semelhante às causadas por outros vírus, e não é plausível medicar com ela todos os que apresentam sintomas de gripe e insuficiência respiratória.

“Nesse momento, os vírus principais [circulando pelo Brasil] não são o coronavírus, são vírus conhecidos; H1N1, que faz quadro gravíssimo de pneumonia, a influenza... Entrar com o medicamento cloroquina para esse tipo de vírus seria a primeira complicação”, explicou o ministro, enfatizando que estas outras doenças têm formas específicas de se tratar.

Segundo ele, casos graves do H1N1 – que também causou uma pandemia em 2009 –, por exemplo, são tratados com o medicamento Tamiflu, e administrar a cloroquina em pacientes que apresentam pneumonia devido a este vírus (sintoma facilmente confundível com o causado pelo novo coronavírus) não seria prudente.

Ele lembrou também que é importante pensar neste fator porque os testes de coronavírus que têm sido realizados estão demorando para retornar resultados, então antes de o diagnóstico de COVID-19, é possível suspeitar não só desta, mas de outras doenças – cujos tratamentos não compreendem o uso da cloroquina como útil.

O segundo fator levado em conta para a decisão de não usar a cloroquina de forma ampla é a proporção de pessoas que não têm casos graves da doença. Apesar de representar perigo para todos (em especial para os grupos de risco do coronavírus), mais de 80% dos casos são brandos, segundo a Organização Mundial da Saúde, e não requerem um medicamento assim para que haja a cura.

“85% das pessoas que têm sintomas ficam bem tomando Tylenol, Novalgina. Têm sua dor de cabeça, ficam de cama, [com] dor no corpo, mas [o quadro] passa”, disse, lembrando que apesar de o número de mortes ser grande, a proporção entre este número e o total de casos (especialmente levando em conta que eles são subnotificados) reforça as estimativas divulgadas pela OMS.

“Será que seria inteligente dar um remédio para 85% das pessoas que não precisam desse remédio? Um remédio que tem efeitos colaterais? Será que vale a pena? Sem saber que é coronavírus?”, questionou ele, explicando também por que o remédio não tem sido administrado amplamente em todos os casos de pessoas idosas com a doença.

Conforme lembrou o ministro, pessoas idosas (com mais de 60 anos) são um dos maiores grupos de risco do novo coronavírus – mas também estão nas faixas etárias com a maior concentração de doenças cardíacas e hepáticas, fazendo com que a cloroquina ofereça riscos ainda maiores.

“Se nós dermos em massa para esses com mais de 60, mais de 70, mais de 80, será que esse medicamento vai protegê-los ou será que eles podem ter arritmia cardíaca, precisar do leito de CTI [Centro de Terapia Intensiva] e ter infarto do miocárdio?”, explicou Mandetta, que requisitou ao Conselho Federal de Medicina (CFM) uma posição mais concreta sobre a cloroquina até o dia 20 de abril.

Cloroquina funciona mesmo? Estudos divergem

O despertar da discussão sobre o uso do medicamento no tratamento de COVID-19 partiu de dois estudos pequenos que indicaram sua efetividade em uma amostragem restrita de pacientes quando combinada à azitromicina, antibiótico comum e muito utilizado para tratar infecções na garganta.

Após a publicação deles, líderes como Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e o próprio presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, passaram a apostar no medicamento como uma possível saída para o problema, e a cloroquina começou inclusive a faltar em farmácias, prejudicando pacientes de lúpus e outras doenças, que fazem uso contínuo dele. Tal eficácia, no entanto, tem sido questionada por outros muitos estudos.

Em primeiro lugar, estudos pré-existentes (publicados entre 2010 e 2018) ressaltam que a cloroquina não é efetiva no tratamento de outros vírus, como o da dengue, do chikungunya, da influenza e do HIV. Em segundo lugar, estudos recentes apontaram que, com os testes atuais, não é possível relacionar a administração do remédio com uma melhora expressiva.

A prévia de uma pesquisa recente, publicada no periódico científico “Médicine et Maladies Infectieuses”, por exemplo, cita um estudo chinês que não verificou diferenças entre a carga viral de pacientes com a doença que receberam a cloroquina e a de pessoas que não fizeram uso do medicamento, algo que indica o quão inconclusivos ainda são os resultados.

Para os responsáveis por este estudo, os testes clínicos com a cloroquina – que já estão em andamento em muitas partes do mundo, inclusive no Brasil – é que darão uma resposta conclusiva sobre o assunto, e é preciso aguardar estes resultados antes de tratar o medicamento como uma cura.

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