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Fala de Carlinhos Maia sobre suicídio gera debate enorme: entenda razão das críticas

Publicado 2 Set 2019 – 02:57 PM EDT | Atualizado 2 Set 2019 – 02:57 PM EDT
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A recente declaração de Carlinhos Maia sobre jovens que pensam em suicídio causou polêmica nas redes sociais. O nome do humorista foi um dos assuntos mais comentados no Twitter durante o final de semana e ainda repercute na rede social depois que seu discurso gerou debate acerca do tópico - especialmente no mês dedicado à prevenção do suicídio, o Setembro Amarelo.

Carlinhos Maia: declaração sobre suicídio

Carlinhos protagonizou uma polêmica depois de publicar uma série de vídeos no Stories no Instagram em que critica adolescentes que pensam em se matar. Nas gravações, o humorista discursava sobre os obstáculos que a vida pode oferecer e, para exemplificar sua reflexão, tocou no tema suicídio.

Ao abordá-lo, Carlinhos contou que recebe muitas mensagens de jovens que pensam em suicídio e os incitou a seguir com o pensamento, chamando-os de imbecis.

Em sua declaração sobre os pedidos de ajuda que recebe, o humorista ainda negligenciou as razões psicológicas e biológicas que levam tantos jovens a pensarem em tirar a vida - considerando-os fracos por terem esse tipo de pensamento.

“Vem perguntar para uma mulher de 75 anos que trabalhar até hoje, que sustenta os netos, que está varrendo o quintal, que está catando latinha na rua. Vem perguntar se ela se matou com 16 anos. Eu não sei os seus motivos, mas sei os dela que, com certeza, não são menores que os seus. Comece a ser forte, porque a vida, a internet, não é para fracos.”

Revolta à declaração de Carlinhos Maia

A declaração de Carlinhos não pegou bem entre os internautas e foi amplamente rebatida entre o público.

Muitos questionaram a falta de empatia do humorista com um tema tão delicado. Outros tentaram, de alguma forma, lembrar que a fala de Carlinhos não é o tipo de acolhimento que pessoas com depressão severa devem receber e tentaram confortar tais indivíduos.

Declaração de Carlinhos Maia: por que críticas?

A revolta gerada pela declaração inoportuna de Carlinhos faz sentido. De acordo com o Centro de Valorização à Vida (CVV), o problema é real e 32 brasileiros tiram a vida diariamente. No mundo, são 40 mortes por segundo, o que gera 1 milhão de perdas anualmente.

O número pode ser ainda maior, uma vez que a subnotificação ainda é um empecilho para as estatísticas. Muitas das mortes têm origem principalmente na depressão e em outros quadros de saúde mental, sendo um problema complexo e com influências de diversas ordens, desde sociais e psicológicas a hormonais, entre outras.

A depressão é um quadro clínico que atinge cerca de 350 milhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Sendo a doença um dos gatilhos que levam ao suicídio, é importante entender como ela se manifesta em um paciente.

Para entender mais sobre seus sinais, é importante saber que a depressão se manifesta em três estágios diferentes: leve, moderado e grave.

Pessoas que se enquadram na categoria mais leve da doença são comumente categorizadas como pessimistas, mal-humoradas e tristes por outros que a cercam.

A forma moderada da depressão, por outro lado, começa a trazer impactos nas atividades do indivíduo. É comum ocorrer diminuição das funções de rotina diária, queda do rendimento profissional e prejuízo nos relacionamentos.

"Este período é marcado por uma sobrecarga que vai cansando o depressivo pouco a pouco até que fica o estágio de inércia, ou seja, quando não há nenhuma estratégia de enfrentamento para reagir", conta a psicóloga Tatiane Paula Souza

Já a versão mais grave do quadro tem como característica o descontrole, isolamento e prejuízo dos vínculos afetivos, familiares e profissionais. “Por mais que o indivíduo pense em esconder como se sente, ele não consegue pois essa fase abrange um importante comprometimento dos padrões de vida", explica Tatiane.

De uma maneira geral, vale a pena ficar atento a sinais bem típicos da doença, uma vez que seu diagnóstico é feito por observação do comportamento do paciente e não por um exame específico:

  • Queda gradual da produtividade, que, com o passar do tempo, se torna significativa;
  • Falta de estímulo para levantar da cama e fazer tarefas cotidianas;
  • Sensação interna de não gratificação no trabalho;
  • Desânimo;
  • Mudanças de humor consideráveis e instáveis;
  • Queda no desejo sexual;
  • Alteração de apetite (para mais ou para menos);
  • Sensação de cansaço constante;
  • Dificuldade de concentração;
  • Sentimentos constantes de tristeza, desamparo, desesperança;
  • Raiva e irritabilidade constantes;
  • Falta de interesse em atividades e hobbies que uma vez já foram emocionantes;
  • Dificuldade de tomar decisões;
  • Isolamento social dos amigos, da família e do(a) parceiro(a).

Riscos da depressão

Se não tratada, a depressão pode trazer prejuízos dos mais diversos à vida da pessoa, como atividades laborais, no convívio social, nos relacionamentos afetivos e com familiares.

“Em casos mais graves, pacientes podem ter pensamentos e impulsos que levam à abreviação precoce da própria vida”, conta o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL).

De acordo com o Ministério da Saúde, a depressão pode aumentar, ainda, em 30% a chance de doenças coronarianas e ataques do coração.

Segundo informações do diretor do Departamento de Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) e Saúde Mental da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Anselm Hennis, a depressão também está associada a um aumento de 60% do risco de desenvolver diabetes tipo 2.

Prevenção

Negligenciar a depressão ou o suicídio não é a solução para os dois problemas. Segundo o CVV, nove de dez mortes por suicídio podem ser evitadas. E o melhor caminho para a prevenção do suicídio é oferecer ajuda, acolhimento e atenção a pessoas que têm esse tipo de pensamento.

"Estudos mostram que temos de conversar sobre isso de forma delicada e sem preconceitos, mostrando que é uma solução drástica para um problema temporário, que pode ser superado. Afinal, as pessoas não querem morrer, mas sim parar de sofrer", diz o psiquiatra Luiz Henrique Junqueira Dieckmann.

Outra medida válida é a procura por ajuda especializada o mais rápido possível. “É perfeitamente possível tratar transtornos mentais por meio de sessões com psicólogo e tratamento com psiquiatra. Contudo, o primeiro passo para melhorar é o diagnóstico”, conta o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Pedido de ajuda

Quem estiver precisando de apoio e quiser conversar sobre o assunto, o CVV oferece voluntários anônimos para conversar em diferentes canais. Para entrar em contato, basta ligar para o 188, número para todo território nacional, ou acessar o site do CVV.

Saúde mental

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