Por que corte no intestino pode ser delicado e ter tantas complicações como com Bolsonaro?
O candidato à presidência Jair Bolsonaro está novamente na UTI após passar por uma cirurgia de emergência na madrugada desta quinta-feira (13). Essa foi a segunda operação pela qual o presidenciável passou desde que Bolsonaro foi esfaqueado durante campanha em Minas Gerais. E o que parecia um ferimento superficial e simples, acabou se revelando algo bem mais grave.
Em São Paulo, internado no Hospital Albert Einstein, o político apresentou uma distensão abdominal progressiva, uma complicação comum ao tipo de lesão à qual foi submetido. No novo procedimento cirúrgico, a equipe médica precisou desfazer aderências no intestino do político e liberar o ponto de obstrução da região, segundo informações do boletim médico.
Entenda a seguir o motivo de o quadro oferecer tantas complicações, sendo que inicialmente até mesmo familiares de Bolsonaro diziam que o candidato estava bem e prestes a sair do hospital.
Ferimento de Bolsonaro: por que é arriscado?
O golpe de faca no abdômen de Bolsonaro gerou lesões tanto em seu intestino delgado quanto no grosso. Logo após o ataque, costuras foram feitas nos ferimentos do delgado, a parte lesionada do grosso foi retirada e uma bolsa foi acoplada ao corpo político para a coleta das fezes – esta última em um processo chamado colostomia.
“A pessoa que sofre esse trauma, acaba tendo uma dobra, o que impede o trânsito do alimento. O trajeto normal seria chegar ao ânus, mas ele foi interrompido. Então, as fezes saem numa bolsa”, indica Eduardo Grecco, gastrocirurgião e endoscopista do Instituto Endovitta.
Entretanto, pequenas aberturas podem permanecer nos intestinos, fazendo com que o organismo naturalmente tente recuperar os danos do ferimento.
A distensão abdominal que Bolsonaro apresentou deve-se a uma complicação nesse processo de recuperação do tecido lesionado e das funções do sistema digestivo: as aderências. Elas agem como um bloqueio ao fluxo intestinal, o que causa inchaço abdominal.
“O que aconteceu é que uma parte do intestino grudou na outra e impediu a movimentação do alimento. Como a dieta não evoluiu bem, a barriga inchou, ficou distendida”, explica Grecco.
De acordo com o especialista, em caso de distensões, há duas opões para o paciente: deixar o intestino volta a funcionar sozinho ou, quando há piora no quadro de saúde do paciente, submetê-lo a um procedimento cirúrgico.
Segundo Grecco, é comum que pacientes que sofreram esse tipo de lesão sejam submetidos a novas cirurgias até que fiquem totalmente recuperados.
“Agora, ele concertou o dano, vai refazer os passos anteriores, vai ter a mesma evolução, mas ainda existe o risco de ter uma nova aderência”, afirma o médico.
Por que ferimentos no intestino podem ser tão complicados?
Ferimentos por armas bancas, como facas, canivetes, entre outros, na região abdominal têm como característica oferecer riscos à vida da vítima de um golpe no local se o atendimento não for imediato.
A hemorragia na cavidade abdominal é a principal preocupação dos médicos quando o assunto é um golpe como o feito em Bolsonaro. Isso porque a região do abdômen é rica em vasos sanguíneos de grande fluxo.
“Há lesão de artérias ou veias, o que é gravíssimo, pois perde-se sangue e a pessoa pode até morrer”, diz Grecco.
Apesar de golpes na região não extravasarem sangue em demasia para fora do corpo, especialistas alertam que isso não é motivo para falta de preocupação. “O sangue precisa estar dentro das veias e artérias. Sangramentos internos são tão graves quanto externos”, diz Julio Peclat, diretor de publicações da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV).
Extravasamento de conteúdo intestinal e Sepse
Outro ponto que chama atenção é o risco de extravasamento do conteúdo presente no intestino grosso durante o trauma, que nada mais é do que fezes produzidas pelo organismo no processo final de digestão do alimento.
Esse material, em contato direto com o corpo, pode trazer infecções ao organismo. “E em casos de infecções grandes, gera a sepse, que é o quadro generalizado”, afirma Grecco.
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