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Ator é atingido por estilhaços de bala e faz texto comovente e muito real sobre violência

Publicado 5 Set 2018 – 02:20 PM EDT | Atualizado 5 Set 2018 – 02:20 PM EDT
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O ator Ícaro Silva usou seu Instagram para publicar uma carta a seus amigos e seguidores sobre a terrível experiência que viveu ao ser atingido por estilhaços de bala no Túnel Zuzu Angel, no Rio de Janeiro.

De maneira pessoal e, ao mesmo tempo, cruamente real, o artista relatou o episódio, envolvendo uma blitz policial que o parou e o momento em que ele viu que havia sido atingido por "um carimbo metalizado da violência urbana".

O relato é forte, mas necessário para compreender como a violência é, no Rio de Janeiro e em várias partes do Brasil, um problema urgente que recai sobre os governantes e a sociedade.

Ícaro Silva atingido por estilhaço de bala no RJ

Ícaro Silva contou que a ocorrência se deu dentro do Túnel Zuzu Angel, nas proximidades da Favela da Rocinha, na manhã de quarta-feira, 5 de setembro. Segundo o ator, ele estava indo para a Barra da Tijuca quando viu uma movimentação com viaturas e policiais armados, o que já provocou nele "aquele medo súbito que o carioca conhece tão bem".

Ele conta que um policial pediu para que ele abaixasse o vidro do carro, uma dupla da corporação chegou a se aproximar dele, mas mandaram o artista seguir viagem. Após acelerar o carro, Ícaro percebeu que havia um buraco feito pela bala de uma arma no para-brisa de seu carro e que estilhaços o haviam acertado.

"Sim, uma bala rasgou meu braço e deixou uns estilhaços ali, carimbo metalizado da violência urbana. Um pequeno pedaço de metal e morte que podia ter cruzado meu peito ou minha cabeça, um lembrete da nossa frágil condição de gente", conta, na publicação.

Estado de saúde e carta completa

De acordo com o site do jornal carioca Extra, o ator deu entrada no Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio e já recebeu alta. Na mensagem publicada em seu Instagram, Ícaro afirma que está bem e mostra uma imagem de seu braço enfaixado.

A imagem e o texto completo são bastante impactantes:

"Queridos amigos, amores, seguidores e parceiros, eu estou bem! Hoje mais cedo, ao sair do túnel Zuzu Angel voltando para a Barra, me vi em meio a uma violenta confusão que até agora não sei se era uma blitz, um tiroteio ou uma dessas operações de guerra infelizmente tão habituais na nossa cidade. Viaturas, policiais com fuzis na mão e aquele medo súbito que o carioca conhece tão bem. Um policial me pediu para reduzir e eu obedeci. Baixei o vidro e perguntei o que estava acontecendo. O nível de stress dele era muito alto, ele falava comigo diretamente do inferno, o coração em guerra. Outros dois policiais vieram gritando, os fuzis apontados para mim; não sei se me reconheceram ou não, mas com a mesma violência com que me pararam, me mandaram ir embora, xingando e berrando em seu estado de guerra. Quando eu voltava a acelerar e antes de entender o que estava acontecendo, um estampido no meu carro me congelou. “Isso é um tiro?” Os próximos vários confirmaram que sim. Abaixei a cabeça e enfiei o pé no acelerador como se tudo no mundo fosse tiro e pedal. Enquanto meu pé e meu coração aceleravam, minha sensação física era de “não precisa ser assim”. De fato, não precisa. Acelerei sem fim até me ver longe dali, o corpo em choque, a cabeça caçando sentido, como se houvesse algum nessa barbárie cotidiana que é o Rio, minhas mãos trêmulas. Só depois de respirar fundo percebi o buraco de bala no para-brisa do meu carro e minha blusa molhada. “Meu Deus. Eu levei um tiro?” Me apalpei até encontrar o furo ensanguentado no meu braço. Sim, uma bala rasgou meu braço e deixou uns estilhaços ali, carimbo metalizado da violência urbana. Um pequeno pedaço de metal e morte que podia ter cruzado meu peito ou minha cabeça, um lembrete da nossa frágil condição de gente. Eu tô legal. To muito feliz por não ter morrido, sério. Tem muita coisa pra fazer por aqui, muita coisa para ver e muita, muita coisa para consertar. Muito obrigado por todas as mensagens, to mais solicitado que no meu aniversário, rs. Vocês são lindos, são lindos demais. Espero que essa história infelizmente cotidiana nos inspire a desconstruir nossa agressividade diante da vida. É hora de desarmar e amar".

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