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Um ano do voo da Chape: sempre junto ao time, Henzel conta como reconstruiu a vida

Publicado 24 Nov 2017 – 05:02 PM EST | Atualizado 15 Mar 2018 – 11:20 AM EDT
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Dia 28 de novembro de 2016 entrou para a história do esporte como uma das mais tristes noites de todos os tempos. Sobrevoando o Cerro Gordo, na região de Antioquia, na Colômbia, o voo LaMia 2933 sofreu com a falta de combustível e caiu.

No avião estava toda a delegação de atletas, comissão técnica e diretoria da Chapecoense e mais diversos jornalistas que acompanhavam o clube, pela primeira vez em uma final de um torneio internacional, a Copa Sul-Americana.

Naquela noite, 71 pessoas não sobreviveram ao acidente. Seis delas suportaram o impacto da queda e resistiram por mais de 5 horas até que o atendimento médico chegasse ao local. Três deles eram atletas do clube: o goleiro Jakson Follmann (que teve a perna direita amputada), o zagueiro Neto (previsto para voltar ao gramados em 2018) e o lateral-esquerdo Alan Ruschel (que entrou em campo oficialmente em setembro e já está totalmente à disposição do técnico). A aeromoça Ximena Suárez e o técnico da aeronave Erwin Tumiri também sobreviveram à tragédia.

Rafael Henzel: a voz da recuperação

O sexto nome confirmado com vida foi o de Rafael Henzel, jornalista e narrador da Rádio Oeste, da cidade de Chapecó. Na verdade, a confirmação do quadro de saúde de Henzel foi um dos primeiros. O jornalista foi o segundo a ser resgatado pela equipe de brigadistas e chegou ao hospital em condições estáveis. “Eu fui abençoado com um milagre”, repete sempre que fala sobre o episódio.

Não é nenhum exagero de Henzel. Mesmo após sofrer com dois pulmões perfurados, 7 costelas quebradas, uma forte pneumonia, acúmulo de sangue nos pulmões, lesões nos dois pés e ferimentos no rosto, ele teve uma recuperação muito rápida. Em 15 dias, deixou o hospital colombiano e após mais 7 dias internado em Chapecó teve alta.

Uma das primeiras decisões que tomou foi de pisar novamente na Arena Condá, palco das conquista do clube. A última vez que entrara lá foi em um dos dias mais felizes da história da agremiação: o empate em 0 a 0 com o San Lorenzo, da Argentina, que confirmou a classificação para a final do torneio.

"O Verdão é finalista da Copa Sul-Americana. O meu coração se enche de alegria. A gente se emociona com o coração do torcedor. A Chapecoense é finalista, gente". Assim Henzel narrou e chorou quando aquela partida chegou ao fim, em 23 de novembro, depois de uma defesa histórica do goleiro Danilo.

No dia 21 de janeiro do ano seguinte, o narrador foi a voz que deu emoção ao gol do zagueiro Douglas Grolli, o primeiro da reconstrução do clube, em amistoso realizado na Arena Condá, no qual a Chape e o Palmeiras empataram em 2 a 2.

“Eu acreditei, não me entreguei”

“Realizei tudo aquilo que planejei na Colômbia porque eu acreditei. Acreditei em todos os momentos. Seja no avião, nos 2 minutos em que as luzes apagaram. Seja no meio do mato esperando por um socorro que durou 5 horas, quando eu desmaiava e voltava. Seja no hospital, com toda a dor psicológica e física que sofri. Com tudo isso, não me entreguei”, disse Henzel ao VIX.

O jornalista relatou que, quando ainda estava hospitalizado na Colômbia, definiu um plano para recuperar sua vida. Decidira que voltaria trabalhar 40 dias depois do acidente - e conseguiu. “Eu queria reencontrar meu público. Fica a lembrança e a tristeza sobre os amigos que se foram, que serão para sempre homenageados. Mas eu projetei minha vida para seguir adiante”, conta.

Um ano depois do episódio que chama de “segunda chance que Deus deu”, Henzel afirma que sua vida está como antes de novembro de 2016. “Sou feliz com minha família, jogo futebol três  vezes por semana e faço dois programas na rádio, de manhã e à tarde”, conta. Além disso, também dá palestras inspiracionais e escreveu o livro “Viva Como Se Estivesse de Partida”, publicado pela Principium Editorial, do Grupo Globo.

Como narrador oficial da Rádio Oeste, Rafael Henzel, assim que voltou a trabalhar, voltou a viajar com a Chapecoense para todos lugares do Brasil e da América do Sul. Fica a saudade dos amigos e colegas, mas o trauma, definitivamente, já passou.

Chape também dá a volta por cima

Depois de sua maior conquista, chegar à final da Copa Sul-Americana (que posteriormente reconheceu o clube como campeão), a Chape viveu o pior momento possível. Perdeu presidente, direção técnica e 19 atletas. Mas teria que seguir em frente.

“Com toda a dor, foi preciso encontrar uma alternativa, e decidiu pela melhor: seguir com o futebol”, afirma Henzel. “A cidade já havia sofrido, perdido amigos… a relação era muito próxima com os moradores, Chapecó é uma cidade pequena de 200 mil habitantes [166.040, segundo o Censo de 2010]”, relata o jornalista.

O clube resistiu, montou uma nova estrutura de trabalho e recompôs o time com jogadores de todo o país. Confiando em sua capacidade de recuperação, a direção recusou a oferta da CBF para que a Chape estivesse imune ao rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 2017. E deu certo.

“Em campo, friamente observando, foi um ano sensacional. O clube entendeu que era necessário lutar e jogamos para valer, e ficamos na Série A para 2018”, celebra. Faltando duas rodadas para o fim do campeonato, a Chapecoense está na 12 posição, lugar que garante classificação para a Copa Sul-Americana do ano que vem.

Um ano de saudade

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