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Relatos de relações abusivas da ex-BBB Gizelly e sua mãe são alerta para todas as mulheres

Publicado 15 Mai 2020 – 03:31 PM EDT | Atualizado 15 Mai 2020 – 03:39 PM EDT
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A ex-BBB e advogada criminalista Gizelly Bicalho deu um corajoso e extremamente importante relato dos relacionamentos abusivos que ela própria e sua mãe viveram.

As histórias causaram indignação na apresentadora Márcia Goldschmidt, que entrevistava a ex-sister através de uma chamada de vídeo para seu canal no YouTube, e, apesar de profundamente tristes, podem servir de alerta para todas as mulheres.

Gizelly Bicalho relata relacionamentos abusivos

A advogada começou dando detalhes da história de seus pais, já que sua mãe, Márcia Machado, foi vítima de violência doméstica desde antes de engravidar até o dia em que seu marido morreu, segundo contou Gizelly.

"A minha mãe foi vítima de violência doméstica e eu assisti tudo. O namoro dela já era abusivo, ela me conta [as histórias] hoje e eu falo: 'Como você se casou com esse cara?', e esse cara é o meu pai. Já era um namoro abusivo porque os abusivos não começam te batendo, não é assim que começa. É [controlando] a roupa, é te podando com os amigos, é te colocando pra baixo, tirando sua autoestima, depois vem grito, depois vem empurrão, e depois que ele vai te bater. E aí ele consegue te dominar. Minha mãe parou de estudar no segundo ano para se casar. Se casou, foi para outra cidade, com a família dele, e lá ele começou a agredir. Nisso, ela engravidou de mim. Ele bateu nela grávida, ela fugiu de casa, foi para a casa dos meus avós, e ele foi lá falando que ama e tudo. Ela voltou para casa e nisso eu nasci. Com 15 dias [após o parto], ele voltou a bater nela, a espancar ela. E ele a espancou até que ele morreu. No dia em que ele morreu, eu lembro perfeitamente, foi o único dia em que ele não bateu nela. Eu tinha seis anos. Minha avó falou: 'Vai lá ficar com seu pai e com sua mãe', e eu falei: 'Não, vó, hoje meu pai e minha mãe não estão brigando.' Era braço [machucado], tem uma parte aqui [na cabeça] que minha mãe não tem cabelo porque ele deu uma coronhada de revólver na cabeça dela, porque naquela época era normal todo mundo andar armado. Por isso meu posicionamento, eu não concordo com armar a sociedade de novo, porque eu vivi na pele o que é [ter] um homem armado dentro de casa, o que ele pode fazer. Ela tirava fotos [dos hematomas] para um dia fazer alguma coisa, só que esse dia nunca chegou. E ele era uma pessoa muito agressiva, mas era um ótimo pai para mim. (…) [Ela não o deixava porque ele dizia]: 'Eu vou tirar a Gizelly de você, eu vou te matar. Você é uma pobre, é uma pobre coitada, vai passar fome sem a sua filha e ainda te mato'. E ela ficou nesse relacionamento até ele morrer do jeito que morreu. Para mim, ele era um ótimo pai, fazia tudo, sé que um étimo pai não bate na mãe na frente da filha. Eu estava no meio com quatro anos para defender minha mãe."

Em seguida, a ex-BBB deu detalhes da própria história. Ela também viveu um relacionamento abusivo durante quatro anos, em que o ex-namorado cometia violência psicológica, manipulação e a isolava de amigos e familiares.

Segundo Gizelly, ela decidiu terminar a relação quando chegou ao ponto de se mutilar devido ao estado emocional em que o relacionamento a havia deixado.

"Tem vários tipos de violência: psicológica, financeira, vários. Muitas mulheres sofrem algum tipo de violência dentro de casa ou com namorado e nem sabem que é [violência]. Ele começa a tirar sua autoestima e te tirar do grupo de amigos e, quando você vê, já está ali. E na violência psicológica, que é a primeira que ele faz, você está completamente envolvida com aquela pessoa, e o homem pede perdão e você acaba perdoando. [Ele diz:] ‘Não vou fazer de novo’, e ele vai fazendo de novo. Por isso, pelo amor de Deus, gente: nunca, nunca falem que a mulher gosta de apanhar. Ninguém gosta de sofrer, gente. É vítima. [Ele me dizia:] ‘Fulana não gosta de você, ela não é tão sua amiga assim.’ Parei de andar com a fulana. ‘Quem usa decote é tal tipo de mulher.’ Parei de usar decote. (…) Comecei a abandonar a família, ficar só com a pessoa. (…) Nesse dia [em que terminei a relação], eu tinha ido para a casa dele, rodei 300 km para ficar com ele, cheguei lá e ele não me deu atenção um dia. Aí eu fiquei triste, mas no outro dia ele também não me deu atenção, não estava nem aí para mim. Eu falei: ‘Cara, você não vai ficar comigo?’ Ele falou: ‘Olha, eu tenho minha rotina - e a gente se via uma vez ao mês – e se você quiser, eu vou ficar com você hoje de 22h a meia-noite, a gente vê um filme.’ Eu comecei a chorar e ele começava a rir da minha cara. [Dizia:] ‘Pelo amor de Deus, por que você está chorando? Nada a ver! Eu tenho que fazer as minhas coisas, eu tenho minha vida, você que se adapte quando vier.’ Eu chorava, chorava, chorava e comecei a surtar, comecei a gritar. E o ápice foi - eu não vou ter vergonha de falar porque acho que muita gente passa por isso - eu comecei a me cortar com a unha, porque eu estava no fundo do poço. Comecei a fritar, chorar, rolar no chão e me cortar. Aí eu pensei: ‘Meu Deus, o que que eu estou fazendo minha vida?’ Naquele dia acabou. Eu arranhava minha barriga e no outro dia olhava aquilo... Peguei carona no outro dia cedo, vim embora e nunca mais voltei com ele. Eu ficava muito envergonhada de mim porque tive um surto, só que eu consigo entender hoje que aquilo foi minha válvula de escape, eu não aguentava mais. Toda vez que eu olhava para aquilo, para aquela mancha na barriga que eu tinha de unha, eu pensava: ‘Eu não posso voltar para essa pessoa, olha o que eu fiz comigo.’"

A advogada diz que a terapia a ajudou a quebrar o ciclo de repetição da história da mãe e defende que a informação é a melhor forma de “despertar” outras mulheres sobre situações abusivas que possam estar vivendo. Segundo ela, se alguma amiga a tivesse dito que estava vivendo um relacionamento abusivo, ela não teria acreditado.

“A gente tem que ter um despertar, um acordar para o que está acontecendo. Eu não sabia o que era um relacionamento abusivo. Para mim, era uma pessoa bater na outra. Acho que a informação de falar: ‘Ei, quando ele faz isso e isso, quando fala isso, ele está sendo abusivo’ [faz] a pessoa começar a se comparar: 'Nossa, mas o meu relacionamento é isso'."

Confira a entrevista completa:

Relacionamento abusivo

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