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Por que é difícil para a vítima reconhecer que está em uma relação abusiva e sair dela?

Publicado 4 Out 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 02:21 PM EDT
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Baseado, sobretudo, no controle psicológico sobre o outro, o relacionamento abusivo não se mostra assim logo de cara. A relação se torna agressiva aos poucos e, de início, chega até mesmo a parecer perfeita.

Ela também não tem cara. Ao contrário do que o senso comum supõe, relações de controle emocional, físico e sexual podem se desenvolver entre parceiros com um elevado nível intelectual.

Perfil da vítima

O nível de subordinação das vítimas aos seus agressores, entretanto, pode variar um pouco dependendo de fatores socioeconômicos. Por exemplo, uma pessoa esclarecida intelectualmente e com independência financeira terá menor vulnerabilidade, uma vez que ela terá meios de manter a sua subsistência sozinha, caso a união se torne tóxica.

Todos, entretanto, estamos sujeitos a nos envolver – e sermos sugados – por uma paixão negativa. E, em alguns casos, mesmo com todos os sinais de alerta, o indivíduo não tem suporte suficiente para se reconhecer como vítima e acabar com o ciclo de violência.

Sair de um relacionamento abusivo: por que é tão difícil?

Negação

Um estudo realizado por pesquisadores do Canadá e dos Estados Unidos com 611 mulheres de idade média de 35 anos, afrodescendentes e de baixa renda mostrou que muitas das vítimas de abuso psicológico crônico ainda vêem certas características positivas em seus agressores.

De acordo com os estudiosos, essas mulheres destacam qualidades como fidelidade e carinho. Essa seria, para eles, uma das principais explicações para elas ainda insistirem em manter os laços afetivos.

Dependência afetiva

Os dados da pesquisa evidenciam um perfil entre vítimas e abusadores. No primeiro grupo, observa-se a dependência emocional, carência e medo de abandono enquanto que no segundo grupo é nítido o comportamento controlador e ameaçador.

Para manter este controle e reforçar o medo de abandono da parceira, o agressor se coloca como uma pessoa "caridosa", que atura e aceita a companheira apesar de todos os seus defeitos.

Mesmo diante do nítido controle psicológico, sozinha a mulher não consegue diferenciar o que é amor e o que é dependência. Normalmente, as vítimas de relacionamentos abusivos aprenderam, em alguma fase da vida ou ao longo da vida, que isso é normal e aceitável. 

Famílias desestruturadas, com episódios de violência ou de ciúmes e controle extremo, podem ter contribuído para que a vítima associasse o amor à dor e ao desrespeito.

“De forma geral, as vítimas permanecem em relacionamentos tóxicos porque sentem uma grande cobrança para que o namoro/casamento dê certo, ignorando os sinais de violência”, explica Yuri Busin, psicólogo diretor do CASME - Centro de Atenção a Saúde Mental e Equilíbrio.

Dependência financeira

Outra questão bastante importante e recorrente é a dependência financeira da vítima e o medo de que o agressor afaste os filhos dela.

Conforme explica Mario Louzã, psiquiatra pós-doutorando no Instituto Central de Saúde Mental em Mannheim, Alemanha, muitas das vítimas se preocupam com os filhos, ou não têm condição financeira para se manter sozinhas, seja porque não trabalham ou porque tiveram que largar a carreira e estudos por pressão do parceiro.

Ele não aceita o fim do relacionamento

Algumas vezes, a pessoa consegue perceber que está em uma situação ruim, porém, tem dificuldade para sair dela, pois tem medo das possíveis reações do abusador caso rompa essa relação.

Casos recentes de feminicídio comprovam que não são raros os casos de mulheres mortas por ex-parceiros que não aceitaram terminar a união. 

“A pessoa abusada muitas vezes tem medo das consequências que pode sofrer em caso de romper essa relação. De certo modo, já foram ameaçadas, inclusive de sua própria vida, se vierem a terminar”, conta Mario Louzã. 

De acordo com o especialista, diante de um relacionamento tóxico, as vítimas sentem que não terão sossego, que serão perseguidas e atormentadas caso decidam por um fim. “Para que possam fazê-lo, é preciso que tenham uma rede de apoio muito sólida que possa de fato garantir sua integridade, inclusive física”, completa o especialista. 

Diferentes tipos de violência na relação

As vítimas de relacionamentos abusivos estão sujeitas a basicamente três tipos de violência: física, sexual e psicológica, sendo que não necessariamente elas ocorrem de maneira isolada da outra.

A violência física inclui tapas, socos, chutes, empurrões, queimaduras, sufocamento, mordidas ou agressões com objetos. A violência sexual inclui o sexo forçado e a recusa de uso de métodos contraceptivos. 

A violência emocional é a mais difícil de reconhecer entre as três e inclui humilhação, intimidação, coerção, ciúme extremo e isolamento da vítima de familiares ou amigos. Isso pode se dar através de manipulação psicológica ao invés de gritos e ameaças explícitas - daí a dificuldade em identificá-la como uma agressão.

Violências contra a mulher

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