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Caso de Yuri e Monick em "A Fazenda" ajuda a reconhecer namoro abusivo, diz psicóloga

Publicado 8 Nov 2017 – 04:48 PM EST | Atualizado 15 Mar 2018 – 01:09 PM EDT
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"A Fazenda: Nova Chance”, reality show da Rede Record, ganhou destaque nas redes sociais graças a agressões e abusos que ocorreram no relacionamento de  Yuri Fernandes e Monick Camargo.

O lutador, que é ex-participante do Big Brother Brasil, e a modelo formaram um par romântico durante o programa, e a relação tem gerado muita discussão fora da casa.

Segundo a doutora em psicologia Ligia Baruch, autora do livro "Tinderellas", debater o caso polêmico pode ser importante para ajudar a entender o que é uma relação abusiva.

Relacionamento de Yuri e Monik

O episódio mais recente que gerou debate na internet aconteceu durante uma festa, após Monick discutir com Yuri por ciúme. O desentendimento teve início quando a participante acusou o ex-BBB de ficar olhando outra mulher dançar. Ela, então, tentou entrar sozinha na casa, mas ele a impediu, e os dois começaram a brigar.

Durante o bate-boca, o lutador pressionou a modelo contra a parede, puxando seu cabelo, enquanto esbravejava: "Você louca! Quando que eu fiquei olhando e conversando com ela?" Fernandes ainda tentou beijá-la à força, mas Monick se esquivou dos avanços do rapaz.

Mas essa não foi a primeira vez que a relação entre o casal foi apontada como sendo abusiva por telespectadores do reality. O par frequentemente tem brigas acaloradas e discussões por ciúme, inclusive com troca de ofensas.

Em outra ocasião, Yuri chegou a dar um tapa na cara de Monick após chamá-la de "cadela no cio". A modelo tentou revidar, mas o lutador se esquivou.

O que é um relacionamento abusivo?

“Se tem mais tensão do que ajuda mútua, a gente já pode falar de relacionamento abusivo”, afirma Baruch. Na análise dela, há situações que são vistas erroneamente como demonstrações de amor e de cuidado - como beijo forçado ou ciúme excessivo - e que são, na realidade, formas de agressão.

Forçar contato íntimo

"Isso passa despercebido porque ainda existe essa crença popular de que quando uma mulher diz 'não' ela está só fazendo charminho e 'pedindo' para o cara tentar mais um pouco. Mas forçar um beijo é, sim, agressão", afirma Baruch.

Segundo ela, esse comportamento é fruto da construção do perfil masculino na nossa cultura. "É a encenação do papel de macho, que valoriza características que beiram a violência e a agressão. O limite que separa o 'homem másculo' da violência é bem tênue", adverte.

O mesmo vale para contatos sexuais forçados, dentro ou fora de um relacionamento. Recentemente, o tema foi abordado em rede nacional pela novela "O Outro Lado do Paraíso" (TV Globo), que mostrou uma cena de estupro marital, isto é, praticado pelo marido contra a própria esposa.

Violência verbal e humilhações em público

“Muitas vezes, o abusador humilha ou critica a pessoa abusada em uma situação social, ou as demais pessoas podem perceber o olhar de reprovação do abusador sempre que a pessoa abusada tenta expressar alguma ideia própria ou começa a falar de algum assunto na roda da conversa”, exemplifica Mario Louzã, psiquiatra pós-doutorando no Instituto Central de Saúde Mental em Mannheim, Alemanha.

Porém, em certas ocasiões, a violência verbal não é tão explícita assim. Como explica Louzã, muitos abusadores são perspicazes o suficiente para não deixar transparecer tais características em público, sendo discretos e procurando isolar a pessoa abusada para que ela não tenha chance de se expressar.

Controle psicológico

Os abusadores, não raro, possuem um perfil controlador e manipulador, que vai minando a autoestima e a confiança das vítimas, fazendo-as acreditar que não são merecedoras de amor ou carinho.

Geralmente, eles conseguem "inverter o jogo" e colocar o comportamento agressivo sempre como uma resposta a algo que a vítima tenha feito - por exemplo, uma atitude tida por ele como inadequada, uma contestação ou reclamação feita pela vítima, etc. A violência, portanto, é colocada como um ato necessário e de caráter corretivo.

Baruch define como problemática a relação que não necessariamente envolve violência física, mas nem por isso é menos danosa. Ciúme, como explica, não pode ser confundido com amor. “Ciúmes é posse e parte de pessoas inseguras”, diz.

Violência física

Em casos mais graves, a agressão chega ao ponto de ser física, com tapas, beliscões, puxadas de cabelo, socos, chutes e até ataques com armas, produzindo ou não marcas visíveis.

É muito comum que a vítima se sinta envergonhada e culpada pela violência sofrida, procurando, assim, inventar desculpas para justificar as marcas ou mesmo o comportamento do agressor.

Como sair de um namoro tóxico?

Por que é tão difícil?

Yuri Busin, psicólogo diretor do CASME - Centro de Atenção a Saúde Mental e Equilíbrio, explica que os relacionamentos se tornam agressivos aos poucos, por isso é tão difícil que a vítima ou mesmo pessoas próximas o reconheçam.

Além disso, diz ele, a pessoa abusada geralmente sente uma grande cobrança para que o namoro ou casamento dê certo e, por isso, acaba ignorando os sinais de violência.

Para o psiquiatra Mario Louzã, é comum que a vítima tenha aprendido em alguma fase ou ao longo da vida que o controle e o comportamento violento são normais e aceitáveis dentro da relação, seja pelo modelo aprendido em casa ou pela própria cultura da criação.

Conselhos de especialistas

Atentar-se aos sinais é o primeiro passo para identificar que não há respeito ou liberdade na relação. Caso a vítima não consiga, sozinha, reconhecer o abuso, é válida a intervenção dos amigos e familiares.

O tratamento psicoterápico pode ser útil para empoderar a vítima e dissolver a culpa que muitas sentem diante da possibilidade de romper o enlace. Nos casos de vítimas de violência psicológica, também é importante para restituir a autoconfiança e individualidade do sujeito.

Louzã destaca, ainda, o medo que as pessoas nessa situação sentem em romper a relação, já que estão lidando com um perfil violento e muitas, inclusive, já foram ameaçadas pelo par.

“Para que elas consigam terminar com o agressor, é preciso que tenham uma rede de apoio muito sólida que possa de fato garantir sua integridade, inclusive física”, indica o especialista.

Conforme indica Busin, ao romper, é interessante procurar tratamento psicológico para entender o que aconteceu e conseguir fortalecer a autoconfiança novamente. Ao mesmo tempo, caso tenha ocorrido violência física ou sexual, é necessário denunciar o agressor às autoridades.

Casos na TV levantam debates importantes

No começo de 2017, o médico e também atual participante de "A Fazenda"  Marcos Harter foi expulso do Big Brother Brasil 17 (BBB), da Rede Globo, depois de acuar Emilly Araújo, vencedora da edição do reality, contra uma parede. Ele a intimidou com o dedo em riste, gritou com ela, a beliscou e apertou o seu pulso. 

Após as imagens serem exibidas pela emissora, os fãs do reality exigiram uma providência das autoridades e a expulsão do médico. O caso, apesar de trágico, foi importantíssimo para trazer à luz o debate acerca do que é ou não relacionamento abusivo e ajudar vítimas a se reconhecerem como tal.

Posteriormente, a polêmica motivou internautas a se pronunciarem nas redes e relatarem abusos vividos em relações passadas, usando a hashtag "Eu vivi um relacionamento abusivo".

O movimento não só possibilitou que vítimas falassem de seus traumas, ajudando-as a lidar com eles, como chamou atenção para diversas formas comuns de abusos que são tidas como condutas normais.

Poder feminino:

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