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Brasileiros elaboram forma mais eficiente que existe de explorar e classificar novas galáxias

Publicado 4 Ago 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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O mais alto nível do trabalho da astronomia não depende apenas de apontar o telescópio para o céu e enxergar planetas, estrelas ou galáxias. Sobretudo quando se trata de novas descobertas. Os cientistas precisam observar, classificar e compreender - ou pelo menos supor hipóteses - suas características e ciclo de vida.

Um projeto desenvolvido por brasileiros é a mais nova, e eficiente, ferramenta para isso.

Sistema brasileiro em busca de galáxias 

O trabalho “ A probabilistic approach to emission-line galaxy classification” (“Uma abordagem probabilística para a classificação de galáxia por linhas de emissão”, em tradução livre) foi liderado por Rafael S. de Souza, pesquisador pela Universidade da Carolina do Norte e vice-presidente da International Astrostatistics Association e fundador do Cosmostatistics Initiative (COIN), e Maria Luiza Dantas, doutoranda em arqueologia e evolução das galáxias pelo IAG-USP, e envolveu uma equipe internacional de cientistas.

O trabalho apresenta um modelo matemático para analisar conjuntamente dois esquemas tradicionais de classificação das linhas de emissão de ondas das galáxias.

Isso significa que os cientistas aplicaram a um modelo estatístico e de machine learning (forma de aprendizado de padrões pelos computadores) os mais eficientes critérios e técnicas de classificação de galáxias.

Assim, o sistema pode extrair informações e classificá-las diretamente a partir de suas propriedades físicas, por meio de um espectrômetro - instrumento que mede as propriedades da luz.

Desse modo, o modelo proposto pelos brasileiros consegue analisar os espectros automaticamente e, com essas informações, classificá-las em, por exemplo, galáxias mais jovens ou galáxias que possuem um buraco negro no centro, explica Rafael de Souza.

“Ao classificar propriamente estes objetos de forma automatizada conseguimos entender melhor suas propriedades e consequentemente entender um pouco mais como o Universo evolui”, afirma Rafael.

Ao trabalhar com a eficiência automatizada das máquinas, o método é mais rápido e mais eficaz que as classificações definidas pelos próprios cientistas. “Nosso método é capaz de fazer classificações tão boas ou melhores do que em relação ao ser humano, e, além de tudo, mantendo a consistência com a teoria astrofísica por trás”, explica Maria Luiza Dantas.

Como trabalho foi desenvolvido

A ideia nasceu de uma conversa entre Rafael e Maria Luiza em julho de 2015. Os dois desenvolveram o projeto até a realização do evento internacional COIN Residence Programme, realizado em 2016 em Budapeste, quando o trabalho passou a contar com a colaboração de cientistas estrangeiros - a equipe tem membros australianos, húngaros, portugueses, sul-africanos e sul-coreanos.

“A astronomia é uma ciência bastante globalizada, no sentido que se por um lado somos certamente sujeitos ao poder de investimento do país que estamos, por outro temos o hábito de colaborar com pesquisadores do mundo todo para execução dos trabalhos”, explica Rafael, que já trabalhou no Japão, Alemanha, Coréia do Sul e Hungria antes de se estabelecer nos EUA.

“Este trabalho em particular é bastante internacionalizado, o que mostra que trabalhos desenvolvidos por brasileiros são competitivos a nível internacional, desde que haja o incentivo necessário”, afirma Maria Luiza.

O projeto foi apresentado oficialmente na "European Week of Astronomy and Space Science", realizado em Praga.

Preocupação com ciência brasileira

O progresso da participação brasileira em grandes eventos ou projetos multinacionais é motivo de preocupação para a dupla de cientistas. Os cortes de bolsas, fim de programas de pesquisa no exterior e até o risco de paralisação total de universidades, caso da UERJ, são sinais alarmantes para a ciência brasileira, desde a decisão, em abril, do corte de 44% no orçamento federal para Ciência e Tecnologia.

“Faço um apelo para que isso seja revertido o quanto antes, pois arriscamos arruinar, na melhor das hipóteses, toda uma geração de cientistas deste país”, pede Maria Luiza.

Ciência no Brasil

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