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Novelas e TV-Zappeando

Cena em que Ivana se revela à família emociona e faz história na TV brasileira

Publicado 30 Ago 2017 – 11:03 AM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 02:48 PM EDT
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Um desabafo que ficará marcado na história da teledramaturgia brasileira. A cena em que Ivana, personagem de Carol Duarte em "A Força do Querer", se revelou um homem transexual à família emocionou tanto o público quanto os atores em cena. Com um texto afiado e direto, com uma crueza que se faz necessária em temas difíceis, Gloria Perez chegou ao clímax da narrativa da personagem mais importante da novela, do ponto de vista social.

Ao longo dos meses, a autora tratou com muito cuidado o tema, introduzindo aos poucos o dilema de Ivana e tornando o público seu cúmplice nessa descoberta, como bem pontuou  a atriz Carol Duarte em entrevista recente ao VIX. E essa cumplicidade foi posta à prova no ápice da personagem.

Aos gritos, como quem vive com essa realidade entalada na garganta desde o dia em que nasceu, Ivana revelou à família: "Eu não sou uma mulher, eu sou um homem, nunca fui uma mulher, nunca! Eu sou um homem que nasceu assim, nesse corpo errado". 

Carol Duarte, estreante na TV, mostrou todo o seu talento numa atuação densa que permitiu ao público enxergar todas as camadas da personagem. A sutileza em torno do tema ganhou a urgência que merece durante a revelação, que foi dividida em três grandes momentos e já pode ser considerada como uma das cenas mais importantes da TV brasileira.

Revelação de Ivana em "A Força do Querer"

Choque da família

Numa reunião familiar, Ivana contou sua história e pediu o apoio da família. Não conseguiu. Apenas a prima Simone, vivida pela ótima Juliana Paiva, se manteve ao seu lado e tentou acalmar os ânimos. Joyce, numa atuação impecável de Maria Fernanda Cândido, rebateu da maneira mais "óbvia": "Você enlouqueceu!". A dondoca que nunca aceitou o jeito da filha se desesperou e tratou o caso como um problema médico.

Eugênio, o grande confidente de Ivana, tentou se controlar, mas ficou visível na expressão de Dan Stulbach o desespero contido do pai que tenta convencer a filha de que o que ela sente é resultado dos hormônios. Já Ruy, interpretado por Fiuk num desempenho limitado, veio com uma terceira visão, perguntando se a irmã não seria lésbica. 

A discussão em família foi tensa, dramática e envolvente, trazendo três versões do senso comum ao reagir à realidade trans.

Libertação de Ivana

Depois das reações da família, Ivana teve um momento de libertação ao cortar os cabelos e se sentiu cada vez mais como Ivan. Com a trilha que marcou a trajetória da personagem, acompanhamos o sorriso - e os gritos - dela ao se libertar dos fios compridos e se reconhecer cada vez mais no espelho. Ela é surpreendida pela mãe, mais calma, e diz: "Olha, mãe, sou eu, esse sou eu de verdade".

Cumplicidade entre Ivana e Joyce

O momento de cumplicidade entre mãe e filha trouxe os dois lados: enquanto Ivana tenta explicar a Joyce que ela teve dois filhos, a personagem de Maria Fernanda Cândido consola a filha - e a si mesma - quando diz que não desistiu dela e que vai ajudá-la, mesmo que não seja a ajuda de que Ivana precisa.

Enquanto Joyce conta a Ivana como se enxergava nela e sempre teve orgulho de sua menininha, ela pede desculpas à mãe, dizendo que não queria nascer assim. Foram breves minutos em que as duas baixaram a guarda, e emocionaram no momento de maior intimidade entre elas.

Com um texto sensível de Gloria Perez e a direção artística acertada de Rogério Gomes, o capítulo de "A Força do Querer"  de 29 de agosto ficará marcado na história da TV brasileira como o dia em que, pela primeira vez, a transgeneridade ganhou o espaço nobre da maior emissora do País e mostrou uma de suas facetas, na tentativa de levar ao público a discussão necessária ao tema. 

Mais uma vez, assim como fez com as Mães da Sé em "Explode Coração", com a fertilização in vitro em "Barriga de Aluguel", com a esquizofrenia em "Caminho das Índias" e em tantas outras novelas, Gloria Perez usa seu poder e influência com maestria e pauta não só a imprensa, como a sociedade brasileira. 

De acordo com um levantamento da organização Transgender Europe, de 2016, o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo, e trazer luz a essa comunidade é um pequeno - e importante - passo a favor da tolerância. 

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