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Vacina cubana é mesmo cura do câncer? O que se sabe sobre ela e quando virá ao BR?

Publicado 24 Mai 2017 – 02:15 PM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 08:39 AM EDT
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Publicado em 24/05/2017

No mundo, quase uma em cada seis mortes acontece em decorrência de algum tipo de câncer. Em 2015, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 8,8 milhões de pessoas morreram por conta da doença.

Entre tantos tipos, o tumor maligno no pulmão é o de maior incidência na população e, por ser agressivo, apresenta uma taxa de mortalidade de cerca de 90%.

“É de longe o que mais mata em todo mundo. Mais do que câncer de próstata, mama e de intestino juntos”, afirma o médico oncologista e pesquisador do Instituto Nacional de Câncer José Alencar da Silva (INCA) Luiz Henrique de Lima Araújo.

Além disso, os vários tipos de câncer também afetam a economia global. O custo econômico anual para tratar os pacientes, de acordo com a OMS, foi estimado em 1,16 trilhão de dólares em 2010 — e o número só aumenta.

Vacina cubana e a "cura" para o câncer

As estatísticas em relação ao câncer de pulmão incentivam cada vez mais pesquisas para o seu tratamento. E uma vacina terapêutica, criada por uma das medicinas mais avançadas do mundo, pode ser a solução para a doença.

A CIMAvax-EGF foi desenvolvida ao longo de 25 anos pelo Centro de Imunologia Molecular (CIM), em Cuba, e registrada como vacina terapêutica em 2011. Com altos índices de eficácia, baixo custo e poucos efeitos colaterais, ela já foi referida como a possível cura para o câncer.

No país caribenho, pacientes já são tratados com ela. Mas, agora, uma nova fase de testes promete ainda mais descobertas. Graças à recente reaproximação diplomática entre Cuba e os Estados Unidos, a vacina está passando por ensaios clínicos no Instituto do Câncer Roswell Park, em Nova York, e poderá ser testada no Brasil e outros países em breve.

Pode mesmo curar o câncer de pulmão?

Mas, afinal, qual é a grande promessa deste medicamento? Embora ainda tenha um longo caminho de pesquisas pela frente, os resultados até agora são bem animadores.

Barata e pouco tóxica para o organismo, o remédio tem se mostrado eficaz em pacientes com a doença em estágio avançado que, mesmo depois de quimioterapia e radioterapia, não têm mais possibilidades de tratamento.

A grande expectativa é de que a CimaVax transforme o câncer avançado em uma doença crônica controlável. E o melhor, a baixo custo: estima-se que cada dose custe apenas US$ 2 (cerca de R$ 6) - um paciente em tratamento precisa de 4 doses semanais.

Em um estudo cubano, mais de 4.000 doentes em fase metastática (quando o nódulo se espalha para outros locais do corpo) foram tratados com injeções da droga. A pesquisa mostrou um aumento de 4 meses, em média, na sobrevida desses pacientes. Além disso, são notados poucos efeitos colaterais, baixa toxicidade e mais energia e qualidade de vida.

“Há indícios de que em dois anos 30% dos pacientes continuam vivos. Esse é um número bom para quem teve câncer de pulmão. Mas é preciso continuar os estudos para aumentar esse benefício”, aponta o pesquisador do INCA sobre as estatísticas cubanas.

Como a CimaVax funciona no organismo

O paciente em tratamento recebe a droga via injeção no braço e na perna. “No primeiro momento, ela precisa ser aplicada em 4 doses semanais. Depois, é feita uma manutenção mensal”, comenta Araújo sobre o modo como a vacina é utilizada atualmente em Cuba.

O mecanismo de ação da CimaVax é diferente de outras terapias tradicionais. A célula cancerígena consegue crescer por se camuflar ou paralisar os soldados do sistema imunológico. Um dos responsáveis por isso é uma proteína presente em todos nós: o fator de crescimento epidérmico, que estimula a reprodução de células no nosso corpo (o câncer ocorre quando as células nocivas se reproduzem de forma desenfreada).

Nos tratamentos clássicos, como a quimioterapia, a radioterapia e a terapia-alvo, o tumor é diretamente atacado. No caso do remédio cubano, o tratamento é classificado como imunoterápico. Isso significa que, ao invés de atacar o tumor, ele estimula o próprio organismo a gerar anticorpos contra esta proteína que serve de alimento para o câncer, brecando, portanto, a doença.

A imunoterapia tem sido aplicada em pacientes que, após passarem por radio e quimioterapia, são considerados terminais, pois não há alternativas de tratamento e o câncer já se espalhou para várias regiões do corpo.

A CimaVax pode controlar e até mesmo reverter o crescimento do tumor, sem a toxicidade associada, e vem inclusive mostrando resultados promissores no tratamento de outros cânceres, como de cabeça e pescoço (garganta, faringe, língua e boca).

Por que câncer de pulmão?

Segundo a OMS, câncer é a segunda maior causa de morte em Cuba, sendo o de pulmão o que mais mata homens no país junto com o tumor de próstata. De acordo com o oncologista pesquisador do INCA, a maioria dos pacientes no mundo descobre o câncer de pulmão em estágio avançado, quando, geralmente, a cirurgia já não é mais indicada.

Isso acontece por que é uma doença que avança de forma lenta e gradual, com sintomas muitas vezes ignorados. Sendo assim, a chance de o tumor já estar em outros órgãos quando diagnosticado é grande, dificultando as possibilidades de tratamento.

Para tratar um câncer no pulmão, a primeira opção é a cirurgia, sempre que possível. “Mas só pode ser usada em 15% dos casos. Nos demais, já não é recomendado”, fala o oncologista.

Depois disso é a vez da quimioterapia, da radioterapia e da terapia-alvo. No caso do último estágio do câncer, o metastático, quando surgem outros tumores pelo corpo, a imunoterapia, caso da CimaVax, tem mostrado excelentes resultados.

Parceria entre Cuba e Estados Unidos

Promissora como tem se mostrado, a CimaVax chamou atenção de outros países, incluindo os Estados Unidos. Em 2015, as duas nações fecharam um acordo de exportação da vacina cubana para o país norte-americano após uma visita comercial do governador do estado de Nova York, Andrew Cuomo, em busca de novos negócios.

Agora, na Roswell Park, a CimaVax passa por novos ensaios clínicos para acelerar e aprimorar as possibilidades de tratamento do câncer. De acordo com o oncologista do INCA ouvido para esta reportagem, os experimentos ainda estão na primeira etapa.

Na fase I, é feita a busca por informações como doses e frequência de uso da droga; na fase II, pacientes usam o medicamento; e na fase III, o estudo se torna internacional, com possibilidade de várias pessoas ao redor do mundo o testarem.

É nesta última etapa que os brasileiros podem ter a chance de entrar em contato com a CimaVax. “É muito provável que dentro de 2 ou 3 anos dados mais concretos sejam apresentados e a pesquisa siga para a última fase”, estima Araújo.

Brasil tem vacina contra o câncer parecida

No Brasil, uma droga terapêutica muito similar à vacina cubana já existe há alguns meses. Trata-se do nivolumabe, desenvolvido para tratar câncer de pulmão e melanoma e que também trabalha no sistema imunológico.

Aprovada recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a droga é vendida com o nome comercial Opdivo pela farmacêutica norte-americana Bristol-Myers Squibbo.  

“Pacientes tiveram uma redução objetiva dos tumores e alguns até desapareceram. Há casos ainda em que indivíduos estão há mais de cinco anos sem a volta da doença”, comenta o especialista do Instituto Nacional de Câncer sobre a alternativa já presente no Brasil.

Segundo informações da farmacêutica, o medicamento pode ser obtido em qualquer cidade do país. Basta pedir ao médico que o solicite através do sistema privado de planos de saúde.

Por que ainda é pouco usado?

Assim como a CimaVax, o Opdivo é uma imunoterapia que breca o crescimento do tumor. Mas, mesmo aprovada no Brasil, ainda não tem chances de ser incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Isso por que ela está disponível apenas em alguns planos de saúde devido ao altíssimo custo. “Algo em torno de R$ 30 a 40 mil por dose. Por mês, são necessárias duas”, comenta o pesquisador do INCA.

O Opdivo é administrado por meio de solução injetável para infusão na veia durante uma hora. O paciente precisa usar o medicamento enquanto a doença estiver sendo controlada. Entre os efeitos colaterais, há fraqueza no corpo, diarreia e dor nas articulações.

Mas, para especialistas, tudo isso é bem tolerado pelo corpo. A droga norte-americana também está em fase de pesquisas para controlar doentes com câncer de rim, bexiga, cabeça e pescoço e alguns tipos de linfomas.

CimaVax versus Opdivo

“A CimaVax é uma vacina, o nivolumabe é um inibidor de checkpoint”, aponta Araújo. Ambas são imunoterápicas, mas agem de forma distinta para ativar a resposta dos anticorpos contra o câncer.

A droga cubana ativa o sistema imune (por isso é denominada vacina) através da proteína EGF. Portanto, ela induz a produção de anticorpos contra essa proteína, que funciona como um "alimento" para o câncer. Já o nivolumabe é um inibidor de checkpoint. Em outras palavras, inibe os "freios" que impedem os linfócitos de atacar as células do câncer.

“Essas duas drogas são tão promissoras que o instituto responsável pelas pesquisas está testando a sua eficácia combinada. Isso significa que, juntas, podem ser melhores ainda”, aponta o oncologista.

Esperança de prevenir o câncer

No futuro, a expectativa é de que a CimaVax possa imunizar pessoas que ainda não desenvolveram o câncer, mas estão em um grupo de risco. “O objetivo dos estudos é avançar ao ponto de a vacina ser preventiva e evitar o primeiro sinal de um tumor maligno”, comenta o especialista.

Enquanto isso, pacientes ao redor do mundo continuam lutando contra o câncer de pulmão. Agressivo, os especialistas apontam que 90% dos casos de tumor no pulmão acontecem por conta do tabagismo, ou seja, é o maior e mais evitável câncer do planeta. Basta não fumar.

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