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Bronca de Cármen Lúcia em Luiz Fux é muito importante: você, mulher, já passou por isso?

Publicado 12 Mai 2017 – 12:23 PM EDT | Atualizado 28 Mar 2019 – 12:26 PM EDT
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As consequências de uma sociedade com abrupta desigualdade de gênero atingem até as mulheres que ocupam os mais altos cargos de poder. Cármen Lúcia é ministra presidente no STF (Supremo Tribunal Federal) e uma das maiores autoridades do País, ao lado dos presidentes do Executivo e do Legislativo e, ainda assim, precisa relembrar constantemente seus colegas sobre atitudes que impedem o pleno desempenho das atividades femininas.

Na última quarta-feira (10) durante o debate da sessão plenária no STF, assim que Cármen Lúcia concedeu a palavra para o voto de Rosa Weber e ela começou a falar, Luiz Fux interrompeu a também ministra dizendo que ele concedia um aparte (tempo) a ela. A presidente, em seguida, questionou: “Como concede a palavra? É a vez dela votar. Ela é quem concede, se quiser, um aparte”, disse reforçando o tempo de fala destinado a sua colega.

Ela aproveitou o episódio para comentar sobre o resultado de uma pesquisa feita em todos os tribunais constitucionais onde há mulheres nos Estados Unidos. “O número de vezes em que as mulheres são aparteadas é 18 vezes maior do que entre os ministros”, disse.

Ironicamente, ela completou dizendo que aqui no Brasil não há esse problema, porque ela e Rosa – as únicas ministras na Suprema Corte – sequer conseguem falar.

A pesquisa citada pela presidente, divulgada recentemente, foi feita a partir da análise de transcrições dos áudios dos últimos 15 anos da Suprema Corte americana. A conclusão foi a de que os ministros interrompem até três vezes mais as suas colegas em comparação a todos os outros homens.

“Usando uma variedade de técnicas estatísticas, nós constatamos que, apesar de as ministras falarem menos e usar menos palavras do que os ministros, mesmo assim elas são interrompidas durante a fase de sustentação oral de forma significativamente maior. Homens interrompem mais do que mulheres e eles interrompem particularmente mulheres mais do que interrompem os homens”, diz o estudo.

O terrível e comum hábito existe em decorrência da sociedade patriarcal que, de diferentes maneiras, desvaloriza ou desconsidera o que uma mulher faz ou fala. Chamado tecnicamente de “manterrupting” (junção das palavras “man”, homem em inglês, e "interrupting", interrupção), ele acontece com frequência em reuniões ou encontros mistos quando uma mulher começa a falar e é constantemente interrompida por um homem.

Geralmente, além da interrupção, outras duas atitudes são notadas. O “bropriating”, que acontece quando um colega se apropria e leva o crédito por uma ideia ou sugestão dada por uma mulher e o “mansplaining”, caracterizado pelo tom professoral com que alguns homens falam, como se a interlocutora fosse pouco capaz de compreender o conteúdo da fala.

Muito comum em universidades, ambientes de trabalhos formais e órgãos públicos, o problema não é exclusivo no Brasil. Nos Estados Unidos, mulheres do poder executivo, para minimizar o problema, criaram uma técnica chamada de “amplificação”. A intenção é apoiar e reforçar o apontamento de uma mulher até que ele seja claramente ouvido e reconhecido. “Quando uma mulher faz um apontamento, as outras repetem o que ela disse, dando o crédito à autora. Isto forçou os homens na sala a reconhecer a contribuição e impediu que eles reivindicassem a ideia como deles”, explicam.

A tecnologia também está sendo usada para escancarar o problema. O aplicativo Woman Interrupted, criado por uma agência da cidade de São Paulo (SP), calcula quantas vezes uma mulher é interrompida por homens em reuniões de trabalho. Ele surgiu depois que um estudo publicado no Journal of Language and Social Psychology mostrou o predomínio dos homens em discussões corporativas: eles falam durante 75% do tempo nas reuniões. Além disso, homens interrompem as mulheres 23% mais do que a outros homens, segundo pesquisa.

Machismo velado

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