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E se não houver mulheres no Dia da Mulher? Veja por que elas farão greve em 8 de março

Publicado 6 Mar 2017 – 02:00 AM EST | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Acordar, tomar banho, vestir e alimentar os filhos, levar para a escola, ir trabalhar, buscar as crianças, cozinhar, dar banho, ajudar no dever de casa, fazer faxina e preparar as coisas para o dia seguinte. Essas são apenas algumas das inúmeras tarefas que a mulheres têm de enfrentar diariamente. Mas como seria se elas simplesmente se ausentassem de tudo isso durante um dia inteiro? Essa é a proposta da Greve Internacional de Mulheres, movimento horizontal que acontecerá em 8 de Março, data marcada pelo  Dia Internacional da Mulher.

A proposta é simples: o sexo feminino paralisar suas atividades, remuneradas ou não, durante um dia todo ou pelo menos por uma hora a fim de gerar conscientização quanto à importância da mulher na sociedade. Aderido por mais de 40 países, como Argentina, Austrália, Itália, Estados Unidos, Escócia, México, Polônia e Brasil, o movimento é organizado por meio da união de coletivos feministas, como o Ni Una Menos, organizada principalmente pela web.

A mulher na sociedade

Apesar de as mulheres serem maioria na população brasileira - 51,6% de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2014, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) -, a desigualdade perante os homens ainda é gritante. No âmbito salarial, as brasileiras ganham até 25,6% a menos que eles, segundo informa a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

"O feminismo é muito vibrante na internet, mas pouco visto nas ruas. Então está na hora de colocar a mão na massa", Mariana Bastos, participante do movimento 8M Brasil.

A diferença não para por aí: a Organização das Nações Unidas (ONU) ainda informa que uma mulher é morta a cada 2 horas, espaço de tempo cai para 15 segundos quando falamos em ataques que não resultam em assassinato, em um índice que traduz a insegurança que cada brasileira passa nas ruas, no trabalho e até mesmo em casa. 

Poderíamos expor aqui outros inúmeros dados que comprovem essa desigualdade, mas basta olhar para o lado (ou para frente, trás, qualquer direção) para notar o desequilíbrio: falta de liberdade sobre o próprio corpo, classificação em esteriótipos, casos de assédios sexuais vistos como normais, estupros e feminicídios tidos como "merecidos" e muito mais. 

"Precisamos ser o ponto de flexão que vai mudar e fazer frente a essa onda conservadora. As pessoas pensam 'O que uma marcha pode produzir?' e eu respondo: o objetivo acima de tudo é criar alianças e conexões que batalhem por uma coisa que deveria ser um consenso no Brasil, que é contra a violência de gênero", explica Mariana Bastos, administradora da página 8M Brasil, a qual organiza o movimento brasileiro vinculado à paralisação internacional, que completa: "O feminismo é muito vibrante na internet, mas pouco visto nas ruas. Então está na hora de colocar a mão na massa".

O que aconteceria se todas as mulheres entrassem em greve?  

Greve das mulheres: como surgiu a ideia?

A paralisação feminina é inspirada no "Dia de Folga das Mulheres", que ocorreu em 24 de outubro de 1975, na Islândia. Na época, elas deixaram seu local de trabalho para reivindicar direitos iguais aos dos homens, o que foi decisivo para que, cinco anos depois, fosse escolhida a primeira presidente mulher do país: Vigdis Finnbogadottir, uma mãe divorciada.

Já em 3 de outubro de 2016, surgiu a primeira greve fora da Islândia, quando mulheres polonesas saíram às ruas contra o projeto de lei que proibia totalmente o aborto, inclusive em casos de estupro. Após uma semana de resistência dos governantes, a maioria feminina finalmente foi ouvida e a decisão foi desfeita.

A onda feminista se espalhou para Argentina em 19 de outubro do mesmo ano, quando ocorreu o primeiro de vários encontros organizados por grupos feministas, como o coletivo Ni Una Menos, contra a violência sexual e o feminicídio. O barulho foi tão alto que outras nações da América Latina também aderiram.

Em 24 de outubro, as polonesas repetiram a greve, mas traçaram o objetivo de se conectar com outros países para fortalecer a questão feminina mundial. Após a aliança com a Argentina, foi estabelecida a "Greve Internacional de Mulheres", que tem como lema "solidariedade é nossa arma".

"A Greve Internacional de Mulheres de 8 de março é só a ponta do iceberg de alianças que estão sendo construídas internacionalmente desde outubro para mostrar nossa potência e o que queremos", ressalta Mariana Bastos.

Women's March: norte-americanas também participarão

Pouco tempo após países protestarem pela igualdade de gênero, mais de meio milhão de mulheres invadiram as ruas de Washington D.C, nos Estados Unidos, para a Marcha das Mulheres. O protesto ocorreu no dia seguinte à posse do presidente Donald Trump, em 21 de janeiro de 2017, e teve como foco defender a igualdade de gênero, a liberdade sexual e de crença, o acesso à saúde e o planejamento familiar, pontos que foram ameaçados na campanha do presidente norte-americano.

A Women's March ajudou a propagar a causa da Greve Internacional e lançou a versão local, apelidada de " Um dia sem mulheres", a ser realizado também em 8 de março. 

Reinvindicações: fim à violência, reforma da previdência e mais

"O ato do dia 8 será a vitrine de um processo no qual mulheres do mundo inteiro estão se conectando", ressalta Mariana Bastos, administradora da 8M Brasil.

A Greve tem a intenção de combater a misoginia e o discurso contrário à ideologia de gênero, acabar com a intervenção da igreja sobre os corpos femininos, garantir acesso adequado à justiça, requerer direitos e o fornecimento de informações verdadeiras na mídia e pedir o fim da violência contra a mulher.

Todavia, por ser um movimento horizontal, cada cidade e nação possui autonomia de escolher o que irá reivindicar. A Women's March, por exemplo, possui causas mais amplas que incluem o boicote a empresas que financiam o polêmico oleoduto de Dakota, que passará por uma área indígena em Dakota do Norte (EUA), provocando receios quanto à polução ambiental e destruição de locais sagrados.

Contudo, todas as mobilizações tem como objetivo principal a união. "O ato do dia 8 será a vitrine de um processo no qual mulheres do mundo inteiro estão se conectando, construindo alianças e se fortalecendo para combaterem rapidamente e de forma eficaz qualquer ameaça aos direitos", ressalta Mariana Bastos.

No Brasil

Além das questões gerais - como fim à violência, defesa de direitos e igualdade salarial - algumas cidades brasileiras debatem a reforma da previdência, visto que igualar o tempo de contribuição entre homens e mulheres ignora o fato de que as trabalhadoras têm duplas e até mesmo triplas jornadas, diferentemente dos homens.

Como participar?

Há diversas maneiras de fazer parte da Greve Internacional de Mulheres no Brasil. Confira algumas: 

  • Vestir uma peça da cor lilás, que representa o movimento na América latina, ou estender uma bandeira da mesma cor em uma janela de casa ou do carro. 
  • Paralisar tarefas domésticas e trabalhos remunerados por um dia.
  • Caso não seja possível parar o trabalho por toda a jornada, é possível se ausentar na Hora M, que é definida localmente por cada cidade e costuma ocorrer entre 12h30 e 13h30. Neste horário, se reúna com colegas para conversar sobre a desigualdade de gênero.
  • Participar de protestos na ruas junto com outras mulheres, cujos horários e locais são definidos localmente.

Greve Internacional de Mulheres nas capitais brasileiras

Quer apoiar a causa? Veja mais informações sobre as capitais brasileiras que aderiram nos links abaixo:

Já o movimento em outras cidades são divulgados pelo evento nacional no Facebook, que agrupa todas as movimentações locais no Brasil.

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