Jornada de trabalho deveria começar às 10h, garante neurocientista

Se você está há tempos tentando negociar com o chefe o seu horário de entrada no trabalho, agora você tem o aliado que faltava: a ciência. 

Você não é o único a achar que, depois das 10h da manhã, tudo flui melhor: o trânsito, a sua mente e a sua vida pessoal. O neurocientista da Universidade de Oxford (Inglaterra), Paul Kelley, concorda

Cansados desde criança

Paul Kelley afirma que, desde a puberdade, o relógio biológico do nosso corpo está ‘atrasado’. Isso porque compromissos ainda da juventude, como horário escolar pela manhã, às 7h30, têm afetado nossa capacidade de concentração.

“Já aos 10 anos você acorda, vai pra escola e vai se adequando a um padrão de vida de horário útil, das 9h às 17h”, disse Kelly.

Os efeitos disso podem ser cobrados lá na frente, segundo o pesquisador. “Quando você tiver lá pelos 55 anos, você continuará com a mesma rotina. Mas no meio disso muda bastante e, dependendo da sua idade, você realmente deveria começar seu dia pelo menos três horas depois, o que é extremamente natural”.

Saúde X horas de sono

Para Kelly, “não é racional começar a jornada às 8h". E ele tem um argumento extremamente favorável quanto a isso: “Somos, de um modo geral, uma sociedade privada do sono, mas o grupo entre 14 e 24 anos de idade é mais privado do sono do que qualquer outro setor da sociedade. Isso pode causar sérias ameaças à saúde, ao humor e à sanidade mental”.

A mudança no nosso corpo vai além da aparência de cansaço. Pessoas que dormem menos que o recomendado apresentam mais de 700 mudanças no gene – isso no período de uma semana, apenas.

Kelly diz que a ‘crise de privação do sono’ também está associada a doenças mais sérias, como esquizofrenia.

Relógio biológico X produtividade

Não é apenas na infância que acordar cedo faz mal. Isso porque nossos ritmos circadianos (relógio biológico) têm se alterado de uma forma repentina com o passar dos anos.

O professor de psicologia médica da Universidade Ludwig-Maximillian (Alemanha) Till Roenneberg explica que o ritmo empresarial, mais intenso nos últimos anos, não leva em conta os ritmos circadianos que tínhamos no passado, quando perdíamos menos tempo no trânsito e estávamos mais em contato com a luz natural do Sol.

Ele estima que mais de 70% das pessoas se levantam mais cedo do que deveriam.

Roenneberg chegou a essa conclusão após fazer um experimento com duas empresas alemãs: uma de automóveis e outra de siderurgia. Após uma longa análise, o pesquisador fez um ajuste nos turnos de trabalho: quem gostava de entrar mais tarde para trabalhar podia ficar com horários vespertinos e noturnos; e quem gostava de entrar mais cedo ficava com o matutino.

Nos dois casos, Roenneberg constatou uma melhora de produtividade. Os trabalhadores se sentiam menos cansados, tanto no trabalho, quanto no tempo livre. “Se você prolonga seu tempo acordado, reduz sua eficiência”, disse o pesquisador ao Huffington Post. “E se você reduzir sua eficiência, não terá uma boa performance no trabalho”.

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