"Malhação" é original ao retratar romance de Lica e Samantha sem tabu e de forma natural
Não é à toa que a temporada “Viva a Diferença” tem sido considerada uma das mais originais da história de “Malhação”: apostando na quebra de tabus e em temas polêmicos, a novela tem trazido à tona debates importantes, como preconceito racial, social, transtornos, entre outros. E desta vez, foi uma cena de beijo entre duas meninas que movimentou a trama.
Em um dos primeiros episódios de 2018, Lica (Manuela Aliperti) e Samantha (Giovanna Grigio) trocam um beijo rápido, depois de alguns momentos de flerte na história das duas. Com sensibilidade, a trama escrita por Cao Hamburguer trata os relacionamentos – de diversos tipos – com naturalidade.
Beijo entre Lica e Samantha em “Malhação”
“É interessante como essa cena coloca em pauta muitas outras questões, além da homossexualidade, como o companheirismo, a amizade, a intimidade entre as duas adolescentes, que estão crescendo na história”, ressalta Claudino Mayer, doutor em Ciência da Comunicação de Teledramaturgia e professor da Faculdade Progresso, de São Paulo, ao VIX.
É justamente unindo toda a conexão que há entre adolescentes que a trama insere, com empatia, que o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo pode, naturalmente, fazer parte da vida. Em outra cena, em que os personagens estão em uma balada cultural, acontecem também beijos entre meninos e entre meninas, sem qualquer contexto sexual.
As duas personagens também já fizeram parte de passagens da novela em que o relacionamento aberto e o poliamor foram discutidos, inclusive quando se envolveram com um mesmo namorado. “Justamente com uma proposta de parecer mais com a vida real, ‘Malhação’ tem um espaço importante para discutir temas que, como professor, vejo que fazem parte, e muito, da vida de jovens e adolescentes”, comenta Claudino.
Assim, em “Malhação”, a cena do beijo entre as duas simboliza muito mais o processo de autoconhecimento, descoberta e experiências pessoais do que a afirmação da homossexualidade, propriamente dita. Para nenhuma das duas personagens, se relacionar com alguém do mesmo sexo é uma questão tão perturbadora.
“Geralmente, a homossexualidade é um drama quando aparece em novela: o conflito faz parte da construção de personagens gays. Aqui, falando com um público jovem, vemos que essa cena é uma entre várias outras, sem um grande drama, que marca muito a proposta de conscientização a respeito das diferenças que o roteiro propõe”, diz Claudino.
Público diferente
“Bem, trata-se de um público muito mais livre de conservadorismo e hipocrisia do que qualquer outro horário da grade”, aponta Claudino. De fato, as reações positivas à cena impressionaram na internet, com um movimento que partiu das próprias atrizes. “Por mais paz e mais amor”, escreveu Giovanna Grigio, a Samantha, no Instagram.
Nesse ponto, as escolhas de Cao Hamburguer como escritor da novela fazem toda a diferença. “Cao tem experiência em construir bons produtos para jovens e investiu em uma construção de personagens bastante positiva desde o início, o que é fundamental para que o público desenvolva empatia pela história”, explica Claudino.
Mercado
É importante ressaltar que a demanda de mercado também tem papel fundamental na abordagem de temas como esse na ficção. Recentemente, a Rede Globo iniciou um movimento de reforçar seu posicionamento a favor da diversidade e é o público quem impulsiona essa mudança.
“No horário nobre, infelizmente, ainda é difícil quebrar paradigmas porque o público é, sim, conservador , e ‘fabricação’ do produto, claro, se guia por isso. Em ‘Malhação’ temos pessoas que não se chocam e, pelo contrário, que querem ver a liberdade representada na televisão”, conclui o especialista.
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