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Namoro de Benê em 'Malhação' mostra com delicadeza o amor de quem tem Asperger

Publicado 29 Nov 2017 – 08:00 AM EST | Atualizado 15 Mar 2018 – 11:17 AM EDT
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A novela “Malhação: Viva a Diferença” está tratando, com muita sensibilidade, a história de Benê (Daphne Bozaski), personagem que tem Síndrome de Asperger e que aprende a lidar com os sintomas em plena adolescência. A condição é um quadro leve do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e as características se manifestam principalmente nas relações sociais, o que causa uma constante incompreensão em quem não entende o que é o problema.

Recentemente, Benê passou por uma experiência que faz parte da juventude, e que significa uma série de descobertas para qualquer pessoa: o primeiro beijo. Em uma viagem ao Rio de Janeiro com Guto (Bruno Gadiol), seu professor de piano, ela confessou que se sente muito segura perto dele, ainda que esteja em um ambiente desconhecido. Eles perceberam que realmente gostam um do outro e se entregaram ao sentimento, de um jeito bonito e muito sincero.

A personagem foi pedida em namoro por Guto, que decidirá assumir de vez que está apaixonado por Benê. No entanto, muitas pessoas não sabem como os portadores do Asperger lidam com essa situação, se entendem o que é um relacionamento, ou até se conseguem se envolver romanticamente com outra pessoa. Afinal, quem tem a síndrome pode namorar?

Relacionamentos e o Asperger: adaptações

Entendimento diferente das emoções

Em “Malhação”, Benê começou a manifestar algumas atitudes na escola, como o desconforto com multidões, a frustração ao ser criticada e o desespero por ter que dormir fora de casa, quando um alagamento fez com que ela e sua família tivessem que buscar abrigo. Tudo isso é comum para quem é portador do Asperger, e a personagem ilustra perfeitamente as situações e sentimentos dessas pessoas.

Ela também não entendia o que eram as emoções. Em um dos momentos mais marcantes de Benê na trama, ela fez um grande cartaz, nomeando cada sentimento e ilustrando com fotos das próprias amigas, para tentar compreender melhor o que era cada um deles. A iniciativa partiu de Guto, que sempre dizia que ela deveria tocar piano com emoção, para que a música traduzisse o que ela estava sentindo.

Esse é o principal obstáculo para os portadores do Asperger. Segundo o psiquiatra Leonardo Maranhão, especialista em autismo, eles não enxergam os sentimentos igual a quem não tem a síndrome. “Na verdade, Benê sabe o que são as emoções, mas ela e os portadores dessa síndrome as sentem de uma forma diferente, mais internalizada. Eles sabem o que são emoções, sentem-nas de forma peculiar e diferente, como as sensações são ímpares a cada um de nós”, explica o profissional.

Além disso, uma parcela dos portadores pode ter a chamada desorganização sensorial, que os torna muito (ou pouco) sensíveis ao tato, olfato, audição, visão e paladar. Na novela, Benê sempre se incomoda com barulhos muito altos e odeia contato físico, o que explica essa condição.

“É possível que eles apresentem dor ou desconforto ao toque das pessoas, incômodos com certos tipos de tecidos ou etiquetas de camisetas. A reorganização sensorial, durante a terapia ocupacional especializada para essas questões, é muito importante no desenvolvimento deles”, pontua o especialista.

Por isso, portadores do Asperger até conseguem entender o que é um relacionamento amoroso, mas de forma muito particular. É preciso encontrar um parceiro que seja compreensivo, tenha paciência e maturidade para lidar com as manias de quem tem a síndrome.

Necessidade de espaço

“O Asperger tende a gostar de ter seu momento de relaxamento, de descanso, tem prazer em estar sozinho por um tempo”, explica o psiquiatra Leonardo, “além de se sentirem confortáveis e seguros em ter uma rotina estruturada. A partir do momento que o portador compreende que o outro o respeita, a relação começa a se firmar”.

Na trama, é possível identificar esses sinais no comportamento de Benê. Durante a viagem ao Rio, ela se sente insegura e ansiosa por viajar sem os pais, por estar em um lugar novo e até por colocar os pés na água do mar, já que ela nunca tinha ido à praia.

Sempre ao lado dela, Guto aprendeu a dar o espaço que ela precisa, e a acalmá-la quando ela permite, o que fez com que a amizade pudesse evoluir.

Dúvidas constantes

Além disso, o rapaz é paciente com as dúvidas constantes de Benê, outro fator importante para que um portador do Asperger se sinta à vontade em um relacionamento. “Em alguns momentos, eles vão buscar ajuda ou tentar conversar, por terem dificuldades em compreender o que o outro está sentindo, em entender os sinais sociais”, aponta o especialista, “A presença de uma pessoa compreensiva, e que consiga ajudá-lo a se organizar, dá a sensação de segurança e é importante na construção da intimidade”.

Quando se trata do Asperger, não existe um padrão, pois cada portador pode manifestar sintomas de uma forma particular. O grau da síndrome também deve ser levado em consideração: se for muito avançado, o paciente pode apresentar problemas de comunicação e de compreensão do mundo, situação na qual um relacionamento pode nem ser aceito por ele.

No caso de Benê, o Asperger se manifesta de forma leve, e aos poucos, ela consegue entender as relações sociais e os próprios sentimentos. Do ponto de vista físico, ela apresenta as mesmas necessidades e reações hormonais do que quem não tem a síndrome, o que a torna propensa a se apaixonar por alguém, desde que essa pessoa compreenda sua realidade.

“Qualquer relacionamento interpessoal, para eles, é positivo. Se for possível construir uma relação mais íntima, com alguém que seja não só um parceiro, mas que entenda seus anseios e questões da rotina, o namoro para um portador do Asperger pode reafirmar a noção que eles têm da sociedade, de forma geral”, completa o Dr. Leonardo.

Cuidados ao falar do assunto na ficção

Embora “Malhação” esteja retratando a síndrome de Benê de forma realista, é preciso ter cuidado ao falar de autismo na ficção. Afinal, existem muitas variações do transtorno, que podem causar problemas sérios de expressão, comunicação e aprendizado.

Nesses casos, o paciente deve ser acompanhado por especialistas desde cedo, que podem facilitar sua adaptação na sociedade e amenizar os sintomas mais graves.

Não é a primeira vez em que uma novela da Globo fala sobre o tema. Em 2014, “Amor à Vida” tinha a personagem Linda (Bruna Linzmeyer), autista em um grau avançado, que parecia viver em seu próprio mundo. Embora não conseguisse falar direito, ela acabou se envolvendo com o advogado Rafael (Rainer Cadete), com quem se casou nos últimos capítulos.

O acontecimento sensibilizou o público, mas foi muito criticado na época por alguns profissionais. Se o portador é considerado incapaz pela síndrome, como poderia ser o caso de Linda na vida real, qualquer tentativa de aproximação amorosa com um adulto nessas condições é configurada como abuso, crime descrito no código penal. Por isso a necessidade em falar sobre o autismo com cautela, como está sendo visto em “Malhação”.

Romance de Benê e Guto

O casal é um dos mais queridos da “Malhação”. Fazia tempo que a novela teen não tinha uma dupla com tanta sintonia, e o apelo com o público garantiu o sucesso de Benê e Guto, que tendem a se aproximar cada vez mais a partir de agora.

Antes, eles eram distantes e até preferiam viver dessa forma, já que o rapaz era o popular da escola, enquanto Benê era tímida e reservada. Eles fazem uma aposta em uma competição, e como a menina vence, ela pede para ter aulas de piano.

Demorou muito para que os dois começassem a se dar bem, já que Benê não suportava as críticas de Guto e ele não aguentava as reações que ela tinha na aula, mas aos poucos, eles foram se entendendo.

Por estarem sempre juntos, um ajudou o outro a superar alguns traumas. Enquanto Guto ajudou Benê a tocar em público, ela o incentivou a cantar em um show, e a dupla foi se tornando cada vez mais próxima.

Após o beijo no Rio de Janeiro, a relação deles tomará rumos muito esperados pelo público, sempre de forma delicada. Estamos na torcida!

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