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Preguiça sexual pode esconder problemas sérios, inclusive de saúde: entenda causas

Publicado 19 Set 2019 – 10:26 AM EDT | Atualizado 19 Set 2019 – 10:26 AM EDT
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Sentir falta de vontade de transar com o parceiro ou a parceira por preguiça de fazer sexo não é algo raro na vida de casais. Na realidade, é algo bastante comum de acontecer com qualquer pessoa, especialmente quando se tem filhos ou uma rotina muito atribulada.

O que muitos não sabem é que esta falta de ânimo na cama pode esconder problemas de saúde e, muitas vezes, ajuda a chamar atenção para um problema oculto.

Preguiça sexual: o que é

Preguiça sexual é o termo (não médico) usado para expressar a falta de motivação que algumas pessoas sentem para o sexo.

Para compreendê-la melhor, a sexóloga Nelly Kobayashi, da Clínica VidaBemVinda e colaboradora do setor de sexualidade do ambulatório de Ginecologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, explica que a preguiça sexual pode ser comparada à preguiça sentida pela prática de exercícios físicos.

“Todos sabemos que faz bem para a saúde, que após realizar o exercício nos sentimos bem, mas, às vezes, falta motivação”, diz a especialista.

Rotina exaustiva

A psicóloga e sexóloga Priscila Junqueira chama atenção ao excesso de atividades do cotidiano do mundo contemporâneo como uma das causas que mais influenciam no desenvolvimento da preguiça sexual, uma vez que muita energia acaba sendo utilizada em práticas do dia a dia e o sexo é deixado de lado.

“Esse é um dos grandes fatores no mundo contemporâneo: as pessoas não estão priorizando a vida sexual", pontua Priscila.

O que acontece, segundo a sexóloga, é que a rotina contemporânea pede, muitas vezes, que o indivíduo desvie sua energia para atividades como o trabalho, os cuidados com a casa, o planejamento financeiro, uma saída com amigos, com a família e tudo o que envolve gastar energia em atividades cotidianas para além do sexo.

Consequentemente, a pessoa se sente fatigada fisicamente e até emocionalmente e fica desmotivada para a vida sexual.

Preguiça sexual pode ser problema de saúde

Vale pontuar, entretanto, que nem sempre o cansaço é o único responsável pela falta de desejo sexual. É importante saber identificar quando outros fatores estão em jogo, como um quadro de saúde.

Neste caso, estamos falando de queda na libido, que, apesar de ter causas fisiológicas, emocionais, psicológicas e até culturais, muitas vezes é percebida como simples preguiça ou falta de motivação - e é preciso saber diferenciar.

A falta de desejo sexual, ou a falta de libido, pode ser reflexo de alterações no organismo e servir de alerta para uma ida ao médico. Alguns problemas relacionados à saúde física ou mental que podem levar ao quadro são:

  • Hipotireoidismo
  • Depressão
  • Distúrbios hormonais
  • Testosterona e estrógeno baixos
  • Uso de medicamentos

Para identificar quando o quadro se manifesta devido a problemas de saúde, é importante atentar-se para outros sintomas que podem estar associados, bem como mudanças de comportamento. O hipotireoidismo, por exemplo, é uma doença causada por uma disfunção da glândula da tireoide, que deixa de produzir hormônios suficientes para regular todas as funções do organismo. Consequentemente, a pessoa apresenta alterações no metabolismo, pressão sanguínea, batimentos cardíacos e humor, além de ficar com o desejo sexual comprometido. Assim, ficar atento a outros sintomas associados é importante.

Segundo Priscilla, pesquisas sobre a baixa libido a relacionam com quedas hormonais, principalmente a testosterona e a ocitocina, que têm papel fundamental para a relação sexual.

"Na mulher, também tem o estrógeno que, desregulado, pode afetar o desejo", explica. A sexóloga continua: "Uma das principais questões desse hormônios são os sintomas depressivos. Nós temos quadros depressivos em que as pessoas realmente estão desmotivadas para tudo e isso inclui o sexo”, explica a especialista.

Ao consultar um médico, procure entender quais mudanças notou em seu corpo e rotina diária além da redução na frequência sexual. As causas físicas serão as primeiras a serem investigadas por meio de exames.

Fatores culturais e emocionais também devem ser considerados

Além de fatores cotidianos e de saúde, os culturais também corroboram para uma diminuição na frequência sexual, podendo, assim como ocorre nos quadros de saúde, ser percebida como falta de motivação.

Ter uma educação sexual muito reprimida, como acontece tradicionalmente com muitas mulheres, acaba afetando o modo como o sexo é priorizado na vida.

Culturalmente, a mulher foi criada para não enxergar o sexo como um prazer a si ou uma questão de saúde, mas sim apenas como mera questão reprodutiva e uma obrigação para manter o parceiro satisfeito.

“Se há uma educação sexual ou, na verdade, se ela não existiu ou foi muito reprimida, outras atividades tomam conta da vida da pessoa (...) No caso da mulher, se ela não vê o sexo como necessário ou como uma questão de saúde, pode ser que ela o enxergue como obrigação, apenas para reprodução: ela só vai procurar o parceiro ou dar vazão aos desejos no período em que quiser engravidar. Existem ainda esses resquícios culturais de que o sexo é só para procriação. Esse pensamento vem mudando muito, mas ainda o encontramos.”

Traumas, autocobrança, baixa autoestima e insatisfação com o parceiro ou parceira também somam nesta conta. Para tentar entender o peso que essas questões têm sobre a falta de contentamento no sexo, é interessante se fazer algumas perguntas:

  • Estou fazendo menos sexo do que antes? Se sim, quando isso aconteceu e por quê?
  • Eu gostaria de fazer mais sexo ou apenas acho que isso é necessário para agradar meu par, ou então me adequar ao que considero normal?
  • Eu sinto prazer no sexo? É doloroso?
  • Tenho vontade de me masturbar? E de transar com outras pessoas que não sejam o meu par?
  • Depois do sexo, sinto que fiz algo errado, ou que estou suja(o)?
  • Sinto vergonha de fazer sexo com meu par? Por quê?

Preguiça sexual atinge todos

A preguiça sexual tem potencial para atingir todos: solteiros, comprometidos, homens, mulheres, jovens, adultos e idosos.

Segundo Priscila, culturalmente, mulheres é que são diagnosticadas, e as pesquisas sobre o assunto apontam que elas podem ter menos "ânimo" para o sexo do que homens. Porém, isso não significa que apenas mulheres a sintam e homens não.

“Tenho recebido muitos pacientes homens com Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH), que é a queda da libido. É preciso um diagnóstico bem mais apurado e não só colocar a diferença dos gêneros, além de reforçar a questão da subjetividade de cada pessoa. Os homens também estão falando que não estão com desejo, estão com preguiça, com dor de cabeça e que têm outras prioridades além do sexo", diz Priscila.

Conselhos para melhorar vida sexual

Caso você note que a falta de iniciativa sexual é algo presente em sua vida, o diálogo aberto com o(a) parceiro(a) é importante para o relacionamento.

Além da importância de desabafar e tentar se entender, na opinião de Priscila, a conversa é fundamental para livrar o(a) parceiro(a) de uma possível sensação de angústia e culpa pela falta de desejo sexual do outro. "A primeira coisa que a pessoa que ouve vai pensar é que ela não está sendo suficiente”, diz Priscila.

Além de diálogos, vale recorrer à ajuda profissional, como consultas com ginecologista ou urologista, endocrinologista, terapeuta e sexólogo, que ajudam a indicar as possíveis causas da questão - seja para casais ou solteiros.

Nelly recomenda ainda mais cuidados com o estilo de vida, com dieta saudável, atividade física, redução de estresse, sono adequado e relacionamentos saudáveis. “Sempre podem ajudar.”

Por fim, Priscila reforça de que a educação sexual é fundamental para que o sexo seja melhor compreendido como uma atividade importante para o bem-estar de cada um.

“[A falta de educação sexual] vem desde uma família que, por ‘n’ razões, não consegue trabalhar essa questão e vai até às escolas, que não conseguem, por limitações técnicas e de instrumentalização, tratar o tema, e até mesmo à política, como temos visto. Precisa haver mudança desde muito cedo na vida das pessoas para que, quando elas comecem a prática sexual, isso esteja mais tranquilo e a quebra de paradigmas tenha acontecido.”

Dificuldades da vida sexual

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