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Dor no sexo que Laura tem foi fruto de abuso, mas pode ter outras causas menos evidentes

Publicado 5 Mar 2018 – 05:00 AM EST | Atualizado 14 Mar 2018 – 02:41 PM EDT
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Talvez um dos pontos mais altos de “ O Outro Lado do Paraíso”, novela da TV Globo, seja a história da personagem Laura (Bella Piero) e dos abusos de pedofilia que sofreu nas mãos do padrasto, Vinícius (Flávio Tolezani).

O papel da novela foi para além do entretenimento e conseguiu alertar um grande número de pessoas sobre as consequências do abuso sexual.

Isso porque a trama de Walcyr Carrasco também mostrou o sofrimento de Laura, mesmo anos depois dos abusos, e as consequências nefastas do crime — ela mal conseguia abraçar, muito menos se relacionar sexualmente com seu marido.

E foi exatamente esse assunto que Bella Piero trouxe à tona em sua participação no programa “Altas Horas”, da Globo.

Durante o quadro da sexóloga Laura Muller, a atriz fez uma pergunta relacionada ao tratamento do vaginismo, problema sexual comumente desenvolvido por vítimas de estupro - mas não só por elas.

“Eu queria saber quais tratamentos podem aliviar a condição fisicamente, além do tratamento psicológico”, disse Bella.

O quadro é caracterizado por fortes dores no sexo que chegam a impedir o contato íntimo e, apesar de gerar sintomas físicos, sempre tem fundo emocional, por isso o acompanhamento psicológico é fundamental. 

O que é o vaginismo?

Bella contou que durante os estudos para sua personagem ela percebeu que muitas mulheres que sofreram abuso sexual desenvolveram vaginismo.

Trata-se de um espasmo da vagina que leva o órgão a se retrair de tal maneira que a relação sexual torna-se profundamente dolorosa para a mulher, impedindo-a de ter prazer e até de fazer exames ginecológicos.

Dor no sexo

Débora Pádua, fisioterapeuta uroginecológica, explica que o vaginismo é uma disfunção que pode impedir total ou parcialmente a penetração vaginal, prejudicando, assim, muito a vida sexual e a saúde mental da mulher.

A disfunção ainda pode afetar os tratamentos preventivos femininos, pois durante exames ginecológicos, como ultrassom transvaginal e papanicolau, a paciente também pode sentir fortes dores.

“A dor na relação causada pelo vaginismo chega a afetar até 6% das mulheres sexualmente ativas”, conta a especialista.

Causas do problema

A especialista conta que o vaginismo nada mais é do que o receio de sentir dor no sexo, o que leva a paciente a contrair involuntariamente a vagina de tal forma que a relação torna-se, de fato, incômoda.

Esta reação involuntária, por sua vez, reforça o trauma. “Pode virar uma bola de neve”, diz Débora.

Existem várias causas para o vaginismo e nem sempre sua origem é tão evidente como no caso da personagem de Bella, que viveu um forte trauma.

Doenças ginecológicas, como a candidíase ou a cistite, são algumas das origens físicas do problema. Ao gerar dor, elas podem desencadear memórias de incômodo nas relações seguinte, levando a paciente a associar o sexo com a experiência traumática.

“Não necessariamente o princípio é de fundo emocional. Porém, a partir do desconforto físico, de repente, há uma alteração emocional e cria-se aversão ao parceiro ou à relação em si, pois é a pessoa ou memória que provoca dor nessa pessoa”, explica Débora Pádua.

Segundo a fisioterapeuta, os desencadeadores mais comuns da condição são: educação muito rígida, principalmente em relação à liberdade sexual da mulher; primeira relação sexual traumática; violência sexual; hímen um pouco mais rígido para o rompimento.

Consequências psicológicas

Não são apenas os aspectos fisiológicos que são afetados pelo problema.

"Há casos de depressão porque a paciente começa a se sentir menos mulher do que outras que conseguem ter relações normais. A mulher, quando apresenta este problema, pode até evitar envolvimentos amorosos", conta a fisioterapeuta.

Vaginismo primário e secundário

O vaginismo pode ser considerado quando a pessoa está há seis meses tentando a penetração sem sucesso. A especialista explica que a condição pode ser primária ou secundária.

O primeiro caso acontece em mulheres que estão iniciando a vida sexual com penetração. “É quando a perda da virgindade é traumática e dolorosa, causando, assim, o vaginismo”, explica Débora.

Já o vaginismo secundário ocorre quando a mulher já tem vida sexual ativa e passa por algum trauma físico ou psicológico, como abuso, violência, exame ginecológico mal-sucedido, entre outros.

O problema ainda pode ser situacional, ou seja, a depender da situação, a musculatura sofre com os espasmos involuntários.

"Existem mulheres que não têm problemas com os exames ginecológicos, mas não conseguem se deixar penetrar. Já outras têm uma atividade sexual completamente normal, mas não conseguem passar pelos exames ginecológicos", exemplifica a especialista.

Tratamentos

A terapia com psicólogo é fundamental para o tratamento, já que é preciso desfazer a relação subconsciente que a paciente faz entre sexo e dor.

Em casos em que a fobia é muito dolorosa para a mulher, pode ser adicionado também tratamento medicamentoso com auxílio de um psiquiatra.

A fisioterapia pélvica pode auxiliar os resultados, pois tem como base o relaxamento e o controle da musculatura pélvica.

São realizadas técnicas manuais, com auxílio de acessórios e aparelhos, para soltar quadril, pernas, glúteos, virilha e parte interna do canal vaginal, melhorando a mobilidade da pelve e assim por diante.  

Novela "O Outro Lado do Paraíso"

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