Jovens têm usado menos preservativo e o problema não é falta de informação

A queda no uso de preservativos tem causado aumento de transmissão de de doenças sexuais e gestações não planejadas no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o número de pessoas infectadas com sífilis no país teve um salto de 32,7% de 2014 para 2015.

O aumento no número de casos envolvendo doenças sexuais tem alertado as agências de saúde pública do país.

Uma pesquisa realizada em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) entrevistou 2 mil homens entre 15 e 25 anos em dez capitais brasileiras (Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo).

Destes, 73% afirmaram fazer sexo sem usar métodos contraceptivos ou de proteção de doenças. Ironicamente, o mesmo grupo revelou que a maior preocupação durante o sexo são a gravidez (31%) e as DSTs (34%).

Por que os jovens não usam camisinha?

A baixa adesão ao preservativo está atrelada às mudanças comportamentais dos jovens desta geração. 

DSTs não assustam

Isso acontece, entre outros motivos, pelos avanços dos tratamentos médicos, que minimizam os efeitos das doenças no corpo, ao contrário do que era visto nas décadas de 1970 e 1980, em que um diagnóstico de AIDS era recebido como uma sentença de morte.

“Temos que trabalhar com os jovens a convicção de que vale a pena se prevenir, e não o medo. Uma vez que passa o medo, para a motivação. O que falta é fazer um trabalho com jovens e adultos mostrando que, por mais que essas doenças sexualmente transmissíveis tenham tratamento, elas são doenças sérias que podem ter consequências. Se tem como evitar, por que pegar?”, comenta Lena Vilela, diretora do centro de estudos sobre sexualidade humana do Instituto Kaplan.

Dentre o grupo que admitiu ter feito sexo sem preservativo, 16% alegaram que o fizeram porque o uso da camisinha “estraga a diversão”, 12% afirmaram não dispor da camisinha no momento do ato sexual, 11% simplesmente esqueceram de usá-la e 10% decidiram arriscar.

“Não é falta de informação, é insegurança”

O medo que ronda os jovens e adolescentes agora é outro: o de não agradar o parceiro ou ser envergonhado. Muitos meninos ainda acreditam que o uso da camisinha diminui a sensibilidade do pênis durante o sexo. Além disso, uma insegurança frequente entre os que estão ingressando na vida sexual é a perda da ereção. 

“A maioria das campanhas de prevenção falam sobre camisinha sem falar de sexo. E isso é um problema. Se o garoto não souber como colocar a camisinha rapidamente e se sentir confiante, não é na hora da relação sexual que ele vai tomar consciência e correr o risco de broxar”, comenta Vilela.

A coordenadora do Programa Estadual do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo Albertina Duarte Takiuti concorda com a especialista. Para ela, o medo de decepcionar é o fator de angústia em meninos e meninas.

“Não é falta de informação, é insegurança. Todo homem perde a ereção. Quem ainda não perdeu, vai perder um dia”, afirma a coordenadora.

Segundo um levantamento feito pelo programa que lidera, as meninas também sofrem grande pressão para não exigir o uso do preservativo nas relações.

“Usar preservativo deve ser uma questão de gênero, de empoderamento da mulher. Para uma menina dizer: “Sem camisinha eu não transo”, ela tem que estar muito segura de si, porque o medo de ser trocada é grande. É esse maldito medo de não agradar que faz a mulher ficar submissa”, afirma Takiuti, que também é ginecologista e obstetra.

Falta de diálogo

“O primeiro para lidar com essas questões é reconhecer a sexualidade, ou seja, assumir que sexo existe e que é bom”, comenta Lena. O grande erro da atualidade, para os especialistas, é lidar com questões consideradas tabus em silêncio.

É fato que o discurso pautado no medo funcionou por um tempo, mas agora ele se tornou desnecessário. É preciso engajar os jovens a usarem preservativo e se preocuparem com a saúde sexual através de outra narrativa, que aborde não só a doença, mas também o prazer e as novas práticas sexuais.

Um dos principais motivos de a informação sobre práticas sexuais e prazer não chegar até esse público é o receio e/ou vergonha de iniciar uma conversa sobre sexo, tanto por parte dos adolescentes como dos pais e responsáveis.

Isso tem provocado um quadro cada vez maior de jovens adultos que não só não sabem como se dar prazer, mas também ignoram as forma de satisfazer o outro.

Não à toa, 60% dos jovens ouvidos pela pesquisa feita em dez capitais no país afirmaram que, quando têm alguma dúvida sobre sexo, pesquisam na internet.

“No caso dos preservativos, pelo menos, a gente fala para eles treinarem durante a masturbação, quando estiverem sozinhos. O jovem que sabe colocar a camisinha rapidamente se sente mais confiante para usá-la em todas as relações”, diz Vilena.

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