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"A mulher negra não pode errar": atrizes de "Coisa Mais Linda" debatem racismo

Publicado 12 Jun 2020 – 06:00 AM EDT | Atualizado 12 Jun 2020 – 06:00 AM EDT
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Uma das produções brasileiras de maior destaque na Netflix, “Coisa Mais Linda” volta para a segunda temporada embalando com bossa nova histórias importantes sobre trajetórias femininas. Discutindo a emancipação da mulher, casamento, trabalho, entre outros temas, a questão racial ganha ainda mais significado ao ser trazida para o contexto atual.

"Coisa Mais Linda": segunda temporada

A trama se passa nos anos 60, mas as atrizes Pathy Dejesus e Larissa Nunes, do time de protagonistas, explicam, por meio de suas próprias vivências, como o debate racial continua atual. Além disso, com o núcleo de Adélia maior na nova temporada, a representatividade negra também entra em pauta.

“Tenho quase 10 anos como atriz e essa foi a minha primeira protagonista. E eu estou ao lado de outras três mulheres da minha faixa etária que já tinham tido a possibilidade não só de protagonizar, mas de se experimentarem como artistas e isso é muito importante”, comentou Pathy.

A fala de Pathy pode ser comprovada com números. Um estudo da Agência Nacional do Cinema (Ancine) de 2016 apontou a baixa diversidade no cinema e na televisão: apenas 13,4% dos atores nos filmes brasileiros lançados naquele ano eram negros. Nos bastidores, os números foram ainda menores - nenhum dos filmes foi assinado por uma mulher negra, por exemplo.

“Esse lugar é muito solitário porque se você não se enxerga na televisão, numa capa de revista, numa profissão, você não existe. Cheguei a duvidar da minha capacidade porque não via pessoas da minha raça próximas demais. É muito opressor não ter com quem dividir as coisas porque raramente vai ter alguém que consiga entender suas angústias de estar ali”, explicou Pathy.

Nova personagem

Na nova temporada da série, Adélia traz uma nova personagem principal. Larissa Nunes interpreta Ivone, a irmã caçula da protagonista que ganha história de destaque. Com talento para a música, a jovem precisa quebrar barreiras para se dedicar à arte.

“Vejo muito a Ivone como retrato de uma juventude negra dos anos 60. Por mais que ela não articule totalmente as questões, entende muito bem a realidade dela e sabe de onde veio. Ela tem noção das responsabilidades, mas sente desejos, paixões, anseios, ela tem um sonho”, comentou Larissa.

Privilégios

Nesse sentido, a trajetória da personagem ilustra os privilégios sociais. Embora Malu (Maria Casadevall) lute muito contra o machismo, Ivone lida com machismo e com racismo. “O privilégio aparece quando a Malu, branca de classe alta, se livra das amarras da ‘dona de casa’ para viver seu sonho e, por mais que encontre os riscos, são totalmente diferentes dos riscos que a Ivone tomaria”, explica.

Assim, a série traz a questão racial para dentro da questão de gênero. “Me toca muito quando a Ivone diz que ela não tem nem a chance de errar. Acho que a trajetória da mulher negra é exatamente isso: quando conseguimos uma oportunidade, precisamos muito segurar e não se pode errar de jeito nenhum”, pontua a atriz.

Quebra de estereótipos

Por fim, as atrizes ressaltaram ainda a importância da representatividade como forma de derrubar estereótipos. Para Pathy, um dos mais nocivos é o da ‘mulher negra durona’. “Acho muito importante a gente desmistificar esse lugar, até para não criar uma caricatura de um símbolo. A força da mulher está justamente na forma de lidar com o que é imposto e que precisa bater de frente, como o racismo, que não dá alívio”, disse.

"A caminhada ainda é longa para que, como sociedade, deixemos de ser racistas, mas obras e artistas que trazem a diversidade para a televisão ajudam a abrir esse caminho. Fico muito feliz meu filho já não vai se questionar em lugares que eu me questionava”, conclui a atriz.

A segunda temporada de "Coisa Mais Linda" estreia em 19 de junho na Netflix. Além de Pathy Dejesus e Larissa Nunes, a série tem no elenco Maria Casadevall, Mel Lisboa, Fernanda Vasconcellos e Ícaro Silva.

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