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Isabella Santoni demorou a notar doença e perfuração no útero por achar que dor era normal

Além de endometriose, ela teve ainda uma complicação causada pelo DIU - tudo "mascarado" pela noção de que cólicas fortes são algo normal
Publicado 9 Set 2021 – 10:46 AM EDT | Atualizado 26 Set 2022 – 05:27 PM EDT
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Isabella Santoni teve atraso em diagnóstico graças a ideia de que cólicas fortes são normais Crédito: @isabellasantoni/Instagram/magicmine/iStock

Após anos sentindo dores fortes durante o período menstrual, a atriz Isabella Santoni fez duas descobertas surpreendentes sobre sua saúde. Conforme contou em uma sequência de vídeos no Instagram, ela descobriu que não apenas tem endometriose como estava sofrendo com uma perfuração uterina causada pelo DIU que usava – e tudo isso foi mascarado por muito tempo pela ideia de que ter cólicas intensas a ponto de sempre precisar de remédios é normal.

Isabella Santoni teve endometriose e perfuração por DIU


Usando o Instagram, a atriz Isabella Santoni abordou de forma aberta a própria saúde nos últimos dias. Em seus Stories, ela desabafou sobre ter sido diagnosticada tanto com endometriose quanto com um processo de perfuração uterina no início de 2021 – e, enquanto tratava o quadro, a atriz usou a própria história para fazer um alerta importantíssimo a outras mulheres.

“Se você tem muita cólica, isso não é normal. Não é. Eu passei anos da minha vida achando que era normal ter as cólicas que eu tinha”, comentou Isabella, que, devido às dores, era encorajada a tomar ibuprofeno – um tipo de medicamento analgésico – todo mês. Ao realizar uma live junto de uma médica, porém, a atriz foi alertada sobre a possibilidade de as dores serem causadas por algo a se investigar.

“Ela falou: ‘Bella, vai fazer uma ressonância, pode ser que você tenha endometriose. Vamos fazer só para descartar’”, relembrou Isabella, que fazia acompanhamento ginecológico semestral porque, na época, usava um dispositivo intrauterino de cobre como contraceptivo – e, apesar disso, só descobriu problemas de saúde ao realizar o exame recomendado.

Desde então, Isabella tem feito tratamento para endometriose – algo que consiste em tomar anticoncepcionais por via oral para não menstruar e, assim, prevenir o avanço da doença – e, em meio à jornada para descobrir quais os próximos passos, ela deixou um pedido a outras mulheres. “A mensagem que eu quero deixar é: se cuidem, procurem informação. Não é brincadeira – nossa saúde é prioridade”, concluiu.

Subestimar dor atrapalha diagnósticos


Ainda que os tabus acerca da saúde íntima feminina estejam diminuindo, muitas seguem sem ter informações valiosas sobre ela e, conforme explica o ginecologista e obstetra Marcos Tcherniakovsky, especialista em endometriose, isso contribui para que muitas convivam com dores fortes especialmente durante o período menstrual. Ao contrário do que muitas pensam, porém, vivenciar isso mensalmente não é normal.

“A mulher tem, muitas vezes, vergonha de falar o que está sentindo, e acaba subestimando muito os sintomas dela. Além disso, eles são muito subestimados pelos médicos e pelo próprio patrão. É muito difícil um patrão entender a falta de uma mulher no trabalho porque ela tem dor”, exemplifica o médico, afirmando que este hábito está diretamente ligado à dificuldade em se diagnosticar a endometriose.


Segundo Marcos, devido ao fato de que muitas mulheres subestimam a própria dor e tomam remédios frequentemente para mascará-las, o diagnóstico da doença se torna quase sempre difícil e demorado. “Esta é uma grande característica da endometriose. O tempo que uma pessoa começa a ter os primeiros sintomas até ela realmente ser diagnosticada com endometriose é, em média, de sete a oito anos”, afirma ele.

Como a endometriose é caracterizada pela implantação do revestimento interno do útero (tecido endometrial) em áreas localizadas fora dele, é possível que exames realizados de forma rotineira no consultório médico não identifiquem a endometriose – e, justamente por isso, é importante que a paciente relate qualquer sintoma, mesmo que o julgue como normal. Assim, é possível investigar detalhadamente.

Dor no período menstrual: o que é e não é normal

Ainda que não seja possível estabelecer um padrão de normalidade para dores – visto que a resistência à dor, segundo o médico, é algo particular de cada mulher –, Marcos afirma que há uma forma muito objetiva de saber se é necessário buscar atendimento médico para cólicas menstruais, bem como sintomas relacionados que indicam um quadro de maior gravidade.

“Eu costumo dizer que nenhuma dor é normal. A mulher do século 21 não tem que ficar sofrendo todo mês com algum tipo de dor. O que consideramos normal é aquilo que a mulher diz que, para ela, é suportável e não muda a característica da qualidade de vida dela”, explica o ginecologista, pontuando que encaixar a dor em uma escala de zero a dez ajuda a perceber o quanto aquilo prejudica a paciente.

“Dez é muito intenso, nove é muito intenso. Nisso, já dá para perceber o quanto isso modifica a qualidade de vida dela. Nos consideramos anormal aquilo que incomoda a mulher todo mês. Mesmo que ela considere fraca, se isso a incomoda, faz com que a qualidade de vida dela mude, nós temos de tentar resolver da melhor forma possível”, considera o especialista.

Sinais de alerta

Além de avaliar o próprio nível de incômodo com a cólica menstrual e buscar ajuda ao perceber que as dores estão atrapalhando a rotina ou o bem-estar geral, mulheres também podem se atentar para sintomas secundários que indicam a necessidade de uma investigação médica. De acordo com Marcos, são eles:


  • Início repentino de cólicas menstruais que não costumavam existir;
  • Dor pélvica crônica (ou seja, que não está ligada ao ciclo menstrual e tem duração maior que seis meses sem sinal de melhora);
  • Dor no ato sexual;
  • Alterações intestinais como dor e sangramento ao evacuar;
  • Sintomas de irritação urinária;
  • Inchaço abdominal;
  • Problemas relacionados à fertilidade.

Quando o assunto é a saúde íntima da mulher, Marcos incentiva ainda que mulheres busquem a opinião de um médico diferente caso se deparem com determinadas situações.
“Se a mulher está referindo dor e o colega comenta que ‘isso é normal’, ‘toma tal medicação que isso passa’, ‘isso é fisiológico mesmo’, ‘tem que aguentar porque isso é comum’... Situações como essa em que a paciente traz uma mudança na qualidade de vida, preocupações... Se ela não percebe uma preocupação do profissional em ajudar, de colaborar com a investigação, é o momento de ela procurar, talvez, uma segunda opinião. A mulher tem que ser ouvida”, conclui.

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