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Remédio para diabetes tem sido usado para emagrecer: como age, para quem é indicado e mais

Publicado 26 Jul 2021 – 06:23 PM EDT | Atualizado 26 Jul 2021 – 06:23 PM EDT
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Complexo, o tratamento da obesidade envolve muitas frentes, mas, nos últimos anos, novos medicamentos para diabetes se tornaram grandes aliados de médicos e pacientes quando administrados da forma correta. Isso, porém, transformou remédios injetáveis como Ozempic, Saxenda e Victoza em uma febre entre quem quer perder peso a qualquer custo – e, apesar de os resultados serem animadores, é preciso ter cuidado.

Remédio para diabetes “vira” injeção para emagrecer

Como pacientes diabéticos precisam controlar os níveis de açúcar no sangue, podem se tornar “reféns” de uma dieta rigorosa e também da insulina. Recentemente, porém, novos remédios surgiram para auxiliar no tratamento desta doença – e, além de explicar para que serve o Ozempic e outras “canetas” de injeção similares, a endocrinologista Paula Pires conta por que eles se popularizaram como “remédios para emagrecer”.

Segundo a médica, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional de São Paulo (SBEM-SP), os remédios injetáveis conhecidos popularmente como Ozempic, Saxenda e Victoza ajudam pacientes diabéticos por conter uma substância chamada GLP-1 (glucagon-like peptide-1). Este hormônio, já produzido naturalmente pelo intestino, ajuda a metabolizar o açúcar, controlando a glicemia.

“Além disso, estudos recentes descobriram também que essas medicações podem proteger o coração dos diabéticos, o que é superimportante visto que a maior causa de morte nesses pacientes são as doenças cardíacas”, diz a endocrinologista, frisando que, entre os diabéticos, aqueles diagnosticados com diabetes tipo 2 e que apresentam sobrepeso são os mais indicados para fazer uso dos remédios.

Quanto ao uso no tratamento de obesidade, a médica esclarece que a indicação está ligada à forma como estes remédios atuam no cérebro. Ao agir no hipotálamo, estrutura do órgão que regula o metabolismo, eles reduzem o apetite, entre outros efeitos. “Estas medicações têm o efeito de retardar o esvaziamento gástrico e inibir o apetite, o que leva a uma maior saciedade e menos fome após as refeições”, afirma Paula.

Victoza, Ozempic ou Saxenda?

Ainda que atuem de forma parecida, há tipos diferentes de injeções. Conforme explica Paula, o Saxenda e o Victoza usam a mesma molécula (liraglutida), mas a embalagem (uma espécie de caneta que contém o remédio e permite definir dosagens) do primeiro permite aplicar doses maiores. O Ozempic, por sua vez, usa outra molécula (semaglutida) e, enquanto as outras requerem aplicações diárias, a dela é semanal.

Ozempic e mais remédios para emagrecer: quem pode usar com este fim

Ainda que estudos indiquem benefícios no uso destas injeções conhecidas como “canetinhas”, elas não são indicadas nem para todos os pacientes diabéticos nem para todos os planos de tratamento de obesidade. Segundo Paula, no caso do uso em pacientes diabéticos, aqueles com diabetes tipo 2 associado a sobrepeso são especialmente elegíveis para o tratamento – e, no caso de uso para perda de peso, a decisão é mais criteriosa.

Por um lado, tanto estes quanto outros medicamentos prescritos para tratar obesidade podem ter um efeito proveitoso. “Ele pode ser uma ótima estratégia para auxiliar o paciente com obesidade em todo o processo – que, muitas vezes, não é fácil. Um paciente engajado em um programa de perda de peso tem três vezes mais chance de atingir um resultado significativo com o remédio do que sem ele, e mais de 80% dos pacientes com obesidade, mesmo que altamente motivados, falham em conseguir perder peso apenas com atividade física, dieta e modificações do estilo de vida”, diz a médica.

Já por outro, a obesidade é uma questão complexa que, ocasionalmente, tem um fundo emocional ou psicológico – algo que medicamentos com o Ozempic, o Saxenda e o Victoza não ajudam a sanar. “Pacientes com quadros de compulsão alimentar ou comer emocional algumas vezes não se beneficiam tanto do uso da medicação, pois comem mesmo sem fome. Nesses casos, é importante tratar junto o componente emocional da fome com uma equipe multidisciplinar. O tratamento farmacológico não substitui as estratégias dietéticas e comportamentais, apenas as complementam”, adiciona.

Devido aos muitos critérios que devem ser avaliados, a endocrinologista frisa que, mesmo com a possibilidade de comprar estas medicações sem receituário médico, é indispensável uma consulta médica. “Existem perfis de pacientes que respondem melhor a determinada medicação do que a outra, e isso só pode ser determinado após uma consulta médica completa”, afirma.

De acordo com a bula dos três medicamentos em questão, o uso de todos eles é contraindicado durante a gravidez e a lactação, visto que os possíveis efeitos deles para o feto e também para o bebê em fase de amamentação ainda não são completamente conhecidos. Além disso, é indicado descontinuar o uso do medicamento alguns meses antes de engravidar caso haja planos.

Efeitos colaterais e riscos

Mesmo quando recomendados por especialistas para um tratamento específico que terá acompanhamento médico, medicamentos como Ozempic, Saxenda e Victoza trazem efeitos colaterais. Segundo Paula, cerca de 30% dos pacientes apresentam náuseas como efeito colateral transitório e, além disso, pode haver também piora do refluxo gastroesofágico em quem sofre do problema, diarreia, dores abdominais e dores de cabeça.

Já quanto aos riscos, devido à possibilidade de haver náuseas e diarreia durante o tratamento, o paciente pode também desenvolver desidratação e, quando o uso não é devidamente acompanhado, episódios de hipoglicemia. Além disso, há raros casos descritos de pancreatite (inflamação no pâncreas) e o reganho de peso também pode ser uma realidade em pacientes que sofrem de compulsão alimentar caso o componente emocional não seja avaliado e tratado.

Durante o tratamento com estes medicamentos, é possível que o médico recomende outros remédios que previnem ou tratam os efeitos colaterais – e, tanto por isso quanto pela necessidade de indicação caso a caso e pelos riscos, a endocrinologista volta a ressaltar que a automedicação com estas injeções e qualquer outro remédio para emagrecer é extremamente contraindicada.

Saúde e emagrecimento

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