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Medir a temperatura no pulso não adianta, diz especialista que explica o porquê

Publicado 22 Jan 2021 – 03:48 PM EST | Atualizado 22 Jan 2021 – 03:48 PM EST
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Devido à pandemia de COVID-19, a aferição de temperatura da população virou parte do protocolo de segurança de muitos estabelecimentos - mas, na maior parte das vezes, os termômetros infravermelhos são usados no pulso, e especialistas alertam para o fato de que, como estes equipamentos não são programados para detectar a temperatura nesta região, o processo é completamente inválido.

Medir a temperatura no pulso é ineficaz

Por serem uma forma rápida de medir a temperatura sem necessidade de haver contato físico, termômetros infravermelhos - que são capazes de detectar a radiação emitida pelo corpo e, assim, informar qual a temperatura dele em segundos - se tornaram muito populares especialmente na entrada de estabelecimentos comerciais como shopping centers, restaurantes e supermercados, mas eles estão, na maioria das vezes, sendo usados de forma errada.

Conforme explica Luiz Gustavo de Almeida, PhD em microbiologia e coordenador no Instituto Questão de Ciência (IQC), termômetros infravermelhos são calibrados para medir a temperatura em um local específico do corpo: a região da testa. Segundo ele, medir em outras regiões, como pulso, perna e demais locais, não permite que a aferição seja fiel à realidade.

“Os algoritmos do aparelho - que detecta a radiação que a gente solta pelo corpo na forma de calor - foram calibrados, na maior parte das vezes, na pele da testa, e aí ele vai dar uma estimativa da nossa temperatura interna”, afirma o especialista.

É por isso, explica ele, que muitas pessoas apresentam temperaturas baixíssimas na medição pelo pulso. “Qualquer outro lugar em que você me faça a medição com esse mesmo aparelho, que não foi calibrado para medir a temperatura em outro local, pode ser que dê uma temperatura mais baixa”, explica, ressaltando que a temperatura muito abaixo dos 36°C - como é apontado erroneamente muitas vezes -, caso fosse verdade, seria uma situação gravíssima.

Porém, este não é o único erro que invalida o método. Ainda que os aparelhos fossem ajustados para aferir a região dos pulsos, Almeida afirma que extremidades do corpo, principalmente onde não há nenhum órgão importante por perto, são naturalmente mais frias e, por isso, não é comum que se meça a temperatura corporal por elas. "No frio, sentimos prontamente a temperatura dos dedos das mãos e dos pés estarem muito mais baixas, por exemplo."

E ainda há um terceiro problema, segundo o PhD em microbiologia: aferir a temperatura não é uma medida tão eficiente para identificar casos de COVID-19, mesmo quando feita de forma adequada, devido ao fato de que não há febre na fase pré-sintomática da infecção e de que boa parte das pessoas infectadas pelo novo coronavírus não apresenta sintomas - e, quando feita de forma tão imprecisa como muitos locais vêm fazendo, a medida se torna algo ainda mais ineficaz.

“O que a gente vê é que, independente da temperatura, é só realmente um processo ali, um protocolo para você conseguir entrar. Se sua temperatura está alta, se está baixa, eles nem avisam”, diz o especialista, que crê na ideia de que a disseminação desta forma errada de se usar os termômetros infravermelhos foi ocasionada, em partes, por uma notícia falsa relacionada aos aparelhos.

Termômetro na testa causa doença no cérebro? Isso é falso

Com a popularização dos equipamentos, muitas pessoas receberam informes falsos de que, quando apontado para a cabeça, o “laser” emitido por ele causaria doenças graves no cérebro ao danificar a chamada glândula pineal. O especialista, no entanto, esclarece que isso não é uma realidade, e que a própria forma como o aparelho funciona já é capaz de provar.

“As pessoas acham que o laser é que está medindo a temperatura, mas ele é só pra você conseguir mirar. As pessoas acreditavam que o laser invadia, atravessava a pele, o osso do crânio e pegava na glândula pineal. Na verdade, ele detecta a radiação que você está dissipando no ambiente, e não o contrário. Não é ele que solta a radiação para detectar a sua temperatura”, afirma.

De acordo com Almeida, além das notícias falsas, há também influência do “comportamento de manada” na popularização do ato de medir a temperatura no pulso. “A gente acaba, por convenção, falando: ‘Ah, já que o vizinho da frente ali fez desse jeito, não sou eu que vou ser o diferentão de questionar isso daí, e é só realmente pra eu entrar no mercado, isso não vai mudar minha vida’”, pontua.

Luiz afirma inclusive que, geralmente, os funcionários que fazem a aferição da temperatura sabem que o correto é apontar o aparelho para a testa, mas não o fazem por medo ou porque foram instruídos desta forma para não motivar uma reação ruim por parte do público.

“Se você conversa com os funcionários que estão fazendo a verificação da temperatura, eles até sabem que o correto é fazer na testa, na têmpora, mas para evitar qualquer tipo de desconforto com eles mesmos ou com o cliente, eles acabam fazendo a medição do pulso, na perna ou em qualquer outro lugar”, opina o especialista.

Diante das inúmeras fake news, até a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) teve de se pronunciar e, em nota publicada no site da instituição, ressaltou que utilizar o equipamento da forma como ele deve ser utilizado, seguindo as instruções do fabricante, não é capaz de prejudicar o organismo.

“Com base na avaliação de referências bibliográficas e recomendações sobre esses produtos, a Anvisa conclui e informa à população que a medição de temperatura por termômetro infravermelho direcionado à testa é inofensiva ao ser humano. O órgão informa, ainda, que esses produtos não emitem radiação, somente captam o calor emitido pelo corpo humano na forma de radiação infravermelha”, diz o comunicado.

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