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Por que situação do coronavírus na Itália é tão grave? Alguns fatores ajudam a explicar

Publicado 16 Mar 2020 – 01:00 PM EDT | Atualizado 16 Mar 2020 – 01:03 PM EDT
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Em meio à pandemia de COVID-19, a Itália é um dos países que mais tem sofrido com a propagação do novo coronavírus, descoberto na China em dezembro de 2019. Lá, os casos já passam de 24 mil e já foram contabilizadas mais de 1,8 mil vítimas fatais da doença até esta segunda-feira (16), o que representa uma taxa de mortalidade pelo vírus de mais de 7%, sendo a média mundial 3,5%.

O infectologista Esper Kallás recentemente explicou a diferença entre o surto no país e a situação de outras nações, que registraram números menos alarmantes.

Coronavírus na Itália: por que a situação é pior?

Diante das muitas dúvidas acerca do que fazer contra o SARS-CoV-2, novo tipo de coronavírus que se espalhou mundialmente após sua epidemia na China, o infectologista participou de uma conversa com o médico Drauzio Varella sobre a pandemia, explicando suas hipóteses para o fato de a comparação entre a Itália e a Coreia do Sul, outro país bastante afetado, serem tão discrepantes.

Conforme ressaltou Drauzio no vídeo publicado em seu canal do YouTube, enquanto a taxa de mortalidade média do vírus divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) recentemente é de 3,5%, a da Itália aumenta cada dia mais (passando dos 7%) e a da Coreia do Sul ficou em apenas 0,7%. Essa grande diferença, segundo Esper, pode ser explicada por uma série de fatores entre os quais ele explicou três.

Menos testes

Em primeiro lugar, o infectologista comparou a quantidade de testes feitos em um curto intervalo de tempo na Coreia e na Itália, afirmando que este é um ponto crucial porque contabilizar os casos com exatidão acaba “diluindo” o número de vítimas fatais, diminuindo a taxa de mortalidade. No caso, a Coreia realizou muito mais testes desde o início da epidemia do país, algo que pode explicar a taxa tão baixa.

“Quando estava com mil casos, a Coreia já tinha feito 500 mil testes. Como eles fazem muito mais teste [...], você vê o ‘iceberg’ melhor”, disse o infectologista.

Segundo o veículo britânico “ BBC”, apesar de terem registrado os primeiros casos em épocas próximas, a Coreia fez 4 mil testes por milhão entre 3 de janeiro e 11 de março, enquanto a Itália fez cerca de mil por milhão até 10 de março.

Isso, segundo Esper, pode ser explicado pelo fato de que a Coreia é referência neste tipo de infraestrutura e se preparou para a epidemia antes de ela chegar. “Eles têm fábricas no país que trabalham com esse tipo de metodologia, conseguiram fazer esse trabalho melhor que qualquer lugar no mundo”, afirmou o infectologista, dando ainda outras razões para a situação alarmante da Itália.

População idosa

Conforme descoberto durante a epidemia chinesa, o COVID-19 tem a letalidade dobrada e até triplicada em pessoas idosas (especialmente acima dos 70 e 80 anos) – e, segundo Esper, a Itália tem uma desvantagem neste aspecto. “Quanto mais velha a faixa etária, mais pessoas idosas, que tem outros problemas de saúde, vão pegar o vírus e acabam morrendo da doença mais proporcionalmente que uma população mais nova”, diz ele, se referindo ao fato de que a Itália tem a segunda população mais idosa do mundo.

Isso, no entanto, é um fator que depende de outros para ter consequências tão alarmantes, visto que países como a Alemanha e o Japão também têm populações bastante idosas e não vêm enfrentando uma situação tão grave. De acordo com Esper, algo a ser levado em conta é a capacidade que o sistema de saúde local tem de agir contra o vírus, bem como a rapidez da nação em tomar medidas para contê-lo.

Curva epidemiológica: muitos casos em poucos dias

Apesar de a Itália ter um dos melhores sistemas de saúde do mundo, o país está sofrendo com uma sobrecarga em hospitais, e Antonio Pesenti, coordenador da unidade de terapia intensiva da região da Lombardia, na Itália, afirmou ao veículo local “ Corriere Della Serra” que médicos estão tendo de tratar pacientes graves nas salas de cirurgia, de recuperação e até mesmo nos corredores – e isso se deve à forma repentina como os casos no país aumentaram.

Nos últimos dias, em apenas 24 horas, a Itália teve um aumento de 25% no número de mortes e registrou mais de 3,5 mil novos casos, rapidez que, segundo autoridades, prejudica o trabalho dos hospitais, que não dão conta da demanda. Conforme afirmou Elisabetta Groppelli, virologista da Universidade de Londres, na Inglaterra, à “ VICE”, é imprescindível que isso mude para que a situação seja controlada.

Isso, segundo ela, só ocorrerá caso a população e as empresas sigam à risca as medidas de quarentena do governo (das quais muitos cidadãos italianos escaparam ao saber que seriam anunciadas, espalhando mais ainda o coronavírus), já que quanto mais devagar for a transmissão, mais tempo o sistema de saúde tem para acompanhar casos com necessidade de cuidados intensivos e curar pacientes, com menos escassez de espaço, material e profissionais.

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