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Ginecologistas deixam de dar informação por acharem que paciente já sabe, diz pesquisa

Publicado 26 Set 2019 – 05:39 PM EDT | Atualizado 26 Set 2019 – 05:38 PM EDT
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Atualmente, não é nada raro encontrar mulheres que fazem uso de métodos contraceptivos - mas isso não quer dizer que elas estejam completamente informadas sobre o tema e, apesar de as consequências desta desinformação serem visíveis (e alarmantes), dados de um estudo recente mostram que os médicos nem sempre sabem que suas pacientes têm tantas dúvidas.

Mulheres não estão informadas como médicos imaginam

Elaborado pela farmacêutica Bayer junto da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o estudo “Think about Needs in Contraception” (feito com mais de 7 mil mulheres de vários países e 726 médicos) revelou que 51% das brasileiras consultadas usam algum tipo de pílula anticoncepcional - sem necessariamente saber que há outras opções.

Isso porque há uma diferença expressiva entre o que os médicos acham que suas pacientes sabem e o que elas realmente sabem, algo que fica explícito, por exemplo, na análise de quem inicia a conversa sobre métodos contraceptivos no consultório médico; enquanto para 52% das mulheres a conversa partiu delas, apenas 38% dos especialistas afirmam o mesmo.

Além disso, o estudo também mostra que, nas consultas, muitos assuntos estão ficando de fora pois, além de as pacientes não perguntarem sobre eles, os especialistas não tocam nos tópicos imaginando que as mulheres já estão suficientemente informadas a respeito deles. Um dos mais preocupantes, inclusive, tem relação com o que é conhecido como pílula do dia seguinte.

Segundo os dados, o Brasil é um dos países em que as mulheres mais apostam nos contraceptivos de emergência, com 20% delas tendo usado ao menos uma vez, 13% relatando dois usos, 8% afirmando que já usaram três vezes e 9% declarando mais de três usos da pílula do dia seguinte - e, questionados pela pesquisa, médicos demonstraram imaginar números menores.

Outro ponto de conflito tem relação com a pílula anticoncepcional. Como deve ser usada de forma contínua, esquecer de tomar apenas um comprimido já é o suficiente para comprometer o efeito do medicamento a longo prazo e, segundo a pesquisa, os médicos não estão sendo devidamente informados sobre isso por suas pacientes.

No Brasil, 49% das mulheres se esquecem da pílula ocasionalmente, enquanto um terço delas se esqueceu de tomá-la entre uma e duas vezes nos três meses que antecederam o estudo e menos de uma a cada dez entram em contato com o médico para pedir aconselhamento sobre o que fazer - e, na visão deles, este contato era muito mais frequente do que realmente é.

Mais um desacordo entre médicos e pacientes é a respeito do DIU (dispositivo intrauterino); ao mesmo tempo em que as mulheres estão menos informadas sobre este método contraceptivo de longo prazo do que os médicos imaginam, elas também estão mais dispostas do que eles pensam a considerar esse tipo de método se receberem mais informações sobre ele.

Importância dos contraceptivos de longo prazo

Em termos de eficácia, tanto a pílula anticoncepcional quanto o DIU têm taxas acima de 90%, mas, segundo Ilza Monteiro, ginecologista e uma das autoras do estudo, na prática, a pílula sai em desvantagem. Isso porque a eficácia dos métodos é calculada com base no funcionamento deles sem interferência externa, mas a maior parte das mulheres esquece de tomar o remédio ao menos uma vez, reduzindo seu efeito real.

Conforme lembrou a médica durante um evento realizado pela Bayer em São Paulo para divulgar o estudo, além de o esquecimento ser algo natural que hora ou outra acontecerá, a pílula sofre com a interferência de alguns medicamentos (como anticonvulsivos, por exemplo) e, caso a mulher tenha vômito ou diarreia pouco tempo após tomá-la, seu efeito pode ser comprometido.

Por outro lado, os LARC - sigla para “contraceptivos reversíveis de longa duração”, que englobam tanto o DIU de cobre e o hormonal quanto o implante hormonal - têm poucas contraindicações e, acima de tudo, não dependem de lembrança para fazer efeito. Segundo Ilza, isso os torna até 20 vezes mais eficazes que outros métodos.

Consulta ginecológica: o que deve ser abordado?

Entre diversos pontos, a pesquisa mostra que, além de muitas mulheres não saberem quais são os métodos contraceptivos disponíveis e como eles funcionam, as consultas ginecológicas não têm sido tão proveitosas quanto deveriam - e Ilza explica quais pontos podem melhorar tanto por iniciativa das pacientes quanto dos médicos:

Hábitos e planos da mulher devem ser discutidos

De acordo com a especialista, de nada adianta a mulher receber a indicação de um método contraceptivo se sua rotina e seu comportamento não se adequam a ele. Sendo assim, é essencial que tanto a mulher fale abertamente sobre si quanto o médico a questione a respeito de seu dia a dia e, especialmente, seus planos futuros com relação à maternidade.

“Eu faço questão de fazer retorno precoce quando as meninas começam a tomar pílula. Peço para trazer a cartelinha. Às vezes já no começo a gente percebe que não está indo bem. Aí você pode reorientar”, afirma ela, ressaltando que, especialmente para as mais jovens, que normalmente não têm planos de se tornar mães tão cedo, o DIU é, muitas vezes, uma opção melhor.

Necessidade x satisfação

Um método contraceptivo pode ser eficiente, mas isso não significa, por exemplo, que a mulher está perfeitamente feliz com ele - algo que, segundo Ilza, muitos médicos falham em perguntar, mas que é um ponto importante na hora de estabelecer um método contraceptivo com o qual a mulher se sinta confortável.

Caso o assunto não seja abordado pelo médico, é essencial que a mulher fale sobre quais opções gostaria de testar e, especialmente, sobre suas queixas quanto ao método que está sendo utilizado naquele momento.

Histórico ginecológico deve ser conhecido

Mais um ponto que deve ser discutido na consulta é o histórico ginecológico da mulher, ou seja, quais métodos contraceptivos ela já usou (e como foram as experiências), se tem alguma doença (como endometriose e ovários policísticos), como é seu fluxo menstrual (e como ela gostaria que fosse), como é a vida sexual dela, etc.

Isso é importante porque, bem como a rotina da mulher, os sintomas que ela precisa amenizar ou gostaria de evitar e as reações de seu corpo a determinados métodos podem ajudar o médico a orientá-la quanto à melhor forma de proteger-se contra uma gravidez não planejada.

Dúvidas devem ser trazidas para a conversa

Visto que muitas mulheres usam contraceptivos de emergência em excesso - sem saber que seu uso frequente faz com que ele seja cada vez menos eficaz - e esquecem de tomar a pílula anticoncepcional com frequência, é importante que elas tirem suas dúvidas sobre como exatamente estes medicamentos funcionam (e, acima de tudo, o que fazer ao pular uma pílula da cartela).

Pesquisa prévia por parte da paciente

Embora saiba que a realidade de muitas mulheres não as permite fazer isso de forma tão completa, Ilza aconselha que as pacientes busquem informações antes mesmo de ir para a consulta, já que isso as permite tirar dúvidas mais específicas e ter uma conversa mais proveitosa com o ginecologista.

Buscar profissionais adequados ao objetivo

Segundo a ginecologista, há médicos que, por exemplo, não implantam o DIU e, sendo assim, dificilmente recomendarão este método contraceptivo para as pacientes. Por isso, é importante conhecer um pouco sobre o médico antes da consulta, ou buscar um especialista a partir de indicações (principalmente caso a mulher já tenha um objetivo específico em mente).

Sem medo nem vergonha

Consultas ginecológicas podem parecer intimidadoras, mas, nessa hora, é importante saber que deixar de falar algumas coisas por vergonha pode atrapalhar diagnósticos. Sendo assim, a paciente precisa ser completamente honesta com o especialista, tanto ao tirar dúvidas quanto ao responder aos questionamentos dele.

Saúde feminina

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