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Relato de mãe sobre intoxicação de filha por bórax reascende polêmica do slime

Publicado 24 Mai 2019 – 01:28 PM EDT | Atualizado 24 Mai 2019 – 01:28 PM EDT
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O relato de uma mãe sobre a intoxicação da filha por contato com slime caseiro reascendeu a polêmica sobre a segurança da geleca de brinquedo que é febre entre a criançada.

Segundo ela, a menina de 12 anos manipula uma substância chamada bórax todos os dias para fabricar o slime e mostrar o processo no canal no YouTube que mantém sobre a massinha, e isso teria rendido a ela uma intoxicação.

Menina com intoxicação por slime caseiro

Conforme contou em um post no Facebook repercutido por diversos sites de notícias e posteriormente apagado, a menina teria sido levada ao hospital com um quadro de gastroenterite (condição normalmente caracterizada por diarreia, cólicas, náuseas, vômitos e febre) e, após dias de acompanhamento, teria sido diagnosticada com a intoxicação por bórax – algo que reaqueceu a discussão sobre a segurança do slime.

Na publicação, que viralizou, ela relatou que o quadro teria se agravado conforme os dias se passaram sem que os médicos desconfiassem da causa do problema. Após uma semana internada, porém, ela teria recebido o diagnóstico de "envenenamento por bórax".

Devido à repercussão, a mãe voltou ao Facebook para esclarecer que o contato com a substância não ocorreu via oral. "Minha filha NÃO BEBEU BÓRAX DILUÍDO EM ÁGUA...ela possui uma conta [no YouTube] de Slime e fazia muita Slime e manipulava o Bórax para dilui-lo em água diariamente" declarou.

A ampla divulgação do caso gerou preocupação e dúvidas de pais acerca dos perigos do slime caseiro. Um dia após a viralização do relato, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou uma nota reiterando o risco da manipulação do bórax, especialmente por crianças. "(...) A substância bórax, também conhecida como borato de sódio, vem sendo utilizada e vendida de forma inadequada como ativador de slime, uma espécie de geleca caseira. Tal uso não é regulamentado pela Agência e pode ser prejudicial para a saúde, especialmente de crianças", diz parte do comunicado.

O VIX tenta contato com a família da criança para confirmação das informações.

Bórax: o que é?

Conhecido também como borato de sódio, o bórax é um mineral que serve como matéria-prima na fabricação de certos produtos de limpeza, sabão em pó, inseticidas e fertilizantes.

Apesar de ser designada pelo órgão como uma substância de classe toxicológica II no caso de seu uso na composição de agrotóxicos (ou seja, altamente tóxico), o bórax pode ser facilmente encontrado à venda, tanto puro quanto diluído e formando o que é conhecido como água boricada, que possui concentração de 3% de ácido bórico.

Bórax no slime é tóxico?

Sim. Enquanto nos usos citados acima a substância possui regulamentação da Anvisa, o mesmo não ocorre em sua utilização para a fabricação do slime caseiro, e, no entanto, ele se tornou um popular ingrediente nestes casos, já que confere a consistência desejada à massinha.

A dermatologista Tatiana Gabbi, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), afirma que o bórax faz mal mesmo quando em menores concentrações após a diluição. Conforme explica, o componente tem um pH alto e tende a danificar a camada de gordura que protege a pele, comprometendo assim as defesas da cútis e possibilitando quadros graves.

Eczemas (feridas vermelhas que coçam e ardem) e dermatites de contato (reação semelhante a uma queimadura e que provoca descamação) são alguns destes quadros. Por criarem uma espécie de abertura na pele, eles possibilitam a entrada de infecções mais sérias, e o risco se torna maior quando o manuseio da massinha é prolongado, especialmente a quem tem a pele mais sensível.

Conforme explica Tatiana, bebês de até dois anos (que não têm a barreira cutânea formada) e crianças com alergias de pele ou dermatite atópica (condição que traz vermelhidão e feridas) têm mais facilidade em absorver a substância. "Tem que imaginar que ela está brincando com sabão em pó, e sabão absorve gordura da pele e derruba sua barreira", afirma a dermatologista.

Entretanto, Tatiana diz que o risco maior ocorre quando a substância entra no organismo, o que pode ocorrer pela ingestão do produto, inalação e absorção por feridas na pele ou contato com mucosas (que têm uma superfície mais delicada). A dermatologista destaca que, ainda que estes fatores não ocorram

Água boricada no slime também é perigosa?

A água boricada, por sua vez, também pode oferecer perigo mesmo contendo uma quantidade menor da substância tóxica em sua formulação. Ainda que esse produto normalmente não cause problemas de saúde e seja seguro para tratar, por exemplo, conjuntivite, algumas pessoas ainda podem apresentar reações a ele.

Quem explica é a dermatologista Rossana Vasconcelos, também da SDB. "Em baixas doses, o ácido bórico costuma não oferecer risco à saúde. Como na água boricada ele está em pequenas quantidades, é uma opção mais segura, mas, ainda assim, há pessoas que têm a pele mais sensível e podem desenvolver os mesmos tipos de problema”, afirma a médica sobre o risco de lesões na pele.

Sintomas de intoxicação por bórax

Quando a substância entra no organismo, é possível que o paciente sinta exatamente os sintomas relatados pela mãe, como náuseas, vômito, diarreia e dores abdominais. Se entrar em contato com os olhos, o bórax pode causar vermelhidão, inchaço, coceira e até evoluir para uma infecção.

Ao observar tais sinais na criança, é importante encaminhar ao médico o mais rápido possível e relatar contato com o slime.

Slime é seguro, afinal?

Segundo Tatiana, receitas que não levam bórax ou água oxigenada são menos perigosas, mas, ainda assim, não há como garantir que o produto final da mistura caseira será inofensivo. Assim, o produto industrializado seria mais seguro, já que possui regulamentação.

A Anvisa lembra, inclusive, que chegou a retirar do mercado, em 2002, um tipo de massinha similar que levava bórax em sua composição.

O presidente do Departamento de Toxicologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Carlos Augusto Mello da Silva, afirma que a fabricação ou manuseio do slime com substâncias químicas em concentrações desconhecidas traz riscos e o ideal é que os pais não permitam.

Para tornar a brincadeira mais segura, porém, há algumas dicas. De acordo com os especialistas, garantir que a criança use luvas ao mexer com a geleca, orientá-la a não encostar outras partes do corpo que não a mão nela, certificar-se de que ela não está colocando a mão na boca ou nos olhos, limitar o tempo da brincadeira e supervisioná-la o tempo todo são alguns exemplos.

Segurança e saúde infantil

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