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Como é transmitida a toxoplasmose e quais são os sintomas desta doença?

Publicado 16 Mai 2019 – 12:20 PM EDT | Atualizado 16 Mai 2019 – 02:23 PM EDT
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Após surtos recentes de toxoplasmose se espalharem pela cidade se São Paulo, muitas dúvidas surgiram sobre a doença. A infecção é uma das consequências que se pode ter ao consumir alimentos contaminados e reforça que as orientações para higienização de comidas com produtos próprios para isso e cozimento devido de carnes não devem ser vistas como exagero.

De acordo com dados da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), desde março de 2019 foram registrados três surtos de toxoplasmose em São Paulo, que geraram, ao todo, 45 casos da doença em moradores de diferentes bairros da cidade.

"As ocorrências passaram a ser monitoradas em março deste ano após a Covisa, assim como o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE/SES), recomendar a notificação de casos agudos da doença, como forma de conhecer a dimensão das ocorrências e investigar possíveis fontes e situações de risco. Desde o início do monitoramento, foram identificados três surtos (quando há mais de dois casos da doença) em bairros de diferentes regiões do município e que totalizam 45 casos. A Covisa os conheceu após identificação de casos individuais e por meio de denúncias na Ouvidoria SUS", diz o órgão em nota.

Apesar de a toxoplasmose não ser grave na maioria dos casos, há situações em que a infecção pode até prejudicar o sistema nervoso. A seguir, entenda a doença, saiba como ela é transmitida e qual é a melhor forma de preveni-la.

Toxoplasmose: o que é?

De acordo com o site do Hospital Israelita Albert Einstein, a toxoplasmose é uma doença infecciosa causada por um protozoário chamado toxoplasma gondii e é essencialmente um parasita felino. Isso porque, ainda que seja capaz de infectar humanos e outros bichos, é apenas nestes animais que ele completa seu ciclo biológico.

Como pega?

Por ter relação com felinos, é comum se pensar que o simples contato com um gato é perigoso, mas não é assim que se dá a transmissão da toxoplasmose. Fazer carinho em um desses animais ou estar perto deles, por exemplo, não é o suficiente para contrair o parasita, já que a transmissão se dá pela ingestão do protozoário, que, por sua vez, está presente nas fezes dos felinos hospedeiros.

Segundo informações do Hospital Sírio Libanês, isso acontece, na maior parte das vezes, pelo consumo de água e alimentos contaminados pelo parasita – algo que ocorre conforme seus cistos chegam ao meio ambiente nas fezes de animais hospedeiros.

É possível, por exemplo, que os excrementos penetrem o solo onde são cultivados legumes, verduras e frutas, ou que estes alimentos entrem em contato com resíduos contaminados durante seu transporte.

Outra possibilidade é que animais criados para consumo tornem-se veículos para doença. Isso porque, apesar de ser conhecida como doença do gato e de o parasita se desenvolver completamente apenas no organismo de felinos, é possível que bois e porcos, por exemplo, contraiam a infecção conforme se alimentam de pasto contaminado. Conforme isso acontece, a carne deles fica contaminada e, caso seja consumida crua ou malcozida, pode transmitir para os humanos.

Fora estes animais, também é possível que pombos, ratos e até cachorros transmitam a toxoplasmose. Para isso, porém, é preciso que eles tenham feito contato com as fezes de um gato (ou outro felino) infectado, já que é apenas neles que os cistos dos protozoários passam para o intestino. Quando isso acontece, estes animais podem espalhar o material infectado pelo ambiente, porém é bastante raro.

Além disso, muita gente acha que qualquer gato transmite toxoplasmose, mas não é bem assim. Ainda que seja possível um felino de estimação hospedar o protozoário dependendo da forma como ele se alimenta e das circunstâncias sob as quais sai de casa, eles dificilmente serão os transmissores; é mais provável que o parasita venha de animais de rua.

O que causa no corpo de humanos?

Enquanto nos felinos o protozoário completa seu ciclo, nos seres humanos e em outros animais o cisto se rompe no estômago e o parasita, em vez de seguir caminho pelo intestino, atravessa as paredes do tubo digestivo e migra para outras partes do corpo, com preferência pelo tecido nervoso.

Toxoplasmose na gravidez

Ainda que a transmissão da doença se dê essencialmente a partir do consumo de alimentos mal-higienizados ou carnes de animais que não foram devidamente cozidas, há apenas uma situação em que a doença pode ser passada de um ser humano para outro: durante a gravidez, quando é chamada de toxoplasmose congênita.

Ela é especialmente perigosa porque, como o parasita atravessa os tecidos, em uma mãe contaminada ele pode passar pela placenta, infectando o bebê e fazendo com que seu desenvolvimento seja comprometido. Quando o bebê é infectado na barriga da mãe e chega a nascer, ele pode apresentar microcefalia, hidrocefalia, problemas de visão ou em outros órgãos.

Segundo informações do Sírio Libanês, o risco de transmitir a toxoplasmose para o bebê não acaba aí, já que isso também pode ocorrer no momento do parto e até através do leite materno.

Sintomas da toxoplasmose

Segundo informações do Ministério da Saúde, para quem está com o sistema imunológico forte, a toxoplasmose pode não se manifestar ou até se parecer com a mononucleose, provocando sintomas que variam de acordo com o estágio da infecção, mas, em geral, se resumem em febre, inchaço dos gânglios, dores de cabeça e musculares.

Já nos casos em que a pessoa está com as defesas do organismo fragilizadas (como quem faz quimioterapia, pessoas transplantadas ou infectadas pelo HIV), as consequências da doença podem ser mais graves. Em quadros assim, é possível haver confusão mental, falta de coordenação e convulsões, assim como outras “versões” da doença, como a toxoplasmose ocular e a neurotoxoplasmose.

Como o próprio nome já diz, a toxoplasmose ocular é uma infecção gerada pelo parasita nos olhos, algo que costuma provocar dor, sensibilidade à luz e visão turva. Quando não tratada, a doença pode provocar lesões graves no órgão, podendo inclusive comprometer a visão do paciente de maneira permanente. Já na neurotoxoplasmose, ou toxoplasmose cerebral, a infecção ocorre no cérebro, e pode ser fatal se não for tratada.

Pode matar?

Embora na maioria dos casos a toxoplasmose seja tratável, alguns fatores e complicações podem torná-la fatal. De acordo com o infectologista André Neves Alves, as formas fatais da doença costumam ocorrer entre quem está com o sistema imunológico fragilizado (pelo vírus do HIV, por exemplo) e pessoas transplantadas.

Além disso, conforme explica o médico, normalmente os casos em que a toxoplasmose mata são aqueles em que ela acontece na forma cerebral ou disseminada (ou seja, quando a transmissão da doença ocorre da mãe para o filho).

Prevenção

Não existe vacina contra a toxoplasmose. Para evitar a contaminação, a recomendação do Ministério da Saúde é a de manter boas práticas de higiene, não apenas lavando as mãos antes das refeições, mas tomando o cuidado de fazê-lo especialmente após manipular carnes cruas e ter contato com gatos.

Há também algumas medidas importantes ligadas à alimentação, como a de evitar consumir alimentos crus (especialmente fora de casa, casos em que a recomendação é preferir algo bem cozido) e também a de higienizar corretamente verduras, frutas e legumes antes de consumi-los em casa. Para fazer isso, o indicado é utilizar uma solução de hipoclorito de sódio, deixando os alimentos submersos ali por cerca de 15 minutos.

Apesar de gatos domésticos não serem os maiores transmissores da doença (e de não ser necessário se livrar deles), quem tem esse bichinho de estimação deve tomar alguns cuidados para eliminar totalmente essa possibilidade. Em primeiro lugar, é importante nunca dar carnes cruas ao felino e mantê-lo sempre bem alimentado para que ele não busque comida de outras formas. Em segundo, é necessário trocar o conteúdo da caixa de areia a cada três dias, frequentemente deixando-a exposta ao sol.

Exame: IgG e IgM

Para identificar a doença, é necessário apenas um exame de sangue, mas é comum ter dúvidas na hora de interpretar os resultados, já que ter contato com ela não significa necessariamente estar com uma infecção ativa. Conforme explica André, os chamados IgG (Imunoglobulina G) e IgM (Imunoglobulina M) são anticorpos que, quando aparecem nos resultados, indicam coisas diferentes.

“De modo geral, quando o IgG é positivo, indica que a pessoa teve contato com a doença, e quando o IgM é positivo, indica uma infecção aguda, ou seja, atual”, afirma o infectologista.

Toxoplasmose tem cura? Como é o tratamento?

Quando a pessoa infectada pela doença tem uma boa imunidade, a toxoplasmose normalmente evolui sem deixar sequelas e não é preciso fazer um tratamento específico, usando apenas medicamentos que controlem os sintomas apresentados (como a febre e as dores no corpo, por exemplo).

De acordo com o infectologista, na maior parte dos casos o tratamento segue sendo medicamentoso, nos quais utiliza-se antibióticos e substâncias capazes de combater infecções fortes (como a sulfadiazina, por exemplo, frequentemente presente no tratamento da meningite), remédios que são administrados de forma individual para cada paciente.

No caso da toxoplasmose ocular, o tratamento também é medicamentoso e, no caso de haver alguma das muitas sequelas que a doença pode causar nesta forma, elas são tratadas de forma particular pelo oftalmologista.

Na neurotoxoplasmose, em que a doença afeta o cérebro, André afirma que pode haver necessidade de tomar medidas mais drásticas. “Em casos selecionados, pode se realizar neurocirurgia”, afirma o infectologista.

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