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Técnica para controlar quando a menstruação desce ganha adeptas: faz mal?

Publicado 22 Fev 2019 – 11:36 AM EST | Atualizado 22 Fev 2019 – 11:44 AM EST
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Ainda que a menstruação siga sendo um tabu para muita gente, a discussão sobre o assunto – especialmente entre mulheres – tem aumentado bastante nos últimos anos, e muitas estão conseguindo ficar cada vez mais confortáveis com esse sangramento mensal. Isso diz respeito especialmente à forma de encarar e lidar com ele, conhecendo alternativas aos tradicionais absorventes descartáveis e exercendo a liberdade de escolher o melhor para si e para o próprio corpo.

Além dos coletores, das calcinhas menstruais e até absorventes de pano, outra técnica mais natural para conciliar o fluxo tem ganhado adeptas – e ela parece um verdadeiro sonho. Chamada popularmente de sangramento livre, esse método consiste no controle da musculatura vaginal para permitir que o sangue menstrual saia da vagina apenas quando a mulher “permitir”.

Sangramento livre: como é a técnica?

Como as mulheres são orientadas desde cedo a optar pelos absorventes e não costumam ser instruídas o bastante sobre seu aparelho reprodutor e região íntima, é natural que a ideia de prender o fluxo menstrual de maneira voluntária seja algo de outro mundo, mas, para a ginecologista Bel Saide, o corpo feminino tem ferramentas suficientes para conseguir isso.

De acordo com a médica, que pratica a ginecologia natural (vertente que busca evitar o uso excessivo de substâncias químicas, reduzir a produção desenfreada de resíduos prejudiciais para o ambiente e incentivar que a mulher conheça melhor o próprio corpo), a ideia do sangramento livre não é algo novo, mas ganha adeptas constantemente pela vontade que muitas mulheres têm de explorar novas possibilidades.

O conceito é bastante simples: trata-se de uma técnica em que a mulher percebe quando o sangue menstrual se encaminhando ao canal vaginal e, se desejar, consegue retê-lo ali, impedindo que vaze - como segurar o xixi. Conforme explica ela, isso é possível uma vez que a mulher aprende a controlar as musculaturas pélvica e vaginal a partir de treinos como o pompoarismo, técnica asiática propõe exercitar o assoalho pélvico a partir de contrações (com e sem acessórios, como bolinhas e afins).

Para explicar, Bel cita mulheres que, ao dominar a prática, transformam a vagina em algo ainda mais extraordinário. “Elas conseguem arremessar bolinhas de pingue-pongue a uma distância absurda [com a vagina], tirar e colocar coisas”, exemplifica, afirmando que, perto disso, segurar o sangue menstrual é o de menos.

Além de exigir uma musculatura pélvica bastante tonificada, o sangramento livre também requer uma percepção aguçada e um grande conhecimento a respeito do próprio corpo.

“A gente tem sensibilidade na vagina, quando o sangue vai descer a gente sente, é só ficar atento”, afirma, ressaltando que isso depende de muita observação e que isso varia de mulher para mulher.

Por quanto tempo é possível segurar a menstruação?

Ela lembra, porém, que não é possível ficar horas retendo o sangue. Segundo a ginecologista, como o útero não é uma musculatura que pode ser controlada voluntariamente, não dá para impedir que o sangue seja liberado por ele. Assim, a mulher consegue apenas fazer com que ele fique retido no canal vaginal.

Como o fluxo fica “na porta” e a vagina não tem, como a uretra, um esfíncter que impede sua liberação involuntária, a força da musculatura pélvica não é suficiente para segurar o sangue durante horas a fio.

Assim, as praticantes do sangramento livre realizam o controle por alguns minutos, até que possam ir ao banheiro liberar o sangue. Isso é possível uma vez que o sangramento não ocorre de forma contínua, mas sim em pequenos escapes - o que a maioria das mulheres não aprendeu a identificar. Quando a menstruação desce novamente, o processo é repetido.

Dá para substituir o absorvente e o coletor pela técnica?

Apesar de algumas mulheres dependerem exclusivamente do método durante a menstruação, sem precisar recorrer a outras formas de coletar e descartar o sangue, isso pode não ser tão simples.

Segundo a ginecologista e obstetra Ana Carolina Lúcio Pereira, adepta da medicina convencional, além da necessidade de se ter uma musculatura pélvica muito bem treinada, cada mulher tem um fluxo menstrual diferente, e sua intensidade ainda varia de um dia para o outro.

“O fluxo menstrual é muito variável, porém, é normal que no segundo e terceiro dia ele aumente de forma significativa. O controle vaginal para esta contenção deve ser difícil em períodos de maior intensidade, visto que a mulher deve ir ao banheiro eliminar este sangue com muita frequência e rapidez, impossibilitando a vida social flexível e natural”, opina.

Segundo Bel, é justamente por isso que muitas mulheres que aderem à técnica apostam nela quando estão em casa – já que ter um vazamento ali não é tão complicado quanto tê-lo no trabalho, por exemplo – e, ao sair, recorrem a outras formas de conciliar a menstruação, para o caso de não terem acesso fácil ao banheiro ou outras situações.

Riscos e benefícios

Apesar de parecer estranho e até "antinatural" para algumas pessoas, ambas as ginecologistas garantem que o único "risco" que as mulheres correm ao testar esta técnica é o de o sangue menstrual vazar em momentos inapropriados. Porém, quanto à saúde, não há problema.

Conforme explica Bel, a contração da musculatura pélvica faz com que o sangue fique acumulado na vagina – e apenas por alguns minutos –, algo que já ocorre para quem usa absorventes internos ou coletores menstruais. “Quanto a um possível desconforto, só quem faz é que vai saber”, adiciona ela, lembrando que a experiência varia para cada mulher.

O método também não traz nenhum benefício específico à saúde além do maior conhecimento e empoderamento sobre o próprio corpo, mas dá ainda mais uma opção a mulheres que querem deixar de lado os absorventes convencionais.

Além de algumas mulheres sofrerem com alergia aos absorventes externos e de os internos possuírem muita química em sua composição (e aumentarem o risco da Síndrome do Choque Tóxico), ainda há a desvantagem do alto valor que se gasta com a compra dos absorventes todos os meses e o impacto deles ao meio ambiente. Isso, de acordo com Bel, faz muitas recorrerem ao coletor, aos absorventes de pano, calcinhas menstruais reutilizáveis e, por vezes, ao sangramento livre.

Ela reforça, porém, que a ginecologia em geral não deve obrigá-las a preferir um método em detrimento de outros. “Cada uma vai ter sua forma de lidar. É uma relação da mulher com a menstruação dela, não é nada que seja obrigatório, não é nada que a gente pregue”, afirma, ressaltando que também não há motivo para questionar tais escolhas. “Ela faz porque quer, porque se sente bem, à vontade”, conclui.

Menstruação e saúde da mulher

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