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Em cirurgia de 7 horas, Bolsonaro teve até 20 cm do intestino removidos: entenda método

Publicado 28 Jan 2019 – 04:58 PM EST | Atualizado 28 Jan 2019 – 04:58 PM EST
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O presidente Jair Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia para retirada da bolsa de colostomia na manhã desta segunda-feira (28). Conforme informa o boletim médico divulgado pelo hospital Albert Einstein (SP), foi realizada uma anastomose do íleo com o cólon transverso.

Esse foi o terceiro procedimento do atual chefe de governo do país desde que foi atingido por uma faca no abdômen quando ainda concorria à Presidência da República.

Em conversa com o VIX, o cirurgião bariátrico, médico assistente na cirurgia do trauma e professor colaborador da FMUSP Nilton Kawahara explicou do que se trata a nova cirurgia realizada por Bolsonaro, por que optou-se por este tipo de procedimento, a demora na operação e quais devem ser os próximos passos do presidente:

Cirurgia de Bolsonaro: entenda

Ligação de intestinos

Em 6 de setembro de 2018, quando realizava um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro foi ferido por uma faca.

Após o ataque, o então candidato à Presidência passou por duas cirurgias para reconstruir o trânsito intestinal e uma bolsa foi acoplada ao corpo do político para a coleta das fezes – esta última em um processo chamado colostomia.

Agora, na terceira cirurgia, a bolsa de colostomia foi retirada e foi realizada a chamada anastomose do íleo com o cólon transverso, que consiste na conexão de parte do intestino grosso ao intestino delgado - e, para isso, é necessário dissecar até 20 cm do intestino grosso.

Por que optou-se por ligar intestino grosso ao delgado

Quando uma equipe médica opta pelo estilo de procedimento adotado em um paciente em cirurgias como a de Bolsonaro, cada caso é avaliado individualmente.

“Consideramos se o paciente tem ou não parte do cólon, a segurança do procedimento - que apresenta uma taxa de complicações entre 5 e 20%, além de mortalidade abaixo 1% -, entre outros fatores”, explica o médico.

Isso porque as opções para a recomposição do fluxo intestinal são inúmeras, desde variações na abordagem (instrumentos utilizados) até o tipo de reconstrução da estrutura (ligações).

Em relação à abordagem, pode-se fazer costuras com grampeamento, com laparotomia ou videolaparotomia. Pode-se fazer a reconstrução através da ligação das duas partes do intestino grosso que haviam sido separadas ou seguir com um procedimento igual ao do presidente, de conectar o intestino grosso com o delgado - que produz menos riscos de surgimento de fístulas (furos).

Demora da cirurgia

Geralmente uma cirurgia de anastomose do íleo com o cólon transverso é um simples e dura em torno de uma a três horas.

Entretanto, o procedimento de Bolsonaro levou mais que o dobro do esperado e foi encerrado depois de sete horas.

Kawahara explica que a demora pelo encerramento da operação provavelmente deve-se ao histórico do presidente, que já havia passado por outras duas cirurgias e precisava ter o organismo limpo para que a nova fosse realizada com sucesso.

“Só a parte de desfazer as aderências, às vezes, pode demorar até quatro horas”, afirma Kawahara.

Perder 20 cm de intestino muda a vida da pessoa?

Além da longa espera para a conclusão do procedimento, chama atenção na cirurgia de Bolsonaro o fato de parte do intestino grosso ter sido retirado.

Segundo Kawahara, essa perda não deve acarretar grandes complicações ao funcionamento do organismo do político. “A parte do colón ascendente removido absorve líquidos, suco gástrico. Então, em alguns casos, o intestino pode seguir com mais evacuações. Mas o corpo se adéqua”, tranquiliza o especialista.

Recuperação e cuidados

Em teoria, a cirurgia de retirada da bolsa de colostomia de ligação dos intestinos deve ser a última de Bolsonaro para a reconstrução do fluxo intestinal, caso a recuperação do presidente seja bem-sucedida.

Alimentação

É esperado que nos próximos dias o presidente comece a ser realimentado assim que o trânsito intestinal volte a funcionar – algo esperado para acontecer em um intervalo de três a cinco dias pós-cirurgia.

A reintrodução alimentar deve passar de comidas líquidas para pastosas e, então, sólidas. Nesse meio tempo, Kawahara, acredita que uma equipe de nutrólogos acompanhará Bolsonaro para que nutrientes não faltem na dieta diária do paciente.

Fistulas e tromboembolismo

Kawahara chama atenção, ainda, para a possibilidade da formação de fístulas intestinais e tromboembolismo como possíveis complicações da cirurgias. “Depende da reação do organismo dele”, comenta o médico.

Por isso, o médico acredita que o melhor para a recuperação do presidente não deve ser retornar às atividade de imediato. “Se fosse meu paciente, ele ficaria, nos primeiro dias, isolado para ter uma recuperação mais segura. Acredito que ele fique 10 dias no hospital para, talvez, poder recomeçar os trabalhos. Para ter mais segurança.”

Saúde gastrointestinal

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