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Quero parar de usar pílula anticoncepcional: o que pode acontecer com meu corpo?

Publicado 30 Nov 2018 – 04:00 AM EST | Atualizado 3 Dez 2018 – 03:17 PM EST
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A pílula anticoncepcional é um dos mais conhecidos métodos para assegurar que a mulher não engravide. Entretanto, por diferentes motivos, há quem decida descontinuar seu uso e optar por outros recursos para prevenir a gravidez.

Mas aí vem a pergunta: o que pode acontecer com o corpo da mulher depois que ele para de receber as doses de hormônio a que estava acostumado? O VIX conversou com ginecologistas e endocrinologista para saber exatamente como o organismo feminino reage à decisão de parar com a pílula.

Como a pílula funciona no corpo

Dividida em duas categorias, a pílula age com a intenção de bloquear a ovulação. A diferença entre os dois tipos está na composição do medicamento.

As pílulas podem ser combinadas de hormônios sintéticos estrogênios e progestagênios (podendo ou não haver pausas entre cartelas) ou somente de progestagênios (estes tomados de forma continuada sem pausas), ambos inibindo a ovulação por ação na hipófise, e por consequência atuando como método contraceptivo

“Para uma pessoa que toma anticoncepcional, não importa há quanto tempo, o efeito que o remédio causa é como se os ovários estivessem brecados, pois é o hormônio de fora que está sendo dado ao organismo. Então, é um ciclo artificial”, diz o ginecologista e obstetra Marcos Tcherniakovsky, médico da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC.

Decidi parar de tomar a pílula: o que pode acontecer?

Quando existe a decisão de interromper o uso da pílula, o que acontece é que o ovário volta a funcionar da mesma forma ao período em que o medicamento não fazia parte da rotina da mulher.

“Como, na maioria das vezes, o anticoncepcional é diário, assim que se para de tomá-lo, o ovário volta a trabalhar de maneira absolutamente normal com a produção de hormônio e o corpo vai ter uma reação idêntica”, afirma Tcherniakovsky.

A seguir, listamos as principais reações do corpo à decisão de interromper a pílula e a explicação dos especialistas para cada caso:

Menstruação

Uma das principais consequências do uso das pílulas é a diminuição do fluxo menstrual. Sendo assim, é comum que uma pessoa que faz uso do anticoncepcional sangre menos do que aquela que não faz uso, pontua Tcherniakovsky.

Outro ponto sobre o anticoncepcional é que, por proporcionar a mesma dosagem hormonal diariamente ao organismo, ele torna a menstruação mais regular por estimular o endométrio de uma maneira igual, sem que essa camada do útero aumente demais de tamanho durante o período menstrual – diferente das mulheres que vivem maiores oscilações e acabam passando por todas as fases do ciclo menstrual.

Assim, caso a mulher decida interromper o uso da pílula, os especialistas apontam que seu corpo tende a retornar ao padrão de menstruação que apresentava antes.

“Se uma paciente costumava ter, antes de fazer uso do anticoncepcional, menstruações normais, ao parar ela vai continuar a ter ciclos regulares. Agora, se ela tomou ou fez uso do anticoncepcional justamente para regular o ciclo, assim que ela parar, o ovário vai trabalhar como antes do uso do remédio. Ou seja, com uma grande probabilidade de voltar a ter ciclos irregulares”, pontua Tcherniakovsky.

Gravidez

De acordo com os especialistas, demora de um a seis meses para o ovário retomar a sua função normal após o abandono da pílula, ou seja, para voltar a produzir hormônio de maneira estável e ovular.

“Mas esse tempo vai variar de mulher para mulher e da composição do anticoncepcional que ela tomava”, pontua o ginecologista e mastologista Rogério Fenile, membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia.

Sobre o risco de gravidez imediatamente após a interrupção do anticoncepcional, é válido ressaltar que existe, sim, a possibilidade de produção de óvulos normalmente no período fértil seguinte à pausa da pílula que, às vezes, coincide com o mês do fim ciclo do medicamento.

“Então, o potencial para a mulher engravidar é exatamente nesse mesmo mês em que ela parou de tomar. Porque o se o ovário começou a trabalho é possível que ele forme o óvulo. Se esse ovário tem condições de formar o óvulo e vai estar no período fértil, ele vai ter o potencial de gravidez”, adiciona Tcherniakovsky.

Acne e oleosidade da pele

A interrupção da pílula anticoncepcional no corpo da mulher pode piorar acne e oleosidade da pele, visto que os anticoncepcionais estão associados a efeitos antiandrogênicos.

“A maioria dos anticoncepcionais possuem ação antiandrogênica, ou seja, reduzem os efeitos dos hormônios masculinos no corpo da mulher, que tem esses ‘efeitos’ mais pronunciados que outras - principalmente aquelas com hiper-androgenismo confirmado, como no caso da síndrome dos ovários policísticos”, explica Ana Júlia Garcia Pereira, endocrinologista da Endoclínica São Paulo e especialista em endocrinologia e metabologia.

Libido

A ação antiandrogênica do anticoncepcional também influencia na libido da mulher. “Graças à ação antiandrogênica, o uso de anticoncepcional pode levar à redução da libido”, afirma Ana Júlia.

Sendo assim, a interrupção do remédio tende a normalizar o desejo, aumentando a disposição da mulher para o sexo, excitação e até lubrificação.

Entretanto, a especialista alerta que a redução do apetite sexual da mulher nem sempre está ligado a questões hormonais. “A libido não é estimulada exclusivamente pela ação da testosterona, uma vez que a análise psicológica não pode ser menosprezada. Em algumas mulheres, o fato de se sentirem ‘protegidas’ da gravidez pode até aumentar a libido”, avisa a endocrinologista.

Tirar a pílula emagrece?

Segundo Lidia Joo Myung, ginecologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, ainda não existem evidências sobre a influência dos anticoncepcionais sobre o peso, seja em relação ao ganho de gordura ou de massa magra.

“Não há nenhuma comprovação de que pílulas engordam. Como a mulher toma pílula por muitos anos, atribui-se o ganho de peso à pílula. Entretanto, é difícil a mulher que não ganhe peso ao longo do uso da pílula. Não dá para ter certeza de que somente a pílula foi a responsável ou se tiveram outras mudanças no corpo”, diz.

De acordo com a ginecologista, o que pode acontecer é que a pílula contribua para a retenção de líquido em grau leve. “Afinal, são pequenas doses [hormonais] por dia”, explica a médica.

“O progestágeno presente nos anticoncepcionais, sejam eles combinados (estrógeno + progesterona) ou não, pode levar à retenção hídrica em algumas mulheres. Talvez este seja o maior responsável pela sensação de ganho de peso. Em alguns casos pode-se notar um aumento de 2 a 3 kg na balança, o que não significa que aumentou seu tecido adiposo”, complementa Ana Júlia.

Sendo assim, é possível que algumas mulheres notem uma silhueta mais fina ao abandonar o anticoncepcional, mas não é possível afirmar com certeza.

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