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Poucos sabem, mas pesadelo pode ser sinal de várias doenças, inclusive no cérebro

Publicado 8 Nov 2018 – 04:29 PM EST | Atualizado 8 Nov 2018 – 04:29 PM EST
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Quem nunca teve uma noite cujo sonho não foi exatamente o melhor possível? Ter um pesadelo nunca é agradável, mas é um fenômeno natural do nosso sono.

Apesar de ser uma categoria de sonho comum, a frequência de pesadelos requer atenção: quando corriqueiros, esses sonhos ruins podem ser um indicativo de que algo está acontecendo em nosso organismo.

Pesadelo: o que é

O transtorno do pesadelo, nome dado ao conhecido pesadelo, é uma alteração no chamado sono REM (sigla em inglês para Rapid Eye Movement, ou movimento rápido do olho).

Cerca de 90% dos nossos sonhos acontece na fase REM – isto se não for considerada nenhuma interrupção durante o sono, como despertadores ou movimentações no corpo.

A fase REM é a quarta etapa de uma noite bem dormida e é antecedida pela etapa de sono profundo (3ª), sono superficial (2ª) e de transição (1ª).

De acordo com o neurologista Mauricio Kruschinsky, do Espaço Médico Brasil, crianças e adultos podem ser afetados de maneiras diversas pela incidência de pesadelos, sendo que no público infantil existe um quadro neurologicamente bem determinado conhecido como terror noturno, em que os pequenos vivenciam pesadelos de forma bastante vívida e têm dificuldade em acordar.

“Estudos mostram que cerca de 30% das crianças com 5 anos de idade e 40% das crianças em torno dos 10 anos sofrem com pesadelos. Na fase adulta, a ocorrência é maior no sexo feminino (58%) quando comparada ao sexo masculino (37%)”, diz o neurologista.

Ter pesadelos demais é um distúrbio?

Ainda que o nome transtorno cause impacto, é importante ressaltar que a ocorrência de pesadelos - seja ela esporádica ou frequente - não é caracterizada como um distúrbio do sono por si só.

Segundo Kruschinsky, distúrbios de sono são aqueles em que há uma alteração do ato de dormir. "Quando um paciente se movimenta a noite toda, tem agitação e grita", exemplifica o especialista.

Além disso, o neurologista elenca as dificuldades de dormir. "Temos a insônia de início, que é a dificuldade de pegar no sono; a de manutenção, aquela em que o paciente acorda de tanto em tanto tempo durante a noite; ou a chamada de terminação, em que ele acorda muito cedo e não consegue dormir mais."

O médico explica que os pesadelos podem fazer parte das manifestações do organismo durante uma noite mal dormida. Entretanto, o fato de ter pesadelo, por si só, não pode ser caracterizado como um distúrbio do sono.

"O pesadelo não é o distúrbio em si, ele apenas pode ser o sintoma de um - seja psiquiátrico, de ansiedade, de insônia ou outro qualquer", diferencia o neurologista.

Quando se preocupar com pesadelos?

Conhecidos por serem sonhos desgastantes, os pesadelos, se frequentes, podem gerar cansaço à pessoa, afetar sua memória e o próprio cotidiano do indivíduo no que diz respeito a interações sociais e atividade laboral - impactos que pedem atenção.

Além disso, o pesadelo, quando recorrente, também chama atenção por ser um possível sintoma de alguns quadros de saúde mais sérios.

“Os pesadelos podem estar associado a doenças agudas ou crônicas, devido a alterações bioquímicas dos órgãos que atingem o cérebro, ou alterações patológicas do próprio cérebro”, afirma o neurologista.

Quadros de saúde que causam pesadelos

Os quadros clínicos que podem se manifestar por meio de pesadelos são:

Apneia

A apneia do sono - um tipo de distúrbio obstrutivo do sono no qual há um aumento da resistência nas vias aéreas superiores, dificultando a passagem de ar - pode ser anunciada por pesadelos recorrentes de queda de alturas, sufocamentos, afogamentos, aterramentos ou qualquer outra situação que simule, de maneira psicanalítica, quadros de "falta de ar".

“Isso se deve ao fato de o cérebro reagir de maneira neural às variações de queda de saturação de oxigênio, devido às inúmeras paradas respiratórias determinadas pela apneia. Quanto maior a gravidade da doença, pode-se ter incrementos desse tipo de sonhos”, explica Kruschinsky.

Disfunções pulmonares

É comum observar alterações do sono em pessoas que apresentam quadros avançados de comprometimento pulmonar, como o enfisema – uma das complicações possíveis causadas pelo tabagismo.

A ocorrência de pesadelos em pessoas com disfunções pulmonares deve-se à baixa capacidade de oxigenação do organismo, similar ao que acontece em quadros de apneia e a sensação de “falta de ar”.

Disfunções hepáticas

O comprometimento das funções do fígado provocado pelo consumo excessivo de bebida alcoólica pode desencadear a ocorrência de pesadelos em uma frequência maior.

Isso acontece pela presença dos metabólitos da bebida alcoólica, que provocam não só alterações neurológicas diretas, como também afetam as funções hepáticas do organismo.

“Ocorre o acúmulo de substâncias que seriam degradadas pelo fígado e que, agora, aumentam o grau de intoxicação do cérebro”, diz Kruschinsky.

Parkinson

A doença de Parkinson trata-se de uma doença degenerativa que ataca o sistema nervoso central e pode ser categorizada como uma enfermidade crônica e progressiva – já que não há como curá-la e os tratamentos visam minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Os pesadelos podem significar as primeiras manifestações do Parkinson, junto com quadros de constipação e de alteração na percepção dos odores.

“Tem-se uma deficiência dos níveis de dopamina em determinada região específica do cérebro, o hipotálamo. A região é responsável, entre outras funções, pelo processo de geração de sonhos, durante o sono REM, fazendo com que a sua disfunção promova também disfunção dos elementos do sono, incluindo a insônia”, explica Kruschinsky.

Pânico e ansiedade

Transtornos de ansiedade, como a síndrome do Pânico, o medo patológico e a depressão, são quadros neuropsiquiátricos onde o distúrbio básico dá-se na bioquímica cerebral.

Deste modo, as alterações biofisiológicas desencadeadas por esses quadros clínicos levam à ocorrência de pesadelos.

“Isso ocorre por também alterarem as vias neurais que compõem os sistemas encarregados do ciclo de sono-vigília e das experiências de sonho durante o sono REM”, explica Kruschinsky.

Tratamento

Conforme reforça o médico, pesadelos eventuais são normais de ocorrerem e não exigem preocupação.

Porém, quando tais sonhos tornam-se frequentes e/ou impactam de maneira negativa a qualidade do sono e de vida, um neurologista deve ser procurado para que a causa da ocorrência dos pesadelos seja investigada.

Assim, o tratamento ideal poderá ser indicado para cada situação e quadro de saúde vivido pelo paciente.

Atenção ao sono

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