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Stephen Hawking: como sobreviveu 55 anos com ELA, quando médicos o deram apenas 2

Publicado 14 Mar 2018 – 11:58 AM EDT | Atualizado 14 Mar 2018 – 11:58 AM EDT
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O cientista mundialmente famoso Stephen Hawking morreu aos 76 anos após batalhar contra uma doença degenerativa por mais de 50 anos. O físico foi responsável por grandes descobertas acerca de buracos negros, mecânica quântica e o início do universo. 

Hawking era portador de um tipo grave de esclerose que gerou diversas limitações que o impediam de se mover e falar, mas superou a expectativa de vida da maioria dos pacientes com tal condição.

Stephen Hawking morre aos 76 anos

Stephen Hawking morreu em sua casa, em Cambridge, na Inglaterra. "Nós estamos profundamente tristes que nosso amado pai faleceu hoje. Ele foi um grande cientista e um homem extraordinário cujo trabalho e legado vão viver por muitos anos. Sua coragem e persistência com seu brilhantismo e humor inspiraram pessoas por todo o mundo", informou a família em nota.

O cientista foi casado duas vezes e deixou três filhos: Lucy, Robert e Tim.

Stephen Hawking viveu com ELA por 55 anos

Stephen Hawking descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) em 1963, aos 21 anos. A doença degenera neurônios de modo que prejudica músculos de todo o corpo, inclusive os relacionados à respiração, mas mantém as funções cerebrais intactas.

A condição começa com fraqueza, rigidez, espasmos e perda de coordenação nos músculos, e evolui para perda de massa muscular e dos movimentos, conforme foi retratado no filme "A Teoria de Tudo", que conta a história de Hawking e como o professor desenvolveu os primeiros sintomas da doença.

Expectativa de vida

Após o diagnóstico, médicos disseram que Stephen sobreviveria apenas mais dois anos, mas o cientista apresentava uma forma da condição com progresso lento e viveu mais de meio século.

O físico chegou a declarar que o diagnóstico precoce da doença terminal e a convivência com um garoto que morreu de leucemia gerou um senso de propósito que fez com que "aproveitasse a vida no presente mais do que antes".

Conforme seu estado de saúde piorou, os movimentos das pernas ficaram muito comprometidos e o físico trocou muletas pela cadeira de rodas. Desde então, passou a se locomover com certa liberdade e a brincar de perseguir estudantes nas ruas de Cambridge.

Vida acadêmica

Na faculdade, Stephen era visto como um aluno difícil e até mesmo preguiçoso. Apesar disso, sua genialidade o levou a grandes feitos. O primeiro deles ocorreu em 1970, quando aplicou a matemática dos buracos negros ao universo.

Quatro anos depois, o físico usou a teoria quântica para determinar que buracos negros emitem radiação térmica e eventualmente podem explodir com a energia de um milhão de bombas de hidrogênio. A teoria provoca, até hoje, inúmeros debates na comunidade científica.

Nos anos seguintes, Hawking fez uma série de contribuições radicais que o levaram a integrar a Sociedade Real de Londres para o Melhoramento do Conhecimento Natural em 1974, aos 32 anos. Cinco anos depois, ele ocupou um prestigiado cargo de professor em Cambridge que fora anteriormente detido pelo físico e matemático Isaac Newton.

"Uma Breve História do Tempo" e prêmios

As contribuições de Newton à ciência continuaram na década de 1980 com estudos sobre inflação cósmica e flutuações quânticas, mas seu grande reconhecimento ocorreu em 1988 com a publicação do best seller "Uma Breve História do Tempo", livro que apesar de ter um tema difícil vendeu 10 milhões de cópias e foi traduzido para 40 idiomas diferentes.

Desde então, o cientista ganhou troféus importantes como o prêmio Albert Einstein, o prêmio Wolf, a medalha Copley e o Prêmio de Física Fundamental.

Casamentos

Hawking se casou com a educadora Jane Wilde em 1965, três anos após conhecê-la e dois após ser diagnosticado com ELA. O casal teve três filhos, mas o casamento terminou em 1991 em decorrência de uma série de dificuldades conjugais que incluíam as exigências de Stephen sobre Jane e a dificuldade em lidarem com a doença degenerativa.

No livro "Viajando para o Infinito: Minha vida com Stephen", escrito por Jane em 2013, ela conta que o cientista era "uma criança possuída de um ego maciço e fracassado" e que a relação deles se tornou igual a de um mestre com sua escrava.

Em 1995, Hawking se casou com a enfermeira Elaine Mason, uma das funcionárias que cuidava dele 24 horas por dia. Os dois ficaram juntos por 11 anos até que se divorciaram. Na época, houve boatos de que a esposa agredia fisicamente e humilhava o físico, alegações nunca confirmadas por Hawking.

Traqueostomia e perda da voz

Em 1985, quando ainda estava casado com Jane Wilde, Hawking sofreu com uma forte infecção que fez com que médicos perguntassem a sua esposa se os aparelhos que mantinham a vida de seu marido poderiam ser desligados. Ela disse que não e o cientista passou por uma traqueostomia que manteve seu sistema respiratório ativo, mas o deixou mudo.

Durante algum tempo, a única ferramenta que Stephen tinha para se comunicar era um quadro de plástico com letras que eram identificadas pelo piscar dos olhos, mas felizmente uma nova tecnologia em computador permitiu que ele pudesse escrever e ser "interpretado" por uma voz robótica.

Últimos anos

A vida de Stephen Hawking com ELA foi interpretada em biografias e documentários, além do filme "A Teoria de Tudo". O cientista também fez aparições em diversas séries televisivas, como Os Simpsons e The Big Bang Theory.

Seus últimos anos foram marcados por mais avanços da doença que o permitiam mover apenas um dedo e os olhos. Apesar disso, ele continuou comparecendo a importantes eventos e inspirando milhares de pessoas com seus feitos acadêmicos e pessoais.

Em entrevista ao The Guardian, Hawking disse que viveu com a ideia de que iria morrer por muitos anos. "Então, eu não tenho medo da morte, mas não tenho pressa de morrer. Tem tanta coisa que quero fazer antes", disse em uma de suas frases icônicas que inspiraram o mundo.

Como Stephen Hawking sobreviveu tanto tempo com ELA?

Segundo o neurologista Antônio Cezar Galvão, do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, não há muitas informações clínicas disponíveis sobre o motivo de Stephen Hawking ter vivido tanto tempo, mas sua convivência com a doença por mais de 55 anos impressiona toda a comunidade médica.

Geralmente, quem tem a forma generalizada de ELA vive de três a cinco anos. "Hoje, existem remédios que atrasam discretamente a doença, mas mesmo assim o paciente só sobrevive com cuidados. A morte nesses casos ocorre por infecção grave, como pneumonia, ou surto respiratório", explica.

O especialista acrescenta que algumas teorias indicam por que o cientista viveu muito mais do que outros pacientes. Uma delas é que ele tinha um tipo de esclerose que afetava mais os neurônios responsáveis pelos músculos e não os que administravam funções vitais.

Outra explicação é que Stephen recebia uma assistência fisioterápica fenomenal que dava condições para que vivesse por mais tempo.

Por fim, o neurologista aponta a força de vontade como uma grande vantagem que prolonga a vida.

Vida de Stephen Hawking

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