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O que é a ciência que diz que compartilhar traumas ajuda a evitar e curar doenças?

Publicado 30 Out 2017 – 05:00 AM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 02:03 PM EDT
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Não é difícil perceber como nossos sentimentos influenciam nosso organismo: quando estamos tristes, sentimos cansaço; já o estresse reduz a imunidade e aumenta a força de bactérias oportunistas.

Mas você sabia que tal relação também é comprovada pela ciência? A seguir entenda o papel da  psiconeuroimunologia na cura de doenças:

O que é?

Psiconeuroimunologia é a ciência que acredita que as emoções e o modo como cada pessoa encara os acontecimentos da vida influenciam o organismo de tal forma que podem refletir fisicamente, de modo a desenvolver ou evitar doenças.

Cérebro reage da mesma maneira para perigos reais e simbólicos

O neuropsiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, Wimer Bottura Junior, explica que situações de perigo real, como acidentes de carro ou assaltos, fazem com que o cérebro reaja liberando uma série de substâncias que têm potencial alérgico e inflamatório, como adrenalina e cortisol, e desregulando neurotransmissores.

Entretanto, o sistema nervoso age o mesmo jeito perante situações de perigo irreal, ou seja, imaginadas, que não ameaçam realmente nossa vida.

Alguns exemplos são o medo de baratas, estresse no trabalho ou as reações a um término de um relacionamento. "São medos simbólicos, mas o cérebro não diferencia e reage da mesma maneira que faria com os perigos reais", explica o especialista.

Como sentimentos geram doenças?

Medo e raiva

O médico exemplifica que situações simbólicas ou reais de medo, raiva e estresse estimulam a produção de adrenalina, um hormônio que visa preparar o corpo para um grande esforço físico, como a fuga.

Tal reação gera contração muscular, taquicardia, dilatação da pupila e desvia grande parte do fluxo sanguíneo das mãos e dos pés para o cérebro. A situação também produz cortisol, cujo excesso enfraquece o sistema imunológico.

Tristeza e desânimo

A tristeza reduz a imunidade e deixa a saúde exposta a micro-organismos patológicos. Além disso, há a modificação da ação de neurotransmissores que proporcionam a sensação de bem-estar.

"Eles são produzidos a partir de um estoque de outros componentes, como aminoácidos. Então, se uma pessoa varia muito emocionalmente, o organismo queima o estoque e passa a produzir neurosubstâncias incompletas e menos eficazes", esclarece o médico.

Quais patologias são geradas?

Segundo o especialista, quase toda doença tem componentes emocionais em seu desenvolvimento. Depressão, ansiedade, problemas de tireoide, obesidade e esclerose são as mais comuns, mas alguns trabalhos falam também de câncer, infarte e Acidente Vascular Cerebral (AVC).

"É difícil provar tais relações, já que avaliar sentimentos é uma tarefa muita complexa, mas alguns estudos mostram evidências válidas", ressalta.

Sentimentos são essenciais para a sobrevivência

Todas as emoções têm função de sobrevivência, até mesmo as negativas como inveja, ambição, raiva e tristeza. A grande questão é como se lida com cada uma. 

O neuropsiquiatra Wimer Bottura Junior afirma que reprimir sentimentos ou "cultivá-los" excessivamente gera diversos malefícios ao organismo, o que exprime a necessidade de "botar tudo para fora", visto que o reconhecimento colabora para a superação. 

Escrever ameniza dores

Um estudo de 1986, criado pelo professor James Pennebaker, exemplifica a importância de não ignorar o que se sente: estudantes foram orientados a escrever sobre traumas e dificuldades que tiveram durante 15 minutos por quatro dias seguidos.

Ao mesmo tempo, outros jovens tiveram de seguir a mesma tarefa, mas com a escrita centrada na fria descrição de objetos e da natureza.

Nos seis meses seguintes, foi constatado que os participantes que relataram suas emoções foram ao médico menos vezes do que o grupo de controle. 

Assim, a pesquisa indica que vivenciar e escrever sentimentos têm efeito terapêutico que reflete na saúde física.

Cada emoção tem uma resolução

O médico explica que cada emoção tem uma resolução. "Se tem raiva, precisa expressar. Se há tristeza, precisa contar sobre ela para outras pessoas. O medo precisa ser protegido ou esclarecido. O afeto precisa ser compartilhado, assim como a alegria", afirma o médico. 

Assim, quanto mais se consegue dominar emoções, baseando-se em sua resolução, menos frequentes e intensos serão os prejuízos físicos.

Já quem é pessimista, isolado, tem dificuldade em dizer não ou guarda tudo para si apresenta chance elevada de ter sua saúde afetada.

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