Amplo estudo inocenta gordura e aponta real vilão da saúde: causa AVC e outros riscos
Imagine que você está na fila de uma lanchonete fast-food para pedir um sanduíche e se questiona: o que faz mais mal? O hambúrguer, o pão, o tomate e a alface (você quer ser isento na avaliação) ou as batatas fritas?
A resposta ficou mais clara a partir de uma pesquisa divulgada no jornal científico The Lancet, que deve mudar as diretrizes nutricionais da área de saúde.
Carboidrato ou gordura: quem é o vilão?
De acordo com o estudo, não é a gordura que representa riscos de morte prematura entre a população mundial e, sim, o carboidrato, principalmente o refinado e processado.
A pesquisa também sugere uma nova visão para a inclusão de frutas, verduras e legumes na dieta: tudo bem que eles fazem um bem danado para a saúde, desde que sejam de três a quatro porções por dia. Acima disso, o consumo não apresentou benefícios aos participantes do experimento.
Desvendando o mistério: no seu pedido de lanche, o maior vilão da saúde seria, infelizmente, o pãozinho, fonte de farinha branca.
“A farinha branca é um ingrediente pobre em nutrientes e de alto índice glicêmico”, explicou a nutricionista Cintya Bassi em entrevista ao VIX.
“O que torna a farinha de trigo maléfica para a saúde é o processo de refinamento, que separa do trigo a casca e o gérmen, mantendo apenas o endosperma do grão que depois é moído. Nesse processo retira-se grande parte das propriedades nutricionais do alimento”.
Quanto menos gordura, mais carboidrato: risco
Os hábitos alimentares das pessoas ao redor do mundo não são iguais. Por isso mesmo, a pesquisa investigou a saúde de 135 mil voluntários de 18 países em cinco continentes para avaliar a relação entre o consumo de gordura e carboidratos e a ocorrência de doenças cardiovasculares e índices de mortalidade.
O estudo sugere que uma dieta que inclui ingestão moderada de gordura (e também de frutas e vegetais), aliada à redução de carboidratos, representa menor risco de morte.
Risco é maior para quem come pouca gordura, diz estudo
Os pesquisadores identificaram que o consumo de uma maior quantidade de gordura (35% da energia da dieta diária) está associado a um risco 23% menor de morte precoce e 18% menor de AVC em comparação às pessoas que comiam menos gordura.
A pesquisa também “limpa a barra” das gorduras alimentares de maneira geral. Foi descoberto que elas não estão associadas a aumento de ocorrência de doenças cardiovasculares e que, sim, o maior consumo de gordura estava associado a menor mortalidade.
Isso foi visto para todos os principais tipos de gorduras (gorduras saturadas, gorduras poli-insaturadas e gorduras mono insaturadas), sendo as gorduras saturadas ligadas a um menor risco de acidente vascular cerebral.
Culpa é da relação "menos gordura, mais carboidrato"
O que acontece, de acordo com os cientistas, é que como as pessoas se aterrorizam com os efeitos da gordura na saúde, passam a seguir uma dieta rica em carboidratos. E são eles que elevaram os riscos de mortalidade observados pelos pesquisadores.
“Uma diminuição na ingestão de gordura automaticamente levou a um aumento no consumo de carboidratos e nossos achados podem explicar por que certas populações, como os sul-asiáticos, que não consomem muita gordura, mas que consomem muitos carboidratos, têm maiores taxas de mortalidade”, destacou a pesquisadora líder Mahshid Dehghan, do Instituto de Pesquisa de Saúde populacional da Universidade canadense McMaster.
De acordo com a publicação, uma dieta rica em carboidratos (mais de 60% da energia diária) está relacionada a uma maior mortalidade (28% a mais frente a uma dieta com baixo teor de carboidratos), embora não esteja diretamente ligada ao risco de doença cardiovascular.
"O estudo mostrou que, ao contrário da crença popular, o aumento do consumo de gorduras alimentares está associado a um menor risco de morte", explicou a pesquisadora.
Consumo de frutas, verduras e legumes
O estudo ainda aponta diretrizes sobre o consumo ideal de frutas, verduras e legumes.
Avaliando o contexto social e econômico de cada país, os pesquisadores reforçaram que o consumo de frutas é “mais fortemente associado a benefícios” do que o de vegetais. E, em países em que a alimentação tem mais oferta de vegetais, é indicado que se coma preferencialmente crus.
As orientações, entretanto, não anulam a importância de nenhum tipo de alimento na dieta dos indivíduos e em seus aspectos particulares de saúde, considerando a inadequação e o excesso nutricionais que cada país enfrenta. Tanto que a recomendação é a “moderação”.
“A moderação na maioria dos aspectos da dieta é preferível, em oposição à ingestão muito baixa ou muito alta dos nutrientes”, ponderou o pesquisador Salim Yusuf.
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