null: nullpx
doação-Tasaudavel

Brasileiro doa sangue raríssimo e salva bebê colombiano: quem pode ter o tipo “falso O”?

Publicado 14 Jul 2017 – 03:57 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
Compartilhar

O tipo sanguíneo raro de um cearense salvou a vida um bebê colombiano de apenas um ano e dois meses. Por incrível que pareça, o jovem não possui os fenótipos comuns, mas sim um gênero tão atípico que foi registrado em apenas 11 famílias do Brasil, de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará.

A seguir, entenda o caso e quando é possível ter sangue raro:

Doação de sangue raro: como ocorreu?

A bebê que recebeu o sangue apresentava um sangramento digestivo grave e anemia, o que tornou a necessidade de transfusão urgente. Após exames, foi constatado que os grupos A, B, AB e O não eram compatíveis, o que levou a uma investigação minuciosa que descobriu a presença do "hh", também denominado fenótipo Bombaim.

O governo colombiano tentou achar um doador no país, mas não teve sucesso. A sorte só veio após um apelo à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que acionou as autoridades brasileiras.

O pedido chegou ao Cadastro Nacional de Sangue Raro - banco de dados criado em 2014 que visa registrar apenas pessoas com fenótipos raros - e identificou o cearense de 23 anos que também tinha o fenótipo Bombaim. 

O jovem doou 370 mililitros de sangue, que só chegaram à Colômbia após dois dias, devido à burocracia necessária para exportação pelo Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Já o transporte foi feito por uma enfermeira do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) em um recipiente lacrado, refrigerado e preparado para evitar impacto ou vazamentos

Por fim, o material foi fragmentado e parte dele foi doado à bebê, já outra foi reservada caso sejam necessárias novas doses.

"Falso O": o que é o raro tipo sanguíneo?

De acordo com o Dr. Alfredo Mendrone Junior, membro do Comitê de Hemoterapia e Terapia Celular da Associação Brasileira de Hematologia, o fenótipo Bombaim também é conhecido como " falso O".

O nome foi dado já que muitas vezes a investigação básica da tipagem sanguínea, não realizada em hemocentros especializados, classifica o sangue hh como tipo O.

Quem pode ter?

"Entre os caucasianos, essa alteração atinge apenas uma a cada 150 mil pessoas, já no sudeste asiático a frequência é maior: 1 a cada 10 mil pessoas", afirma o especialista.

Para saber se você é do tipo falso O, é preciso fazer a tipagem sanguínea em um hemocentro. Quem já recebeu sangue ou doou sangue, indiretamente, acabou tendo essa informação.

No caso da doação, é realizada a tipagem para garantir que o material colhido seja adequadamente passado para outra pessoa. Quem precisou de sangue também tem que passar pelo procedimento e, caso receba sangue que não coincida com o seu mais de uma vez, haverá efeitos colaterais.    

Muito além do ABO: há mais de 50 tipos sanguíneos

Na formação escolar, é compreendido que existem apenas 8 tipos de sangue, que são as as versões negativas e positivas dos fenótipos A, B, AB e O. Entretanto, estes são somente os sistemas de classificação de grupos sanguíneos mais comuns, já que há mais de 50, de acordo com o hematologista Fabio Ribeiro Jansen Ferreira, do Hospital São Luiz Jabaquara.

O que determina o tipo são os antígenos, proteínas que ficam na membrana dos glóbulos vermelhos. "Há diferentes antígenos no organismo, sendo que algumas pessoas podem ter ausência ou excesso de alguns", ressalta o hematologista Alfredo Mendrone. "É justamente essa peculiaridade que define o fenótipo sanguíneo".

Na prática, a diferença sanguínea não causa malefício ou benefício algum para o indivíduo, mas o grande risco é receber uma doação incompatível.

O organismo que recebe sangue errado cria anticorpos contra as hemácias do doador, gerando complicações graves, como problemas renais e febre.

Importância da tipagem sanguínea

Saber qual é seu tipo é essencial para evitar complicações e também ajudar outras pessoas. "Quanto mais indivíduos fizerem o teste de tipagem nos hemocentros, mais serão revelados os fenótipos raros e, ainda por cima, mais pacientes serão amparados", ressalta o médico Fabio Ribeiro

O especialista Alfredo Mendrone ainda completa que a doação é essencial, independente do tipo sanguíneo, já que "qualquer sangue em falta se torna uma raridade para quem precisa de ajuda".

Tipos sanguíneos: leia mais

Compartilhar

Mais conteúdo de interesse