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O que é transtorno borderline? Mais comum em mulheres, ele leva emoções ao limite

Publicado 13 Abr 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 11 Mar 2019 – 06:27 PM EDT
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Também conhecido como transtorno de personalidade limítrofe (TPL), borderline é um distúrbio que afeta principalmente o equilíbrio emocional. O quadro interfere em todas as esferas da vida, desde trabalho até relacionamentos amorosos e familiares, impede o planejamento em longo prazo e ainda pode surgir concomitantemente a outros quadros psiquiátricos como depressão e bipolaridade.

A técnica em administração Luz Martin trata o distúrbio há seis anos e explica que as diferenças com relação a quem não tem uma alteração de personalidade são muitas. "Em mim, as principais característica são o medo de abandono, vazio e falta inexplicável e impossível de ser preenchida", conta.

Apesar de ser menos conhecido do que outras condições do mesmo tipo, como esquizofrenia e transtorno antissocial, o borderline é muito mais comum e atinge ao menos 1,6% da população, sendo 75% mulheres.

O que é transtorno de personalidade borderline?

Segundo a psiquiatra Suzzana Bernardes, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), TPL é um dos tipos de transtorno de personalidade caracterizado pela instabilidade emocional, que muda ao longo do dia muitas vezes sem ter nenhum episódio desencadeante. O distúrbio afeta principalmente as relações pessoais, a autoimagem e a visão dos relacionamentos.

Borderline e personalidade limítrofe são termos que surgiram em referência aos pacientes que vivem na "borda", ou seja, fronteira, entre duas formas de atividade psíquica: a psicose e a neurose.

A primeira é caracterizada pela perda de contato com a realidade, gerando delírios, já a segunda é o desequilíbrio mental que causa instabilidade emocional mas não desconfigura a percepção da realidade.

Causas

Assim como a maioria dos distúrbios psiquiátricos, não se sabe com precisão quais são as causas do TPL, mas entende-se que fatores ambientais e genéticos podem influenciar seu aparecimento.

Há especialistas e estudos que indicam que o distúrbio pode ter origem em episódios de abusos na infância. Já outros acreditam que a predisposição genética também deve ser levada em conta.

Características do transtorno borderline

É preciso lembrar que cada pessoa é única e lida com seus sentimentos de maneira individual. Contudo, os sintomas de transtorno borderline mais conhecidos incluem:

Instabilidade emocional

Angústia, ansiedade, medo e inquietude são sentimentos que surgem em episódios para "borderlines", como costuma se chamar coloquialmente quem possui o transtorno. Além disso, é frequentemente relatada uma sensação intensa de vazio.

Medo de abandono

Luz Martin explica que o medo de solidão é um de seus sentimentos mais marcantes: “Eu estou constantemente com a convicção de que minha família, amigos, colegas, todos vão me deixar, não por que vão morrer, mas porque eu não os mereço. É como se isso fosse me fazer ficar sem chão", desabafa.

Essas pessoas vivem constantemente com o medo de serem abandonados. Para eles, o abandono real ou ilusório significa que são seres ruins. Por isso, possuem raiva inadequada diante de episódios comuns, como fim de compromissos, atrasos ou cancelamento de encontros por terceiros.

Segundo a psiquiatra Suzzana Bernandes, essa característica faz com que grande parte de seus relacionamentos sejam caóticos, com brigas, discussão, ciúmes etc.

Impulsividade

Podem ocorrer ataques de raiva sem que necessariamente haja algum estímulo externo, visto que o próprio pensamento já é capaz de alterar o humor. Alguns também costumam ser sarcásticos e ficar entediados facilmente.

Em casos menos frequentes, os momentos de nervosismo podem vir acompanhados de alucinações.

Comportamento autodestrutivo e compulsões

Em momentos de muito sofrimento emocional, as pessoas com transtorno borderline podem usar a dor física como uma forma de externalizar e aliviar o que sentem, podendo apresentar acesso de raiva e automutilação. Amigos e familiares devem ficar atentos a essa forma de manifestação da doença, já que pode ser uma maneira dessas pessoas mostrarem que estão precisando de ajuda.

Outra possibilidade é se envolver em situações potencialmente perigosas, como fazer sexo desprotegido e realizar infrações no trânsito. Ainda costumam se autossabotar, regredindo após receberem elogios ou incentivos por exemplo.

Por último, possuem tendência a compulsões, como vício em drogas, consumismo, sexo, jogos e comida.

Desenvolvimento de outros transtornos

Grande parte das pessoas com transtorno de personalidade borderline podem desenvolver outras condições ao mesmo tempo. Entram nessa lista depressão, ansiedade, bipolaridade, distúrbios alimentares e causados pelo abuso de substâncias, estresse pós-traumático, entre outros.

Relacionamentos conturbados

“Depois que comecei o tratamento percebi que sou border desde os 13 anos, principalmente por me apaixonar e apegar muito rápido as pessoas”. O depoimento da estudante Mariane Da Cruz ressalta uma das características mais marcantes da personalidade borderline. A idealização de companheiros e amigos faz com que compartilhem histórias íntimas e segredos com pessoas logo após conhecê-las.

Contudo, sinais mínimos de que o conhecido não está disponível para ouvir ou conversar, como atraso em um compromisso ou demora em responder uma mensagem, pode ser o gatilho que desperta sentimentos negativos para os portadores desse distúrbio, como ciúmes, raiva, culpa e desvalorização do relacionamento.

“Por isso, tenho dificuldade em fazer novas amizades e manter as antigas. Todos os meus namoros acabaram se tornando abusivos. Também há o fato de que é difícil fazer com que as pessoas entendam como penso”, exemplifica Mariane.

Percepção instável de si mesmo

A instabilidade também é marcante na autoimagem, fazendo com que variem constantemente entre atitudes de vingança e vitimização.

Suicídio e Transtorno Borderline

Pessoas com borderline têm mais risco de cometer suicídio. Isso se deve à sensação de vazio e solidão, principalmente quando há depressão envolvida. Algumas vezes, a descoberta do quadro ocorre justamente após uma tentativa de acabar com a própria vida.

Foi o caso da técnica em administração Luz Martin: “Descobri que era border quando fui internada pela primeira vez. Antes eu havia brigado com meu pai e saí de casa para morar com uma amiga. Lá, na casa dela, tive um ‘surto’, ou seja me senti muito sozinha, vazia e sem controle da vida. Então, tomei uma grande quantidade de remédios”, conta. Felizmente, a mãe da amiga de Luz a socorreu a tempo. “No outro dia, me levaram para um hospital psiquiátrico e foi nele que fui diagnosticada”, explica.

No entanto, a simples observação dos sinais de comportamento suicida, como consumo de substâncias e mudanças anormais no comportamento, e a busca por um especialista pode evitar com que o paciente chegue a este limite.

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico e segue os critérios do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, que elenca os seguintes pontos de avaliação:

  • Dedicação intensa em evitar o abandono;
  • Presença de relacionamentos instáveis;
  • Mudanças frequentes de autoimagem;
  • Impulsividade e comportamento autodestrutivo em ao menos duas áreas,
  • Indícios suicidas ou de automutilação;
  • Flutuações de humor;
  • Sentimento de vazio;
  • Raiva demasiada;
  • Sintomas de psicose ou dissociação em momentos de estresse.

De acordo com a psiquiatra Suzzana Bernardes, as características surgem no início da vida adulta e a confirmação do diagnóstico só é feita após os 18 anos, pois antes disso ele pode ser confundido com outros quadros de instabilidade resultantes de oscilações hormonais da adolescência. Algumas vezes, é preciso realizar testes de laboratório para eliminar a possibilidade de doenças que tenham sintomas semelhantes às psiquiátricas, como problemas de tireoide.

Transtorno borderline tem cura?

A psiquiatra Suzzana Bernardes explica que não há como curar borderline, pois o distúrbio persiste até o fim da vida.

Contudo, o DSM-5 ressalta que o nível de prejuízo social e a chance de suicídio caem conforme a idade avança, principalmente se forem aplicadas abordagens terapêuticas. Com isso, entre a terceira e a quinta década de vida já é possível ter uma vida afetiva e profissional mais estabilizada.

Tratamento

Apesar de a condição acarretar em muito sofrimento, alguns tratamentos melhoram muito a qualidade de vida do paciente. A estudante Mariane da Cruz conta que sentiu uma melhora de aproximadamente 70% em todos os aspectos da vida após começar a fazer psicoterapia e tomar medicação. "Faço o tratamento há uns 2 anos e ele me ajuda a não ter os pensamentos intrusivos [aqueles que não dá para 'tirar da cabeça'] e não me automutilar. Além disso, faz com que eu diminua um pouco meus sentimentos, que são mais intensos do que na maioria das pessoas", conta.

Veja a seguir quais são as terapias indicadas:

Medicação

Não existem medicações específicas para o transtorno, todavia algumas drogas podem controlar determinadas características. Por exemplo, é possível usar anticompulsivos para irritabilidade, estabilizadores de humor para instabilidade e antidepressivos para casos em que também haja depressão.

Terapia

A psicoterapia individual e/ou em grupo é importantíssima para aprender a controlar sentimentos de abandono e impulsividade.

Esse tratamento reduz o sofrimento do indivíduo com personalidade borderline e faz com que ele deixe de perder laços afetivos e conquistas, como empregos.

O terapeuta deve estar especialmente focado em casos de transtorno de personalidade limítrofe, visto que a instabilidade desses pacientes pode fazer com que surjam consultas e ligações de emergência. Assim, indica-se buscar um profissional disponível e, de preferência, com experiência em lidar com o distúrbio.

Internação

Em casos em que haja comportamento de risco para integridade física, pode ser necessária internação, visto que a proteção nem sempre é possível no ambiente domiciliar. Além disso, uma ala voltada a pacientes psiquiátricos disponibiliza atendimento em período integral com psicólogos, psiquiatras e outros especialistas, fornecendo o suporte necessário para o border.

Como lidar com Borderline?

As emoções extremas dos indivíduos com transtorno borderline podem ser muito difíceis de lidar por parte de familiares, companheiros e amigos. É necessário paciência e sensibilidade para apoiar e compreender esses indivíduos.

Conversar e tentar não ignorar o indivíduo pode ser de grande ajuda, assim como incentivá-lo a se ocupar com atividades para seu próprio prazer.

Durante ataques de fúria pode haver uso de linguagem pejorativa, o que requer compreensão da família, visto que muitas vezes a pessoa com personalidade limítrofe não consegue controlar seus impulsos.

Fique atento a qualquer sinal de comportamento destrutivo e procure ajuda de um profissional sempre que os notar.

Outra sugestão importante é que pessoas que convivem diretamente com quem tem o transtorno borderline façam acompanhamento psicológico também. Assim eles conseguirão o suporte necessário para lidar com todos os aspectos do convívio sem se sobrecarregar psicologicamente.

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