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Como a bariátrica muda a saúde: explicamos risco de morte, vício e outras complicações

Publicado 22 Mar 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Há quem acredite que é fácil emagrecer após a cirurgia de redução de peso, mas isso está longe de ser verdade. Apesar de ser um método eficiente e consideravelmente rápido para perder peso, o procedimento está relacionado a diversos riscos, tanto físicos como psicológicos. Mas será que eles sempre ocorrem? Descubra a seguir quais são as consequências da cirurgia bariátrica.

Risco de morte após cirurgia bariátrica

De acordo com a endocrinologista Maria Fernanda Barca, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Sociedade Europeia de Endocrinologia (SEE), as cirurgias abertas, em que eram realizadas grandes incisões, tinham 50% de risco de morte. "Surgiam complicações devido aos músculos fracos e à grande camada de gordura que faziam com que os pontos se abrissem, criando infecções graves", explica.

Justamente devido às complicações do método aberto, atualmente o tipo cirúrgico mais utilizado para bariátrica é a laparoscopia, procedimento em vídeo feito por meio de alguns furos no abdômen. De acordo com a doutora, nestes casos o índice de morte cai para 1,5%, podendo sofrer variações de acordo com idade, peso inicial e acompanhamento posterior com o cirurgião. 

Há diferentes tipos de bariátrica, mas a médica não classifica nenhum como mais ou menos seguros.

Confira abaixo quais são os efeitos colaterais da cirurgia bariátrica por laparoscopia :

Riscos da cirurgia bariátrica

Embolia pulmonar

Em janeiro de 2017, a carioca 19 anos Amanda Rodrigues morreu 11 dias após realizar a cirurgia, como divulgou o site de notícias G1. O laudo atestou embolia pulmonar, problema caracterizado pela obstrução das artérias do pulmão por um pedaço de tecido gorduroso que se desprendeu em consequência da manipulação cirúrgica. O quadro impede a irrigação do órgão, trazendo sequelas respiratórias e morte.

Em casos de trombose causada por êmbolo de gordura, drogas, como anticoagulantes, não funcionam para amenizar o quadro. O tratamento envolve dar suporte ao paciente e aguardar a evolução natural do quadro. 

Obstrução intestinal

O impedimento total ou parcial da passagem de alimentos para o intestino é outro possível risco da cirurgia para redução de peso. O acometimento ocorre pela criação de aderências ou tecidos fibrosos após a manipulação cirúrgica e, se não for tratado, pode levar à necrose do órgão.

De acordo com a endocrinologista Maria Fernanda Barca, suturas mal feitas e técnicas cirúrgicas incorretas propiciam o quadro.

Sangramentos digestivos

Alguns tipos de cirurgias bariátricas manipulam não só o estômago como também o intestino. É o caso do bypass gástrico e da cirurgia com derivação biliopancreática, que fazem um desvio no intestino do paciente. As complicações referentes a esse aspecto incluem hemorragias digestivas.

De acordo com a especialista Maria Fernanda Barca, este problema também deriva da má técnica cirúrgica. 

Vazamento de costuras

A condição ocorre quando os grampos empregados na cirurgia de estômago se rompem, causando o vazamento de material digestivo, como bile, fezes e suco gástrico, para o abdômen.

Esse quadro é chamado de fístula e ocorre principalmente pela falta de experiência de médicos na técnica cirúrgica. Como consequência, podem acontecer infecções graves e generalizadas.

Trombose

Em março de 2017, o ex-participante de reality de emagrecimento Pepê morreu após cirurgia bariátrica. Os médicos suspeitaram de trombose, que é a formação coágulos nos vasos de alguma parte do corpo, principalmente nas pernas.

De acordo com a endocrinologista, a trombose venosa é um risco de diversas cirurgias, não apenas da de redução de peso, visto que a manipulação médica afeta o sistema circulatório. Contudo, sua incidência é ainda maior na bariátrica devido ao elevado peso do paciente, que compromete ainda mais circulação.

A alternativa para evitar o risco de morte da cirurgia bariátrica por trombose envolve o uso de anticoagulantes, meias compressoras e massageadores no pós-operatório. Fazer caminhadas também reduz a chance de desenvolver a doença, que é manifestada principalmente por dores nas pernas e edemas.

Complicações tardias da cirurgia bariátrica

Falta de absorção de nutrientes 

Imagine que uma pessoa que estava acostumada a comer de tudo e em grande quantidade, agora reduza sua capacidade alimentar e insira comidas líquidas ou pastosas por alguns meses. O resultado é a deficiência de nutrientes. Ela prejudica o andamento normal do organismo, causa cansaço, falta de energia e doenças como anemia.

Essa carência pode ser evitada por meio da suplementação nutricional oral ou injetável, que é recomendada pelo próprio cirurgião bariátrico ou por um nutricionista. 

Vícios

Grande parte das pessoas que passam pela cirurgia bariátrica era obesa por causa de uma  compulsão alimentar, um estado mental em que não há controle do impulso de comer, mesmo quando não há fome. Todavia, a dieta líquida e pastosa imposta no pós-operatório da cirurgia bariátrica pode fazer com que o paciente desenvolva outra forma de compulsão para substituir a antiga, como alcoolismo e uso de drogas.

Assim, o ideal é passar por acompanhamento psicológico e psiquiátrico antes e depois do procedimento. A reeducação alimentar e a adoção de hábitos saudáveis também ajudam.

Osteoporose

Um estudo sobre cirurgia bariátrica e osteoporose publicado no British Medical Journal revela que pacientes submetidos à cirurgia bariátrica têm mais chance de fraturar ossos em decorrência do surgimento da osteoporose após a cirurgia. 

Isso se deve a deficiência nutricional de elementos que são essenciais para os ossos, como cálcio e vitamina D. Para evitar tal risco, é necessário realizar exames médicos antes do procedimento, como a densitometria óssea, rever o histórico familiar de doença e incorporar a suplementação nutricional na dieta pós-operatória.

Depressão, ansiedade e mais

Além do emagrecimento súbito, a mudança de dieta, hábitos e visibilidade social pode ser um tanto complicada para pacientes da cirurgia metabólica. Muitas vezes, eles acreditam que grande parte de seus problemas se resolverão após a redução de peso, o que não é verdade. Como resultado dessa frustração, surgem  consequências psicológicas após cirurgia bariátrica, como depressão e transtorno de ansiedade.

A endocrinologista Maria Fernanda Barca ressalta que nesses quadros é imprescindível realizar tratamento psicológico e aliá-lo a medicamentos para controlar a compulsão

Indicações e contraindicações da cirurgia bariátrica 

Quem pode fazer? 

De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), as cirurgias bariátricas são indicadas para indivíduos com o cálculo do IMC entre 35 e 40 kg/m².

Ainda de acordo com CFM, pacientes com as seguintes comorbidades têm indicação ainda mais precisa para realizar o procedimento, visto que podem ser fruto do excesso de peso: diabetes tipo 2, apneia, pressão alta, problemas cardíacos ou coronários, doenças osteo-articulares, hérnias, quadros graves de asma, refluxo, presença de níveis elevados de gorduras no sangue, inflamação da vesícula biliar, inflamação do pâncreas de repetição, fígado gorduroso, veias varicosas, síndrome dos ovários policísticos, hemorroidas, depressão, entre outros.

"Eu indico principalmente quando o paciente é resistente ou pouco aderente aos medicamentos para emagrecer e quando há risco de morte pela obesidade", explica a endocrinologista Maria Fernanda.

A endocrinologista Maria Fernanda ressalta que o grau de obesidade também deve ser posto em cheque. "Quanto maior ele é, maiores são os riscos. A médica também afirma que deve haver cautela quanto à realização do procedimento em pessoas com placas de aterosclerose e problemas circulatórios. "Nestes casos, há de fazer o tratamento prévio com medicamentos que ajudam a diminuir risco vascular", defende.

Pós-operatório da cirurgia bariátrica

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