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Marilena descobriu o câncer após seguir o conselho da mãe e encontrou novo amor

Publicado 22 Out 2021 – 04:15 PM EDT | Atualizado 22 Out 2021 – 04:15 PM EDT
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Marilena Ramos sempre reconheceu a importância do autocuidado, enquanto exercia a profissão de auxiliar de enfermagem, prezando pela saúde de outras pessoas. Constantemente, a baiana apalpava os próprios seios, checando qualquer anormalidade, por isso não tardou procurar ajuda médica, quando desconfiou de um carocinho.

O diagnóstico de câncer de mama foi desanimador, mas escorada em sua fé e tendo recebido amparo de familiares e amigos, ela explica de onde veio a força para, hoje, contar sua história e ajudar mulheres que passam pelo mesmo.

Caroço no seio

No final de 2017, Marilena palpou o que parecia ser um caroço bem pequeno no seio esquerdo. Pelo tamanho, ela achou que não deveria ser algo grave, afinal seus exames de rotina, realizados a cada seis meses, estavam em dia.

Mesmo encarando com mais dúvida do que preocupação, em janeiro do ano seguinte, ela procurou uma clínica particular de uma rede bastante conhecida em Salvador, na Bahia, para realizar uma ultrassonografia mamária. O local, no entanto, errou desde o atendimento à paciente até o diagnóstico.

“Eu fui diagnosticada errado. Entenderam que eu tinha um linfonodo na mama e, a médica, uma ginecologista, disse que eu deveria aguardar seis meses para ver se ele diminuiria”, conta ela.

Trabalhadora da saúde e desconfiada, Marilena não se deu por vencida e ouviu o conselho de Dona Filó, sua mãe, para procurar outro especialista. Ela se encaminhou, então, até a clínica privada Imagem Médica da região.

Diagnóstico de câncer de mama

Desta vez, o diagnóstico foi certeiro e dado pela ginecologista que conhecia Marilena desde a adolescência: tratava-se de um tumor de 1,5 centímetros, em grau 3, agressivo, localmente avançado e já comprometendo a axila. Um problema para acessar o site da clínica impediu que Marilena visse o resultado em primeira mão. Foi seu irmão e grande amigo, Mário, de 38 anos, quem descobriu antes.

“Quando recebi o diagnóstico do meu irmão por WhatsApp, eu estava de plantão no trabalho, em abril. Li a nomenclatura 'carcinoma ductal invasivo' e entendi que era um tipo de câncer. Pensei em duas coisas no momento: eu deixaria aquele diagnóstico me impactar e desandar o tratamento ou eu simplesmente ressignificaria minha história com ele. Preferi a segunda opção. Percebi que aquilo teria um propósito em minha vida. Não é fácil, mas Deus já estava me preparando, pois eu trabalhava com crianças e adultos que tinham câncer, incluindo pacientes terminais. Já soube um pouco o que iria me acontecer e como eu poderia lidar com aquilo. Meu atendimento depois foi 100% pelo SUS, no Hospital da Mulher e no Cican (Centro Estadual de Oncologia), onde fui muito bem assistida por uma equipe, inclusive um oncologista e uma mastologista".

O protocolo de tratamento iniciou-se em maio de 2018 e orientou que Marilena fosse afastada da sua área de trabalho, já que ela não poderia fazer força como antes e a sua imunidade também diminuiria. Sendo assim, ela passou a receber um auxílio-doença do governo, equivalente a um salário mínimo e meio.

"Não vi o diagnóstico como sentença de morte em momento algum, pela minha fé em Deus. Tive essa certeza. Não que eu estivesse mascarando a verdade, até por que não é fácil, mas eu tentava levar tudo de forma mais leve, para cuidar da minha parte psicológica. Acho que ela pode matar mais do que a própria doença".

De fato, o processo incluiu acompanhamento por um psicólogo, sendo este mais um alicerce para Marilena. Nas sessões de terapia com o profissional, eles evitavam mencionar o câncer em si. "Falávamos sobre o meu dia a dia, como estava a minha rede de apoio, quais eram os meus planos para o fim de semana seguinte e até indicações de livros. O intuito era fazer minha mente trabalhar, pensar na cura e não focar na doença", recorda a baiana.

Tratamento com quimioterapia e cirurgia

Para destruir as células cancerígenas, a quimioterapia começou com quatro sessões do tipo vermelha, uma em cada intervalo de 21 dias. Cerca de duas semanas após a primeira sessão, Marilena decidiu raspar o cabelo, que já estava caindo, e contou com a ajuda de uma amiga.

Para descontrair, elas ouviram a música "Love By Grace", de Lara Fabian, que tocava na famosa cena em que Carolina Dieckmann raspava os cabelos na novela "Laços de Família".

"Eu usava lenço, turbante, peruca ou saía careca mesmo, dependia do meu humor. Mas eu percebia o preconceito pelo olhar de pessoas desconhecidas me vendo sem cabelo. Eu me incomodava mesmo com a falta das minhas sobrancelhas. Minha prima até me ensinou alguns truques de beleza. Eu me maquiava para não me ver doente. Isso impactou muito em minha autoestima".

Marilena precisou controlar o consumo de doces durante o tratamento e recorda deste momento como uma das dificuldades. "Eu também não podia sair muito de casa, já que estava com a imunidade baixa, mas fui surpreendida certa vez com minha prima, Cora, me trazendo uma torta de chocolate. Eu parecia uma criança feliz comendo doce", sorri enquanto recorda.

O período foi marcado por tensão e esperança ao mesmo tempo e a rede de apoio potente ajudou Marilena a definir quais relações eram verdadeiras. "Pessoas que se diziam minhas amigas, simplesmente se afastaram, enquanto outras, não tão próximas, ficaram por perto", aponta. Mas o que ela não esperava era deparar-se com um novo amor.

"Comecei a namorar com o Flávio na metade do tratamento. Eu já não tinha cabelos e cílios, estava com as unhas pretas e com o corpo super inchado, pouco antes da quimioterapia do tipo branca. Eu o conheci no meu antigo trabalho. Éramos amigos. Mas, quando eu já estava afastada pela doença, em junho de 2018, ele me mandou uma mensagem e nos aproximamos. No mês seguinte, ele me pediu em namoro. Disse que ficaria comigo até o fim e que o fim não iria existir. Ele diz que me via, na época, igual como me vê hoje".

O relacionamento já estava firme e forte quando Marilena deu início às 12 sessões brancas de quimioterapia e uso de outro medicamento, que a deixariam pronta para a cirurgia. No seu caso, foi preciso remover um quadrante do seio, além dos 16 linfonodos que estavam comprometidos.

"A minha cirurgia pode ser chamada de 'conservadora'. Foi retirada apenas uma parte da mama, já que na quimioterapia o tumor sumiu, de tão forte que ela foi. Tive uma boa resposta ao tratamento".

Flávio virou noivo e continuou sendo um grande suporte no pós-operatório, permanecendo muitos dias na casa de Marilena para ajudá-la no banho, a se alimentar e em qualquer outra atividade cotidiana.

Radioterapia

Veio a etapa de radioterapia, que dividiu-se em 25 sessões do pescoço até a mama, por conta do comprometimento na axila, e outras cinco concentradas no seio esquerdo, finalizando em julho de 2019. Um estreitamento do esôfago e leves queimaduras foram as reações que seu corpo teve pela radioterapia.

Dona Filó, com quem Marilena mora até hoje, precisou ser confortada várias vezes. Se para a filha não faltaram forças, a mãe sentia o impacto tão intensamente, que chegou a desejar que o câncer fosse em si mesma em vez de ter acometido a filha.

"Um dia encontrei minha mãe chorando na sala de casa. Eu disse a ela que acreditava que deveríamos passar por isso com fé, que era apenas uma fase para minha evolução e que eu tinha certeza que ia me curar".

Hoje, aos 40, Marilena toma um remédio chamado Tamoxifeno, uma vez ao dia, e seguirá com ele por mais três anos. Ela tem consciência, embora tenha tido uma resposta completa ao tratamento, que o câncer pode voltar no prazo de cinco a dez anos, no mesmo local ou não.

Mas ela não se abala: "Caso aconteça, já falei para minha família que vamos seguir fortes, como foi da primeira vez", diz.

Carreira como influenciadora

A mesma rede de apoio que nunca deixou Marilena sentir-se para baixo também a incentivou espalhar sua história pela internet. Em outubro de 2020, pouco mais de um ano após concluir a fase de radioterapia, ela criou o perfil no Instagram que alimenta atualmente com lives, palestras e postagens sobre o câncer de mama, chamado "@umtoquenamama".

Por meio dele, a baiana já entrou em contato com mulheres de estados e até países diferentes, todas conectadas pelo mesmo propósito de consumir e divulgar informações, e trocar experiências pessoais, especialmente fora do Outubro Rosa. "A prevenção deve ser lembrada durante o ano inteiro", afirma.

Ao lembrar-se de quem era antes de encontrar o tal caroço no seio, há quatro anos, ela vê muitas diferenças comparando com sua versão atual.

"O câncer me ensinou a dar valor às coisas simples. Antigamente, eu vivia de forma aleatória, irresponsável, perdia noites e comia mal. Hoje vivo diferente, inclusive em relação à minha alimentação. Eu aprendi a olhar mais para mim".

Ela, que possui apenas uma discreta cicatriz na mama esquerda, segue defendendo a importância de apalpá-las regularmente e não deixar de fazer os exames de rotina. "Há quem diga: 'Quem procura, acha coisa ruim'. Não! Quem procura, cura", conclui.

Prevenção do câncer de mama

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