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Ela virou modelo aos 49 anos após retirar o seio: "Câncer não é sentença de morte"

Publicado 21 Out 2021 – 04:12 PM EDT | Atualizado 21 Out 2021 – 05:12 PM EDT
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Mônica Alcântara é educadora física e sempre esteve atenta aos exames de rotina e à manutenção de uma vida saudável, mas, no auge dos seus 46 anos de idade, deparou-se com o câncer de mama. Silenciosamente, os tumores cresceram em seu seio esquerdo e ela só descobriu porque uma dor angustiante a alertou.

Durante um extenso tratamento para se curar, a carioca não só ressignificou suas relações pessoais, uma vez que existe ainda muito preconceito em torno do câncer, mas também deu um novo sentido à própria vida e até sua forma de trabalhar. Conheça abaixo a história dela:

Dor latejante no seio

O Réveillon de 2019 foi bem diferente para Mônica. Ela o celebrou, mas havia uma certa preocupação em sua cabeça que preferiu não dividir com mais ninguém naquele momento.

Semanas antes, após sentir uma dor latejante no seio esquerdo durante uma aula de jiu-jitsu, ela foi ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, conhecido como “Hospital do Fundão”, na Zona Norte do Rio de Janeiro, para realizar uma mamografia e ultrassonografia. Segundo a orientação de uma amiga da área da saúde, aquele seria o local mais adequado para investigar o que havia na mama de Mônica.

Ela, mãe de três filhos, acredita firmemente em Deus. Na tensão pelos resultados dos exames, recordou-se de quando rezou durante as comemorações da Virada, pedindo que sua vida fosse radicalmente mudada no ano que estava por vir, pois achava que sua rotina estava muito acelerada e estressante.

Diagnóstico de câncer de mama

Já no início de janeiro, Mônica não adiou o retorno ao hospital e, sendo recebida pelo diretor-geral da unidade, ouviu: “Seria melhor se tivesse vindo alguém com você, pois o que temos a dizer é sério”. O clichê de ver a vida passar como um filme de 30 segundos na cabeça fez sentido para Mônica, quando ela soube que estava com dois nódulos cancerígenos no seio esquerdo, em grau 4.

Apesar disso, ela foi inundada na mesma hora por uma grande certeza e a dividiu com o especialista: "Eu sei que não vou morrer. Então, só me diz como vai ser o tratamento".

Mesmo coberta pela Lei Federal nº 12.732/12 (em vigor desde 2013), onde a paciente deve começar o tratamento pelo SUS em até 60 dias após o diagnóstico, o hospital não a chamou de volta até o mês de abril, três meses depois. Aflita e sentindo constantes dores no seio, Mônica questionou a instituição, que afirmou não contar com os especialistas que o quadro dela exigia.

Com seu prontuário em mãos, ela encaminhou-se, então, para o local mais importante da sua trajetória desde o diagnóstico: o Hospital do Câncer III, o INCA, uma das unidades de alta complexidade também do SUS, onde refez os exames. Ele até ficava próximo da sua casa, já que mora no bairro Engenho de Dentro. A mastologista que a atendeu, infelizmente, não trouxe boas notícias.

“Ela disse que teria que tirar meu seio todo, pois não dava mais tempo. Se fosse antes, não teria sido necessário. Mas, um dos tumores, de 1,60 centímetros, passou para 5,80 centímetros e estava bem próximo à auréola. Meu seio estava já ficando com um aspecto de casca de laranja. Fiquei muito chateada, mas percebi que eu já deveria começar a me ver sem ele".

Retirada da mama

Aquele 5 de julho, dia em que faria a mastectomia para retirar o seio inteiro, não tardou a chegar. Além da mama, foram extraídos 14 linfonodos no braço esquerdo, pois as células cancerígenas já estavam também se espalhando por ali.

Sem seus óculos de grau, a personal trainer não conseguiu identificar quem falou com ela na sala do procedimento: "Mônica, eu estou aqui". Um dos doutores responsáveis pela cirurgia, um mastologista, entrou e afirmou que ninguém havia estado ali momentos antes. Mulher de fé, ela acredita ter escutado Deus.

Mesmo com todo preparo e leituras sobre outras mulheres com câncer de mama, foi com medo que Mônica encarou o espelho ao chegar em casa, após a operação. "Essa é minha nova versão. Aceita que dói menos, pensei quando me vi. Não adiantaria eu chorar. Resolvi me preparar logo para a próxima etapa, que é a quimio, e eu ficaria sem cabelo". O corte estilo "Joãozinho" veio em seguida, para ajudar no processo de autoaceitação.

Tratamento com quimioterapia e radioterapia

Alguns amigos se afastaram de Mônica, enquanto outros se aproximaram ainda mais depois da operação. Os filhos, duas adolescentes gêmeas e um rapaz, a apoiaram e acreditaram na certeza que ela carregava em si. "Sempre me alimentei bem e fiz atividades físicas, soube que ajudaria. Disse a eles que eu não ia morrer", lembra. Entretanto, para ser poupada de preocupações, sua própria mãe não soube da verdade por completo.

“Falei a ela que tirei um nódulo, mentindo que não era câncer, mas que mesmo assim precisaria de quimioterapia, por isso meu cabelo estava caindo. A preocupação dela era que o meu companheiro da época me deixasse, se eu tirasse o seio. Ela não sabia que eu já havia retirado".

Neste período, já afastada do trabalho, Mônica recebia um auxílio-doença do governo, benefício que é um direito de qualquer portador de câncer que comprove o diagnóstico. Ela também passou a usar mais o seu perfil no Instagram para transmitir informações que descobria sobre o assunto para outras mulheres na mesma situação.

Quando deu início às oito sessões de quimioterapia que estariam por vir, em intervalos de 21 dias, uma outra reviravolta abalou a vida de Mônica: ela perdeu um sobrinho muito próximo por uma doença respiratória.

"Senti muita dor em todas as sessões de quimioterapia, uma das piores que tive na vida. Fiz quatro do tipo vermelha, onde a dor era na veia. Era uma sensação de ardência. Você percebe que sua vida é um sopro, pois precisa daquele líquido entrando no seu corpo para se curar. É como se você tomasse chicotadas e precisasse. E, quatro da branca, que me geraram as dores na lombar e pernas que tenho até hoje".

Os efeitos colaterais da quimioterapia, comuns a quem trata o câncer de mama, tomaram forma de prisão de ventre, muitas aftas na boca, vômitos e enjoos, sendo que Mônica até precisou ficar internada em determinado momento. “Mas preferi. Estava muito calor no Rio de Janeiro e lá tinha ar-condicionado!”, brinca.

Em meio ao luto pelo ente querido, ela via seus fios caindo cada vez mais, além de sentir muita dor no couro cabeludo, ao ponto de nem poder pentear. Ela tornou-se calva rapidamente e, então, raspou tudo.

"Tentei usar peruca, mas me achei ridícula. Eu nem disfarçava a careca. Usava lenço, boné ou boina para me proteger do sol ou frio, mas tirava em lugares cobertos. Eu me amei, me achei linda. Arrasei no Carnaval".

Dias antes do início da quarentena no estado, motivada pela pandemia de covid-19, Mônica realizou sua última sessão de quimioterapia, no dia 13 de março de 2020. Sua mãe, infelizmente, morreu ao contrair o coronavírus e foi outra grande dor que a educadora física enfrentou. "Eu me vi sem mãe, que era minha base, sem trabalho e recém-solteira. Mas resolvi seguir em frente, mesmo com muita tristeza. Tenho personalidade e o câncer me deixou mais forte", afirma.

Durante o isolamento social, Mônica também começou a fazer radioterapia, a terceira fase do tratamento: foram 15 sessões em três semanas, de segunda à sexta-feira.

Atualmente, ela ainda toma um remédio chamado "Tamoxifeno", uma vez ao dia, e seguirá com ele por mais nove anos. Os efeitos colaterais sentidos por ela são insônia, oscilação de humor e diminuição da libido.

Carreira como modelo e influenciadora

“Muitas pessoas me julgavam, inclusive meu ex-companheiro, e me censuravam, mas acreditei em meu propósito", recorda ela sobre o quanto dedicou-se a produzir conteúdo no Instagram, onde ganhava mais visibilidade a cada dia, após a retirada da mama. Hoje, com 49 anos de idade, já são quase 4 mil pessoas seguindo Mônica, que voltou a atuar como professora de hidroginástica.

O primeiro convite para estrear como modelo veio de uma marca de calcinhas absorventes, através da rede social, em agosto de 2020. Pouco mais de um ano depois, a Hope, referência em lingerie, reuniu mastectomizadas para promoverem um modelo de sutiã especial, que trará mais conforto às mulheres nesta condição, incluindo Mônica, que aceitou o trabalho.

Nas fotos da campanha, ela aparece sem a reconstrução da mama, que não fez por opção. “Quem me quiser, vai querer desse jeito, então vai ser muito bem escolhido", diz ela, exalando autoconfiança.

O Outubro Rosa, mês da prevenção mundial do câncer de mama, reforça também a importância do autocuidado feminino, de acordo com a carioca. "Lembramos que câncer não é sentença de morte. É apenas uma vírgula para o início de uma nova vida", ressalta.

A Mônica daquela Virada do Ano de 2018 para 2019, que estava ávida por mudanças, só não sabia que, na "nova vida" haveria uma versão de si que agora inspira outras mulheres, conscientiza, informa sobre o câncer e sente-se muito mais segura sobre quem é.

Prevenção do câncer de mama

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