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Bruna Linzmeyer dispensa depilação e gera um debate muito maior do que suas fotos

Publicado 7 Jun 2018 – 11:57 AM EDT | Atualizado 7 Jun 2018 – 11:57 AM EDT
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Remover os pelos do corpo se tornou uma prática habitual e, muitas vezes, vista como uma “obrigação” da mulher, associada à higiene e à beleza do corpo feminino, ainda que os homens também os tenham. Entretanto, algumas delas, inclusive celebridades, têm se libertado desta imposição da sociedade dispensando a depilação.

Dentre elas, podemos citar Lourdes Maria, filha da cantora Madonna, e a atriz brasileira Bruna Linzmeyer, sendo que esta última, costuma publicar em suas redes sociais fotos com os pelos à mostra, gerando questionamentos sobre padrões de beleza.

Esta atitude consequentemente levanta um grande debate, principalmente em um país onde a cultura da depilação é muito forte, como no Brasil. Em entrevista ao VIX, Denise Bernuzzi, professora de história da PUC-SP e autora do livro "História da Beleza no Brasil", explicou como e por que a depilação ganhou tanta relevância no mundo todo.

Pelo no corpo humano

Em uma imagem publicada em seu Instagram com a legenda "um pouco bem preciso", a atriz exibe seus pelos na perna. Apesar de muitos seguidores apoiarem a atitude de Bruna, alguns deles também a criticam e julgam, mencionando falta de higiene e semelhança com o corpo masculino.

De acordo com Denise, a idealização do pelo no corpo humano tem origem indígena. “O pelo sempre esteve relacionado à animalidade, então quando as pessoas querem se distanciar do mundo animal, elas se depilam, e isso é muito antigo, vem das tribos indígenas”, diz.

Desde quando as mulheres se depilam?

Ainda segundo a especialista, tudo começou com a depilação das sobrancelhas por volta do século 16 e 17, na Europa, e era uma moda apenas entre a elite urbanizada. Já a depilação nas pernas, virilha e axila é uma atitude mais recente, que foi popularizada com a chegada da moda praia no século 20.

“Após a Segunda Guerra Mundial, quando a praia se torna um lugar de lazer para a massa no geral, é que a depilação começa a aparecer de forma mais obrigatória para as mulheres, primeiramente nas pernas e depois na virilha, por volta dos anos 1970 e 1980”, afirma.

Por que no Brasil há tanto apelo à depilação?

Não é à toa que fora dos país alguns salões de beleza oferecem um tipo de depilação íntima batizada de “brasileira”, que deixa pouquíssimos pelos, ou nenhum, na região da virilha. Por ser um país tropical, viver no Brasil permite maior exposição do corpo e, consequentemente, a depilação, mas para Denise também há questões culturais enraizadas nesta questão.

“A depilação é uma demanda muito forte dos homens brasileiros em relação às mulheres. Também há dados que apontam que os brasileiros, mais que os europeus, por exemplo, associam o pelo à sujeira, e devido a esse imaginário coletivo, as brasileiras acabam se depilando mais”, diz.

Por que a depilação se tornou uma “obrigação”?

A especialista afirma que, o fato da depilação ser vista pela sociedade como um dever para a mulher está associado principalmente à popularização da pornografia, à medida que, com a chegada da internet, ela se tornou mais acessível e explícita.

“Este fator é quase um tabu, ninguém fala dele, mas ele é essencial. Os filmes pornográficos enfatizam muito o sexo oral e assim lançam uma moda de depilação íntima, é quase uma imposição à depilação. Analisando a Revista Playboy no fim dos anos 1980, é possível notar que as mulheres vão ficando com cada vez menos pelos, quase sem nada”, aponta.

A depilação também foi impulsionada pela indústria da estética, pelas vestimentas e pela exposição do corpo, diz Denise.

“Não estamos no século 19, quando as mulheres ficavam vestidas e calçadas o tempo todo. O corpo é muito exposto na academia de ginástica, pelas blusas decotadas, aí depilam a axila, a perna e a virilha, porque põe biquíni, então o estilo de vida que temos hoje, mais ligado à vida ao ar livre e ao esporte, acaba pedindo maior exposição e, consequentemente, a depilação”, afirma.

Depilar ou não depilar?

Para a especialista, não se pode dizer que uma mulher é livre ou submissa apenas por tomar uma decisão em relação aos pelos do corpo. Ainda há muitos preconceitos e julgamentos, mas também uma preocupação excessiva com o corpo.

O corpo virou um elemento que ajuda a definir a identidade das pessoas, como se a aparência dissesse aos outros quem você é.

“Nos dias de hoje, não se depilar tem um significado social muito forte. Antigamente, uma mulher com pelos era apenas uma mulher com pelos e ponto. Já atualmente, uma mulher peluda significa que ela é mais libertária, mais agressiva e muitas outras coisas que as pessoas pensam. A aparência hoje é uma moeda valiosa no mercado”, afirma.

Empoderamento e liberdade feminina

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