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Quem é Sabrina Bittencourt, mulher por trás de denúncias contra João de Deus e outros

Publicado 4 Fev 2019 – 02:38 PM EST | Atualizado 26 Mar 2019 – 03:53 PM EDT
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O nome da ativista Sabrina Bittencourt circula pelas redes sociais após a notícia de sua morte, que ainda é cercada de incertezas e não foi oficialmente confirmada por autoridades brasileiras. Ela, que foi uma das pessoas fundamentais nas denúncias de abuso contra o médium João de Deus e o guru Sri Prem Baba, teria falecido no dia 2 de fevereiro de 2019.

Mas, afinal, quem é essa mulher tão importante e por quê sua possível morte significa tanto, a ponto de gerar comoção no país inteiro?

Quem é Sabrina Bittencourt?

Ativista e empreendedora social há vinte anos, Sabrina liderava uma série de projetos em prol dos direitos humanos e, apesar de residir fora do Brasil, defendia muitas causas no país. Atualmente Sabrina era porta-voz do COAME (Combate ao Abuso no Meio Espiritual), movimento que acolhe vítimas, em sua maioria mulheres, e denuncia abusadores no meio espiritual, geralmente líderes religiosos.

O mecanismo da plataforma virtual basicamente coleta as denúncias das vítimas de abuso, mantendo seus nomes em sigilo, e mobilizando diversos tipos de apoio à causa. A mobilização começou em agosto de 2018, e em apenas um mês de atividades, Sabrina recebeu 103 relatos que, no total, acusavam 13 líderes espirituais abusadores.

História de vida da ativista

Sabrina foi vítima de abuso ainda na infância, entre quatro e oito anos, e em depoimento à revista Marie Claire, em dezembro de 2018, ela afirmou que a violência aconteceu por parte de homens de sua comunidade na época, os mórmons. Na adolescência, aos 15 anos, a ativista também sofreu outros abusos de homens conhecidos e que faziam parte de instituições religiosas. No ano seguinte, aos 16, ela foi estuprada por um desconhecido. Mais tarde, Sabrina encontraria nos projetos sociais uma forma de superar as experiências traumáticas.

“Entrei de cabeça no objetivo de ajudar essas pessoas que, como eu, sofreram abusos dentro de uma instituição religiosa e acredito numa justiça social em que toda a sociedade possa proteger a vida das pessoas, diminuir o poder de pessoas que se utilizam da fé para abusar, expondo-as publicamente de forma responsável […]. Só consigo superar se sirvo as pessoas ou se ajudo a prevenir situações assim. Queremos mostrar que é possível superar os desafios da vida e recomeçar”, dizia na entrevista.

Denúncias contra João de Deus

Nos últimos meses, o nome Sabrina ganhou destaque na mídia graças a sua participação fundamental nas denúncias de abuso sexual contra o médium João de Deus, que atendia na cidade de Abadiânia, em Goiás. Ela também o acusou ao Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) por tráfico internacional de pessoas.

Preso desde 16 de dezembro de 2018 acusado de estupro, estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude, João Teixeira de Faria, o João de Deus, foi acusado de cometer abusos sexuais contra centenas de mulheres, as quais pagavam pelos seus serviços de cura espiritual.

Também indiciado pela Polícia Civil por posse ilegal de arma, as denúncias contra o médium feitas ao Ministério Público somam mais de 500, segundo informação coletada pelo site G1. Em 2 de fevereiro de 2019, seu filho Sandro Teixeira também foi preso, o Ministério Público investiga os de crimes de violação sexual mediante fraude, coação e corrupção ativa.

O caso ganhou enorme repercussão nacional e muitos famosos se posicionaram contra João de Deus nas redes sociais. O médium, antes de surgirem as denúncias, sempre foi muito famoso por se apresentar com um grande poder de cura espiritual , atraindo artistas brasileiros e do exterior ao seu centro de atendimento.

Prem Baba

Apesar do grande destaque dado ao caso João de Deus, tudo indica que Sabrina Bittencourt detinha ainda mais denúncias sobre outros líderes religiosos, como a própria ativista chegou a contar em entrevista à revista Época, em setembro de 2018. Na ocasião, quem estava sob as lentes da investigação era o guru Sri Prem Baba.

Sabrina revelou na reportagem que ouviu o relato de três mulheres que afirmaram ter sofrido abusos do mestre hinduísta, entre eles, violências de natureza sexual, psicológica, coletiva e financeira. "Há todo um padrão. São vários passos até chegar a um abuso sexual", explicou.

Morte de Sabrina Bittencourt

A informação da morte surgiu inicialmente de um comunicado oficial do movimento Coame (Combate ao Abuso no Meio Espiritual), que afirmou que Sabrina morreu em sua casa, em Barcelona, na Espanha. Porém, nenhuma autoridade confirma e a morte da ativista permanece cercada por incertezas.

“Com pesar comunicamos que Sabrina Bittencourt, porta-voz, apoiadora voraz do COAME (Combate ao Abuso no Meio Espiritual) faleceu na noite de hoje na cidade de Barcelona, Espanha, onde residia no momento. Pedimos à mídia e aos envolvidos que não contactem a família e respeitem esse momento delicado às pessoas próximas a ela. Sabrina será sempre para nós um exemplo e inspiração em nossas lutas. Que seu legado seja honrado e frutífero ao redor do mundo. O COAME seguirá se estruturando e indo em busca de contatos e apoio nacional e internacional para acolher vítimas e denunciar abusadores no meio espiritual. Recebemos dezenas de mensagens e denúncias nos últimos meses, muito além de nossas expectativas e estamos fazendo o possível para responder a todas em breve e oferecer o encaminhamento adequado”, afirma a nota do COAME.

Em entrevista exclusiva à revista Época, o filho adolescente da ativista, Gabriel Baum, de apenas 16 anos, foi o único familiar a se manifestar até o momento. E o garoto dá outra versão para a história.

Para a publicação, ele afirma que Sabrina morreu no Líbano. No depoimento, ele afirma que ela carregava um sentimento de frustração e que não estava muito bem de saúde, devido ao estresse e visto que sofria com complicações de um linfoma. Segundo o filho da ativista, ela teria deixado ainda “dezenas de cartas para amigos, centenas de vídeos para ele, irmãos e sociedade", que poderão ser publicados em algum momento oportuno.

Desde o anúncio, as redes sociais foram tomadas de manifestações comovidas de personalidades e amigos que admiravam seu trabalho, apesar das informações muito desencontradas.

Ameaças

Em seu Instagram, o youtuber Felipe Neto, que conhecia a ativista social, afirmou que Sabrina Bittencourt vinha alertando que estava sob constantes ameaças, por um "mal guiado por milicianos, políticos no poder nesse momento e líderes religiosos poderosos".

O youtuber ainda afirma que Sabrina se mudava constantemente e que sua família também era intimidada. Ele afirma que a ativista deixou materiais como "pistas, testemunhas e cartas" para que as autoridades possam seguir as investigações.

"Minha dor está imensa. O sentimento de impotência e não ter conseguido salvar sua vida é indescritível. A única coisa que me consola é que Sabrina não morreu de verdade, porque o que ela fez em vida perdurará para sempre. Vá em paz, Sabrina, encontre aquilo que você nunca teve nesta Terra: tranquilidade. Você merece", lamentou o youtuber.

Carta de Sabrina antes da morte

Junto com a notícia da morte de Sabrina, passou a circular a possível publicação de uma carta da ativista em seu Facebook. O post foi deletado e não é possível mais encontrá-lo na rede social de Sabrina, agora dedicada à sua memória.

O site do jornal El País reproduziu trecho da suposta carta, onde Sabrina diria que se une à Marielle Franco (vereadora do PSol e ativista dos Direitos Humanos morta a tiros em 14 de março de 2018).

"Marielle me uno a ti. Somos semente. Que muitas flores nasçam dessa merda toda que o patriarcado criou há 5 mil anos! Eu fiz o que pude, até onde pude. Meu amor será eterno por todos vocês. Perdão por não aguentar, meus filhos", diria no post deletado.

Manifestação de famosos

Muitos famosos se manifestação após circular a notícia da morte de Sabrina.

Entre as publicações, a atriz Suzana Pires lamentou a morte. "Ela resistiu até onde conseguiu diante de todas as violências que sofreu desde a sua infância", escreveu em seu Twitter

Marina Ruy Barbosa foi outra a se manifestar. Em seu Instagram, a atriz global reproduziu a seguinte aspa:

“Eu sempre disse que era só uma pequena fagulha. Nada mais. Só pó de estrelas como todos. Usem a sua própria voz, a sua própria vontade. Tomem as rédeas de suas próprias vidas e abram a boca. Não tenham vergonha, eles é que precisam ter vergonha. Não se desesperem. Dessa vida só levamos o mais bonito e o aprendido”.

E terminou agradecendo o trabalho da ativista. "Obrigada por dar voz e coragem a tantas mulheres, Sabrina".

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