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Aceitar o próprio cabelo fez nascer uma nova Aline Wirley: "Minha potência máxima"

Publicado 1 Jan 2018 – 08:00 AM EST | Atualizado 15 Mar 2018 – 01:08 PM EDT
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Não faz tanto tempo assim que Aline Wirley se tornou um nome familiar para tanta gente. O rosto da cantora é bem conhecido por quem presenciou a onda de sucesso do grupo Rouge. O conjunto feminino, que teve seu auge entre os anos 2002 e 2005, tirou a paulistana - e outras quatro meninas de diferentes Estados brasileiros – do anonimato e a colocou para sempre em evidência no showbiz nacional.

O turbilhão da fama, ainda que repentino, rendeu bons frutos para Aline. Mesmo durante o hiato da banda, ela continuou a investir na carreira musical e se lançou como artista solo. No meio tempo, ela também mudou seu estado civil: se casou com o ator Igor Rickli e virou mamãe do pequeno Antônio.

Entre conquistas pessoais e profissionais, Aline sempre esteve na mira de fãs saudosos que clamavam por uma reunião de seu antigo grupo e, com a popularização das redes sociais, esses pedidos só aumentaram – assim como o número de admiradores que começaram a seguir o dia a dia da cantora virtualmente.

Embora continuasse sutilmente exposta ao público, Aline acabou vendo seu nome em destaque na mídia por conta de um motivo bem pessoal (e um tanto tocante), que nada tinha a ver com sua carreira. Ela, que vinha usando por muitos anos os cabelos cacheados e volumosos, decidiu raspar totalmente a cabeça como forma de passar pela chamada transição capilar.

Transição capilar de Aline Wirley

A experiência foi narrada por Aline em um vídeo publicado em seu canal no YouTube e recebeu mais de 180 mil visualizações em menos de dois meses. Nos comentários, centenas de pessoas elogiaram a atitude da cantora e muitos se emocionaram com a história que vai muito além de uma simples mudança física.

Antes de entender o vídeo em si, é importante lembrar que, desde os tempos de Rouge, Aline e suas colegas de palco já eram vistas como símbolos ou referências de diversidade. Não à toa: o grupo era formado por cinco mulheres intensas, de cores, etnias, corpos e estilos bem diferentes uns dos outros.

Negra e de origem humilde, Aline contou em entrevista ao VIX que sempre foi adepta dos apliques e que os cabelos “artificiais” eram algo comum dentro de sua família, um “hábito de uma vida inteira”. Por isso, o processo não foi nada fácil. Mas ainda assim era muito necessário.

Processo libertador de aceitação

Na gravação, a cantora, já de cabeça raspada, admite entusiasmada: “Eu não tinha esse cabelo, já tive vários cabelos, menos esse cabelo, e olha que esse é meu próprio cabelo!”. De fato, Aline já havia usado as madeixas de muitas maneiras diferentes (dentro e fora do palco), desde alisado e comprido a curtinho arrepiado com mechas vermelhas. Agora, era a primeira vez que ela estava com seus fios originais.

Aline relata que nunca soube como era a textura de seus fios ou até mesmo o formato de sua cabeça e que, quando era pequena, sempre achou o “cabelo da amiguinha” mais bonito que o seu. Foi apenas aos 35 anos que a necessidade de se encontrar consigo mesma surgiu e a decisão de assumir seu verdadeiro cabelo foi tomada. “Isso tudo diz respeito a me amar, a me conhecer, a me respeitar”, afirma emocionada no vídeo.

“Para mim, a transição capilar é muito mais do que uma transição estética. Ela é uma transição interna. E quando você resolve passar por ela significa uma aceitação, não daquilo que você é, mas de que você não se aceitava como você realmente é. É difícil você se olhar e pensar que tudo aquilo que você era ou vivia, não faz sentido, ou até fazia durante um tempo e agora não faz mais. É dolorido”, explica Aline ao VIX.

“A gente está falando de aceitação. Quando você se depara com isso e entende que é preciso fazer essa transição para que você se veja, é um processo de muita coragem. É difícil, mas é libertador. Não quero me privar de usar outros cabelos, perucas e apliques. Não é isso. A questão aqui é: você, antes de qualquer coisa, ter seu empoderamento emocional”, acrescenta.

Por ser um processo de autoconhecimento, Aline lembra que sua transição capilar não foi algo pensado, mas um ato quase instintivo. “Não foi uma coisa que eu estava planejando fazer. Foi muito de uma hora para outra, foi muito natural, muito orgânico”, diz.

No dia em que tirou o aplique, ela teve a ajuda do marido e de três amigos para segurar a barra de se despir de um conceito de beleza de si mesma, que há tanto tempo a acompanhou. Se foi intenso?: “Foi uma catarse! Todo mundo ajudou a tirar e me senti muito amada, protegida. Foi muito lindo. Quando me vi sem o cabelo, foi libertador, mas muito doído”, afirma.

Ajuda do marido Igor Rickli

O marido de Aline, por sinal, foi uma peça fundamental nessa etapa. No vídeo, a cantora recorda que não deixava Igor fazer um cafuné em seus cabelos ou sequer tocar em sua cabeça. Ou seja, a transformação no visual da cantora tem uma proporção muito maior, que diz respeito inclusive ao relacionamento afetivo entre o casal, que está junto há sete anos.

"O tamanho do significado dessa atitude para as pessoas que vivem isso diz respeito a você se permitir ser amada. Imagina, a pessoa que você ama não poder tocar sua cabeça, não poder fazer um carinho, porque você não se dá bem com seu cabelo. Ele está comigo todos os dias, me vê de todos os jeitos. Quando ele me viu de cabeça raspada, não teve dúvida em seu olhar de que ele me ama independente do cabelo que eu tenho. E isso me deu mais força ainda. Ele me ama por aquilo que eu sou, não pelo cabelo que eu tenho, não por aquilo que eu represento”, dispara.

Feminilidade à tona

No vídeo divulgado no YouTube, Aline ainda brinca com o fato de ter sido comparada fisicamente com o ator Ícaro Silva depois que raspou o cabelo, respondendo aos críticos que disseram que ela “estava parecendo um homem e nada feminina”. Muito pelo contrário, a cantora diz que, depois que tirou o megahair, nunca se sentiu tão linda.

A transição capilar da artista, aliás, mexeu diretamente com sua feminilidade e esse entendimento veio também graças às experiências que viveu (e vem vivendo) na maternidade.

“Desde que eu engravidei e o Antônio nasceu, eu naturalmente passei por uma transformação interna que é muito instintiva na mulher. Você vai acessando sua feminilidade de outras maneiras. O fato de eu ter um filho agora me colocou em outro lugar de compreensão do feminino e isso tem ajudado muito no meu processo estético, porque a maternidade faz com que você se descubra em outros lugares”, diz.

“São muitas coisas internas que vão acontecendo e que foram me ajudando a me olhar no espelho hoje e pensar: que mulher incrível que você é! Que mulher bonita você é! E isso é todo dia. Eu me olho no espelho e faço questão de me dizer isso, porque tem milhões de coisas que acontecem diariamente que falam que você não é. Eu tenho pessoas ao meu lado, que me ajudam a dizer isso também, que me dão suporte. Aprendi a receber esse carinho, esse amor, esse empoderamento, para que eu possa viver tudo o que eu sou na minha potência máxima”.

Reação do filho

Essa mesma atitude de amor próprio e aceitação Aline também tenta passar para o filho, que também tem os cabelinhos cacheados. Aos três anos, Caramelo, como é chamado pelos pais, é pura fofura com seus fios enroladinhos e dourados e, segundo a mamãe-coruja, nunca se incomodou com seu visual.

“O Antônio nunca teve uma crise de aceitação, mas não gosta muito de pentear o cabelo cacheado porque dói às vezes. Acredito que, para ele, vai ser um processo muito mais natural e orgânico. Eu estou passando por esse processo agora, exatamente porque dentro da nossa casa a gente vive com muita clareza e muito respeito com a individualidade do outro”, conta Aline.

Por viver na pele o difícil momento de autoconhecimento, a cantora espera que seu pequeno não sofra com a mesma questão. “Eu quero que o Antônio se ame de verdade. Eu cuido do cabelo dele com muito amor e carinho, porque é um cabelo mais difícil de pentear. Por isso, respeito o tempo dele. Nós, os pais, somos exemplos para ele e hoje há referências de que o cabelo dele é bonito e ele pode ter o cabelo desse jeito. Espero que a nossa sociedade continue nesse caminho de aceitação de que cada indivíduo tem sua beleza e que somos seres únicos. Espero que ele veja, daqui uns anos, isso cada vez mais sendo real”, diz.

Retorno do Rouge

Coincidência ou não, pouco depois de assumir o novo visual, Aline voltou plena aos holofotes com o anúncio da tão esperada reunião do Rouge. 12 anos depois de seguirem caminhos diferentes, as integrantes se reencontraram para uma série de shows por Rio de Janeiro e São Paulo, que teve todos os ingressos esgotados rapidamente.

Aline conta que não sabe se a volta do grupo será definitiva, mas uma coisa é certa: ela ainda tem muitos planos para sua vida profissional e pessoal – inclusive, ela pretende continuar com os vídeos em seu canal, contando suas experiências diárias que podem servir de exemplo e ajudar para outras pessoas. Assim como fez sobre seu processo de transição capilar.

“A minha história de vida é uma história da qual tenho muito orgulho. Venho de uma família muito humilde, eu trabalhava como empregada em uma casa de família até poucos meses antes de entrar no Rouge. Através da minha crença de que eu poderia realizar aquilo que eu quisesse, eu cheguei até aqui. Sou uma pessoa muito realizada, muito feliz, tenho uma família abençoada e todos os dias eu vejo que eu posso conseguir mais. Sinto que a minha história pode servir de exemplo. Eu sei de onde eu vim e quem eu sou. Espero ser uma inspiração positiva para outras pessoas”. E está sendo, Aline.

Histórias de transição capilar

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