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Ela superou preconceito e até abusos de um namorado: "Gorda pra mim é só um adjetivo"

Publicado 14 Set 2017 – 08:00 AM EDT | Atualizado 2 Abr 2018 – 09:32 AM EDT
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Bem-resolvida e realizada profissionalmente. É assim que Renata Poskus, de 35 anos, se define. A paulistana é jornalista e empresária, dona de mais de cinco negócios voltados ao segmento plus size.

“Reconheço que atualmente sou um dos maiores nomes na minha área. Tenho muito amor pelo que faço e sei o quanto é importante para inspirar outras mulheres. Hoje a palavra 'gorda' para mim é apenas um adjetivo como outro qualquer”, diz.

Quem vê sua autoconfiança, não imagina o que ela já passou antes de entender que ser gorda é apenas uma dentre suas características, e que seus 95 kg seriam tão importantes em seu futuro brilhante.

Preconceito destruidor de sonhos

Quando criança Renata era uma garota ativa e sua maior paixão era o balé clássico. Entretanto, viu seu sonho de ser tornar bailarina profissional desmoronar com a chegada da puberdade.

Desde os 12 anos, sua própria mãe a induzia a fazer dietas, pois temia que a filha se tornasse obesa, assim como ela. Aos 17 anos foi impedida de se formar como bailarina: os professores disseram que, com 1,72 cm de altura e 60 kg, ela era gorda demais para dançar.

“Como passei a desenvolver seios e quadril, falaram que eu tinha que emagrecer para ficar apta. O avaliador da banca final disse que quando eu fazia espacate minha barriga pulava para fora. Eu fiz o movimento inteiro, completo, mas a minha barriga incomodou”, diz.

Esse terror psicológico fez com que Renata abandonasse todo e qualquer tipo de esporte, se tornando uma pessoa sedentária e depressiva, o que fez ela ganhar mais peso com o passar do tempo.

“Eu não era gorda, mas colocaram isso de uma forma tão forte na minha cabeça, que eu acreditei que minha vida estava acabada", lamenta.

A busca por uns quilos a menos virou um vício. Renata fazia dietas malucas, ingeria medicamentos proibidos, fazia exercícios físicos em excesso, mas para cada quilo perdido, ela engordava o dobro.

“Passava muito mal no trabalho. Quando era bancária já teve diferença de caixa de R$ 600, porque eu não conseguia digitar no computador. Sofria com muitas dores na coluna e até me consultava com médicos conceituados, mas eu só ouvia que estava gorda e que precisava emagrecer”, relata.

Atualmente com 22 kg a mais que naquela época, Renata não sente dor alguma. Ela descobriu que o motivo das suas dores eram seus hábitos malucos, e que o que ela precisava era apenas diminuir o ritmo.

Quando ingressou na faculdade de jornalismo passou a ter um novo sonho: desejava ser apresentadora de TV. Só que durante as aulas, o preconceito falava alto. “Sempre davam esta função para a menina magra. A professora dizia que ela tinha mais perfil e só depois de ameaçar levar o caso à direção, eu consegui ser apresentadora em uma atividade”.

Alguns anos depois da própria faculdade dizer que ela não havia nascido para ser jornalista, Renata provou o contrário: por dois anos foi apresentadora de TV em canal aberto, possui um blog de sucesso e, dentre seus trabalhos mais recentes, está uma coluna de sexo em revista masculina.

Relato de relacionamento abusivo 

Até os 24 anos, Renata nunca havia namorado. Ela acreditava não ser boa o suficiente para alguém: “Me achava indigna de ser feliz por ser gorda, olha a minha cabeça!”, diz em tom de espanto.

Quando conseguiu se relacionar com uma pessoa, em vez de somar coisas boas à sua vida, seu namorado reclamava e a ofendia sobre seu peso, fazendo com que ela se sentisse ainda mais inferior.

“Eu ficava de biquíni e ele se afastava de mim. Quando estávamos em grupo, inventava motivos para não ficar perto, me comparava à ex-namorada dele, comprava composto emagrecedor para eu tomar e, mesmo quando eu estava cansada, me forçava a caminhar porque, para ele, eu tinha que emagrecer. No fundo, ele também era um cara sem autoestima e queria se sentir superior de alguma forma, mas eu não percebia isso”, recorda.

Após três anos do que Renata reconhece ser um relacionamento abusivo, o namorado decidiu terminar com ela, mas “abandoná-la” seria a melhor coisa que ele poderia ter feito.

Nasce uma mulher de negócios

Na época, aos 27 anos, Renata percebeu que não tinha fotos sozinha e, por acreditar em uma reconciliação, decidiu fazer fotos sensuais que também ajudariam sua autoestima.

“Eu via nele a minha salvação, porque na minha cabeça, ninguém mais ia me querer. Eu só tirava fotos me escondendo atrás dele para não mostrar as minhas gorduras”, diz.

Renata já escrevia o blog Mulherão, atualmente o maior do segmento plus size, que naquela época era apenas um diário das suas tentativas frustradas de emagrecimento. Como não tinha dinheiro para fazer o ensaio fotográfico que queria, ela decidiu usar sua expertise em mídia. E bombou!

Dezenas de mulheres acima do peso queriam ser clicadas ao lado de Renata, então elas acabaram fazendo as fotos em um evento que reuniu diversos veículos da imprensa. O resultado? Todas foram capa de um grande jornal, em 2009, e Renata viu nesta ação uma oportunidade de negócio.

“Naquela época ninguém falava disso no Brasil. Era sempre a gorda querendo emagrecer e não a gorda querendo aparecer. A ideia funcionou também porque várias meninas gordinhas queriam fazer fotos em um ambiente onde se sentissem representadas”, diz saudosa.

A partir deste dia ela criou o Dia de Modelo Plus Size, uma ação fixa que viaja o país inteiro, produzindo ensaios pessoais e profissionais. Apenas seis meses depois, ela também trouxe para o Brasil o Fashion Weekend Plus Size, maior evento de moda plus size do país, que já está na 16ª edição.

“Aquele primeiro ensaio mudou a forma de me olhar. Vi mulheres de manequim 60 super bem-resolvidas e eu, que vestia 44, tinha vergonha de mim. Logo questionei: por que eu me odeio? Durante 27 anos tentei emagrecer para ser feliz, agora seria feliz como eu sou. E eu levei isso muito a sério, acabei engordando mais, mas tudo bem!”, diz às gargalhadas.

De bem com o espelho e com ela mesma

Feliz com suas curvas, Renata teve um novo relacionamento de cinco anos com outro rapaz, que também não deu certo. Mas o motivo do término não foram seus quilinhos a mais.

“Essa outra pessoa me provou que posso ser valorizada como mulher. Se antes eu ficava com vergonha e transava de luz apagada, agora eu mesma acendo a luz e não aceito mais homem escroto na minha vida. Se hoje um namorado me pedir para emagrecer eu vou largá-lo, e não entrar em uma dieta”, diz.

Atualmente Renata está solteira, curtindo os momentos que não teve durante a juventude e diz que se arrepende de uma única coisa: “Gostaria de não ter desistido dos meus sonhos, porque me falaram que eu era gorda demais para eles. A minha maior preocupação era a rejeição, e agora atraio as pessoas porque sou feliz e bem-resolvida”.

Entretanto, Renata afirma que ainda é vítima do preconceito e acredita que ele só acabará quando todos souberem reagir às manifestações negativas de forma empoderada.

“Ainda sou classificada como uma subcategoria de mulher e profissional. Acham que o gordo é 'café com leite', mas o que importa não é a forma como as pessoas me veem e, sim, como eu reajo a isso. Não faço apologia à obesidade, mas se um dia eu quiser emagrecer, será por vontade própria e não para agradar aos outros", finaliza.

Mulheres que venceram o preconceito

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