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Filha de Solange Couto revela ter sofrido abuso duas vezes: "Vivo uma luta diária"

Publicado 28 Out 2016 – 01:52 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Ao lado de Solange Couto, Morena Mariah, de 25 anos, filha do meio da atriz, revelou recentemente em entrevista ao jornal Extra que já foi vítima de dois abusos, um na infância e outro na vida adulta.

Os dois casos evidenciam algumas das características mais marcantes dos casos de estupro no Brasil e nos fazem refletir.

Abuso e estupro de mulheres

De acordo com o Fórum de Segurança Pública de 2014, mais de 470 mil mulheres são estupradas por ano. Como a denúncia na imensa maioria dos casos não é efetivada, calcula-se que este número possa ser até dez vezes maior. Dos casos com mulheres adultas, 59% das vítimas conhecem o abusador.

Abuso sexual de crianças

Quando o crime é com crianças, esse número sobe ainda mais. De acordo com pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, em 88% dos casos de abuso infantil, o abusador convive com a criança no círculo familiar ou social próximo.

Abuso e estupro da filha de Solange Couto

Os episódios que aconteceram com a filha da atriz são apenas mais exemplos dessa triste realidade. Morena só contou a mãe sobre os dois abusos sexuais há quatro anos. O primeiro, no entanto, aconteceu quando ela era ainda uma criança de 11 anos.

Como mãe e filha contam em entrevista, durante um trabalho de Solange em outro Estado, Morena ficou sob os cuidados de um familiar próximo. Foi neste momento que os abusos aconteceram. “Durante esse tempo em que ele ficou responsável por mim, ocorreram os episódios de abuso. Ele morava comigo na minha casa”, relatou a jovem ao Extra.

O caso mais recente foi causado pelo namorado, que a estuprou enquanto ela dormia depois de ter bebido. “Demorei algum tempo pra entender o que tinha acontecido. Eu estava desacordada. E mesmo após o ocorrido, ele tentou fazer piada do fato de ter feito aquilo. E como era uma pessoa de minha total confiança, eu tentei esquecer o assunto. Eu demorei muitos anos pra conseguir falar sobre isso. Só já adulta eu consegui falar. (…) Sexo sem consentimento é estupro. Mesmo que o sujeito que faça isso seja cônjuge”, reforçou Morena.

Quem é a vítima dos abusos e estupros?

Infelizmente, os dois episódios narrados por Morena evidenciam os números que já temos sobre estupro no Brasil e escancaram a vulnerabilidade da mulher e das crianças na nossa sociedade.

Quem são os criminosos?

As crianças do sexo feminino e as mulheres são a imensa maioria das vítimas de abuso e estupro e os criminosos, diferentemente do que o imaginário popular insiste em reforçar, não são homens desconhecidos que atacam em lugares ermos. Ele é conhecido da vítima e sua família e muitas vezes está dentro de casa. “As pessoas acreditam que estupro só acontece na rua, com um estranho que se aproxima numa rua escura. E não é assim. Passei por dois episódios de abuso e nenhum dos dois foi com pessoas desconhecidas”, contou a jovem.

Ainda sobre os casos, a atriz da Globo diz ter muita raiva, mas, ao mesmo tempo, se sentir de mãos amarradas, pois quando a jovem criou coragem para relatar os ocorridos, já era maior de idade e não quis denunciar. “Me sinto amarrada, de pés e mãos. Não posso chegar na cara da pessoa e dar um murro, nem apontar o dedo na cara e esculachar. Não posso nada porque nada foi dito, nada foi aclarado, e ela não quer denunciar, tem medo”, comentou a mãe.

Superação do estupro: falar sobre isso

As vítimas, além de muitas vezes demorarem a compreender que foram vítimas, encontram formas diferentes de digestão da situação. Para algumas, falar sobre o assunto ajuda no processo de superação. “Vivo uma luta diária. Luto contra uma depressão que foi desencadeada depois disso. Procurei pessoas que passaram pela mesma coisa, conversei com muita gente ligada ao feminismo e finalmente fui entendendo que a culpa não era minha. O estupro causa um estrago muito grande dentro da gente porque as pessoas colocam a culpa sempre na vítima. Querem saber com que roupa você estava, se você havia bebido, como se qualquer uma dessas coisas pudessem justificar um estupro. Foi muito doloroso pra mim, mas a gente não tem do que se envergonhar e não pode se calar”, colocou Morena.

Denúncia de abuso sexual e estupro

Para outras, no entanto, um dos caminhos é também a denúncia. Embora seja essencial fazê-la, o problema, neste caso, é que as delegacias ainda não estão prontas para acolher as mulheres. O atendimento, além de ser falho, muitas vezes ainda tende a culpabilizar a mulher pelo ocorrido. “Se não mudarmos o comportamento da Justiça, vamos continuar afastando essas mulheres e vamos cada vez mais perder vítimas”, mostra a promotora Gabriela Mansur, coordenadora do Núcleo de Combate à Violência Doméstica do Ministério Público de São Paulo.

No entanto, a denúncia, mesmo que em condições não ideais, é um dos caminhos para que possamos combater este problema e cobrar das autoridades ações em políticas públicas de segurança para as mulheres.

Denuncia de abuso na infância depois de adulto

De acordo com o advogado criminalista Gabriel Huberman Tyles, mesmo quando acontece na infância, é possível depois de adulto denunciar um abuso. No entanto, há um prazo para que o crime prescreva e deixe de haver punição. “Tudo depende do crime cometido e qual seria a pena aplicada. Se o crime tiver pena prevista superior a 12 anos, ele prescreve em 20 anos”, explica.

Já  provar que uma criança sofreu um abuso depois de adulto é uma das maiores dificuldades desses casos. Isto porque, além de muitas vezes não haver testemunhas, não é possível realizar nenhum tipo de exame físico. "É muito difícil, mas é possível. Existe também um outro tipo de prova, que é a prova por indícios. Acontece se uma gama de pessoas presta queixa contra uma mesma pessoa, se tornando uma evidência de que o acusado pode mesmo ser culpado", mostra o advogado.

Diferentemente dos estupros acontecidos na vida adulta que, caso a mulher decida denunciar devem se destinados a uma Delegacia da Mulher, a denúncia de crimes cometidos no passado devem contar com o auxílio de um advogado ou defensor público. O número 100, do Disque Direitos Humanos, também pode ser um caminho para obter maiores informações.

Casos de abuso e estupro

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